- Gênero: Comédia, Drama
- Direção: David Yates
- Roteiro: Wells Tower
- Elenco: Emily Blunt, Chris Evans, Andy Garcia, Catherine O'Hara, Chloe Coleman, Brian d'Arcy James, Jay Duplass, Amit Shah
- Duração: 115 minutos
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Assistir a um filme com poucos dias de lançado, e não na exata data, pode fazer o site que escrevemos não ter a mesma resposta padrão ao que esperamos de resultados de acessos, mas também pode colocar quem escreve em outro lugar de percepção. Máfia da Dor estreou há mais de uma semana, e bastante coisa já foi escrita sobre ele; não li nada, mas os comentários tiveram pendência ao negativo na maior parte dos casos. Vendo com tal distanciamento, me parece um exagero cobrir de críticas um filme leve que conta com uma estrutura já reconhecida de ‘inspirados em fatos reais’ sobre casos absurdos sobre a cultura estadunidense de exploração e ganância de empresas interessadas exclusivamente no lucro. O que é visto aqui não é exatamente original no molde, mas nem por isso é exatamente ruim.
Sem a aura documental que Steven Soderbergh tentou dar a Erin Brockovich, o filme conta a história de uma mulher que a vida segregou ao pior possível de oportunidades, mas que encontrou em uma experiência inusitada (e lucrativa) dentro de uma área muito maior do que suas capacidades formais permitiriam. Não, a personagem de Emily Blunt aqui não é uma alma boa como foi a personagem real incorporada por Julia Roberts; provavelmente inclusive essa moça deveria ter mais culpa no cartório – e menos remorso – do que o filme retrata. Mas não estamos tratando de um documentário de verdade, e sim de um grupo de pessoas romantizadas para efeitos dramáticos, o que permite essa moldura repetitiva que o título tem.
David Yates, o pau para toda obra da série Harry Potter e seu derivado Animais Fantásticos mas que fora isso não consegue dar uma bola dentro (alguém lembra do A Lenda de Tarzan dele?), está tentando mais uma vez aqui. Máfia da Dor é uma nova empreitada do moço, que não tenta realizar algo muito espetacular não. É uma condução mediana, com uma montagem que tentar parecer fazer algo de mais criativo na linha de um A Grande Aposta da vida, mas que Yates só demonstra ter assistido aos filmes certos para reproduzir o que conhece aqui. O resultado é uma produção digna, mas que não foi criada especialmente para chamar atenção, vide que esse é um filme que todo ano têm aparecido em bandos; se não merece a humilhação pública, também está longe de poder ser exaltado.
Vide o personagem de Andy Garcia, o tal chefão. Seu desenvolvimento o enche de lacunas e o filme não sabe muito bem como tratá-lo; na dúvida, optam por todas as opções, sem distinção. Ora um ingênuo, ora um porco ganancioso, ora um velhinho doente, Máfia da Dor opta por tudo. Essa talvez seja uma marca da produção, que não se permite errar em ponto algum, e com isso acaba acessando diversas saídas diferentes, até que alguma delas surta efeito. São opções seguras, que permitem que o filme não avance muito em direção a lugar nenhum, nem no sentido estético ou em esquema narrativo. Um formato que funciona e pode levar o maior número de espectadores possível a simpatizar com uma nova “droga” netflixiana, ainda que seja um placebo.
É o prazer de acompanhar uma história bem contada, no esquema arroz com feijão, e um elenco claramente se divertindo em cena, que conta pontos a favor de Máfia da Dor. O que não dá é pra esperar que, mesmo seus astros, estejam em lugares desafiadores, quando justamente eles parecem ter sido escalados por uma inteligência artificial, dado o lugar acertado onde cada um está. Chris Evans é o típico malandro divertido, que já o vimos fazer antes; Catherine O’Hara faz a mulher extravagante e com os pés tanto no trambique quanto na carência; Blunt tem a mesma mistura de esperteza com coração bom que o cinema já mostrou. Mas funciona, porque é um passatempo gostoso, ambientado em cenários e figurinos bonitos (ou vistosos) contando mais uma história que merece ser mais conhecida.
Existe apenas uma questão que incomoda na existência de Máfia da Dor para o mercado, como um todo. Aguentamos ainda mais quantos títulos que se inspiraram no que Adam Mckay vem fazendo? Essas obras meio engraçadas e meio denunciantes, sobre universos muito complexos mas cujo humor e despretensão liberam o espectador para não entender algumas coisas e tá tudo bem, vamos rir disso também… sinto que esse esquema já se esticou demais. Ainda há simpatia, e com o elenco certo, você ainda consegue fazer milagres, mas não deveria estar sendo utilizado apenas no esquema ctrl C ctrl V que o cinema gosta de reproduzir.
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