Crítica | Streaming e VoD

A Mãe do Ano

Igual, mas diferente

(Dzien Matki , POL, 2023)
Nota  
  • Gênero: Policial
  • Direção: Mateusz Rakowicz
  • Roteiro: Lukasz M. Maciejewski, Mateusz Rakowicz
  • Elenco: Agnieszka Grochowska, Adrian Delikta, Dariusz Chojnacki, Szymon Wróblewski, Ewa Rodart, Dorota Kolak
  • Duração: 90 minutos

Há de se aplaudir a cara de pau da Netflix. Duas semanas depois de lançar o sucesso A Mãe, eles lançam não apenas outro filme com a palavra no título, A Mãe do Ano, mas com uma premissa que se assemelha muito, para dizer o mínimo. Nos dois filmes o ponto de partida se repete: uma profissional da violência, trabalhando para o governo, é dada como morta e vive à margem da sociedade, sabendo que um filho seu vive adotado por outra família, até que essa criança é sequestrada para que ela reapareça. Não é possível que não tenha sido percebido, mas não apenas passaram por cima, como acertaram na pedida, já que ambos são sucessos, um na cola do outro. E o espectador ainda ganhou um filme ainda melhor que o título protagonizado por Jennifer Lopez.

Ainda que a ação propriamente dita do filme remeta ao já mítico John Wick, essa largada é muito idêntica ao filme que acabou de estrear – inclusive um tirou o outro do primeiro lugar de audiência. Mas toda a organicidade que leva A Mãe do Ano ser elevado, é a sua vocação para o cinema de gênero mais explícito, enquanto geralmente essa história prega uma ideia que leva mais para o drama policial. Aqui, não há muito tempo para a protagonista Nina sofrer pelo que aconteceu, porque ela tá muito ocupada chutando, quebrando, atirando e esfaqueando, com objetos múltiplos incluindo legumes. Não tem tempo para lágrima, ou para sofrer pelo passado, os personagens precisam agir no hoje e tentar reverter o caos. 

O cineasta Mateusz Rakowicz já tinha entregue ano passado O Rei das Fugas com relativo sucesso, mas esse é ainda mais ambicioso e mais bem sucedido também, em estabelecer ligações com o espectador e em entregar de volta as pretensões que deseja. Para o público médio que o streaming atende, A Mãe do Ano cai perfeitamente como uma diversão ligeira; para uma análise mais formal de suas intenções, a produção foge à regra da mise-en-scene padrão de mais um longa sob encomenda. Não digo especificamente a respeito dos planos-sequência que o filme apresenta, vez por outra, mas pela rebuscada fotografia que apresenta a cada novo “episódio” catártico. Isso é uma marca registrada da produção por toda a duração, mas em momentos específicos tais resultados saltam da tela. 

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Em momentos como a da ação entre dois andares percebemos que Rakowicz não queria apenas entreter o espectador e passar adiante; em um tempo onde é fácil se destacar com uma narrativa repetitiva, onde apenas a decupagem dos planos-chave bastam para um diferencial, A Mãe do Ano cobiça além. Em consonância com os departamentos de efeitos especiais e de fotografia, a direção elabora mais do que esses ‘set pieces’, mas muitas de suas zonas de passagem, de detalhes por trás de cada setor. É a movimentação dos corpos ao redor, o cruzamento de câmeras, e a própria iluminação em si que enchem os olhos e denotam um cuidado que não é servido constantemente, a não ser em produtos de cineastas cuja preocupação é essa, como Jaume Collet-Serra e Chad Stahelski. 

São giros de 360o das câmeras em torno de lutas que começam e terminam sob o signo do caos, com latas de cerveja usadas como armas letais, movimentos que nunca poderíamos imaginar sendo feitos com cenouras, e isso tudo com um grau de violência até moderado. Mesmo uma cena de acidente automobilístico, desses que qualquer filme nos oferece, tem camadas a mais, porque a sequência não cessa com o desastre em si, mas sim continua de maneira ainda mais vertiginosa. Apesar dos problemas, A Mãe do Ano é um daqueles pedaços de entretenimento que nos trazem uma empolgação genuína já pelo que foi tentado, independente de alcançar resultados mirabolantes. E acreditem, eles muitas vezes são conseguidos.

Toda a confusa história, que gira em torno de gangues, associadas a outras gangues, associadas a outras gangues, associadas ao governo, associadas à polícia, não importam muito desde a apresentação, quando são narrados os líderes de cada uma e nenhuma delas difere muito entre si. O fato de A Mãe do Ano não se prender a concluir as elaborações de cada um desses lugares, liberta o público para não teorizar muito a respeito do que está sendo servido em matéria de roteiro. Quando o filme decide deixar claro que seu interesse é reencontrar todas essas pessoas o mais breve possível, aí é que tudo fica ainda mais livre para que possamos interpretar muito mais o que sentimos do que a trama quis passar. É relaxar e deixar vir mais um dos muito bem elaborados momentos de ação que as aventuras de Nina não cessam em oferecer.

Um grande momento

Muitos, mas fico com a luz dos sinalizadores

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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1 Comentário
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Alexandre Figueiredo
Alexandre Figueiredo
29/06/2023 20:31

Mesmo depois do filme com Jennifer Lopez, este segura as pontas e entrega um bom entretenimento.

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