- Gênero: Drama
- Direção: Luis Alejandro Yero
- Roteiro: Luis Alejandro Yero
- Elenco: Daryl Acuña, Eldis Botta, Juan Carlos Calderón, Daniel Diaz
- Duração: 66 minutos
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Cuba e Rússia são mais parecidas do que gostariam de ser, e em determinado momento de Llamadas desde Moscú um dos protagonistas diz: “Cuba é o Hawaii da Rússia”. Talvez seja mesmo, conhecendo a realidade que o filme escancara. Não é bem uma constatação feliz que se faça, de parte a parte; ambos são países que, para pegar apenas a ideia base desse filme, massacra a vida da população LGBTQIAPN+, sem espaço para descanso. Ainda que sejamos um grupo constantemente vilipendiado, é difícil traçar um paralelo com o que acontece nesses dois países. E são personagens ‘queer’ justamente os que povoam a narrativa em cena, que costura ficção e realidade de maneira tão astuta que nos cabe procurar onde começa uma e termina outra.
O dispositivo é simples – talvez até simples demais, no caso que caberia em um curta metragem. Homens cubanos gays trabalham em Moscou, e foram até esse lugar tão distante em busca do dinheiro que não conseguem amealhar em seu país de origem. Uma vida em lugar tão avesso de clima e afetuosidade como a Rússia cobra seu preço, e o que vemos é a constância de um cordão umbilical que não é cortado. Todos estão em contato com sua pátria através de chamadas de vídeo ou voz para afetos locais, e disponibilizam ao espectador sua melancolia, sua rotina e algo de sua trajetória através dessas ligações. Apesar da curtíssima duração de Llamadas desde Moscú, muito rapidamente a mensagem é passada e nada do que vemos a seguir muda o quadro.
Talvez sejamos intensificados por ainda mais doses cavalares de solidão, ou da certeza de que não se trata apenas da necessidade material, mas a emocional também as levou até ali. E a ironia é justamente ser esse o lugar escolhido, com tantas semelhanças em suas repressões; ou seja, nunca estamos longe de casa, psicologicamente. Llamadas desde Moscú é um retrato sobre uma espera que se apresenta como tal já na abertura, quando um dos protagonistas precisa entregar a chave do apartamento em comum a todos, e precisa aguardar o tempo certo para tal ação. Estão todos esses personagens no mesmo processo de uma fila interminável para provar a validade de seus sentimentos e de suas realizações, e enquanto isso desabafam.
Não há dúvida de que, cada qual ao seu modo, o diretor Luis Alejandro Yero escolheu um grupo heterogêneo e muito interessante, e os momentos registrados são, no geral, muito bons, principalmente no que é construído em áudio, principalmente. A montagem que ele realiza desses momentos, e a forma como ele encalacra seus personagens em lugares que parecem diminuir suas possibilidades afetivas, são igualmente decisões muito acertadas para o projeto. Mas, como já dito, ficamos por pouco mais de uma hora em Llamadas desde Moscú acompanhando seus atores, e tudo o que encaramos está acrescido apenas da contínua impressão de que estão todos cada vez mais sozinhos, em escolhas que não fazem sentido ou que demonstram seu erro a cada nova passagem.
Nesse sentido, o que é compreendido em Llamadas desde Moscú não faz jus a sua duração, porque ela é assimilada ainda mais rápido do que o encenado. O que vem a seguir é só a reiteração do que já vimos e que já nos foi devidamente experimentado pelo que está sendo filmado. O que fica claro é uma repetição estética que consegue fazer diferença em poucos momentos. Nesses tais, o filme cresce e se justifica, para além de uma mensagem que também é apreendida mais rápido do que se imagina. Mas, ao largo desses momentos, fica um sentimento de estar observando mais uma vez algo que a cena seguinte já deixou claro, quase como se estivéssemos acompanhando um catálogo (até de moda, porque não?) de cenas repetidas, e mais e mais.
Um grande momento
Eldis desabafa, enquanto um caminhão encontra problemas