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Bar Doce Lar

Desperdício de tempo

(The Tender Bar, EUA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: George Clooney
  • Roteiro: William Monahan
  • Elenco: Ben Affleck, Tye Sheridan, Daniel Ranieri, Lily Rabe, Christopher Lloyd, Max Martini, Rhenzy Feliz, Briana Middleton
  • Duração: 106 minutos

Um jovem aspirante a artista – no caso, escritor – revê sua trajetória pessoal e familiar enquanto tenta iniciar a jornada que o definirá: essa não é necessariamente um tratamento inédito que iremos acompanhar em um longa metragem. Bar Doce Lar, novo filme dirigido pelo multi-artista George Clooney, estreia na Amazon Prime Video sem conseguir elaborar um ponto de partida que o diferencie de inúmeras produções lançadas a toque de caixa no mercado desde que o cinema foi criado. Aqui e ali esses títulos conseguem uma diferenciação de seus pares, mas apesar de todos os talentos envolvidos na frente e atrás das câmeras, não é o que acontece aqui.

Se em algum momento as memórias de J.R. Moehringer foi uma excelente novela, que poderia render uma adaptação cinematográfica de primeira, essa verdade ficou bem longe da versão que está sendo servida ao espectador, sendo traduzida com pouco carisma geral ou com algum detalhe que a torne especial. Em tudo que se propõe, o título soa como genérico, uma repetição de uma fórmula sem qualquer intenção de parecer relevante; em momento de concorrência pesada para a atenção do cinéfilo, produzir um filme banal é inexplicável. Muito rapidamente nos damos conta de que nosso tempo está sendo consumido por um produto sem ambições ou detalhes que o tornem essencial.

Bar Doce Lar
Amazon Prime Video

Em determinado momento, Bar Doce Lar, que se passa entre as décadas de 70 e 80, tenta reencontrar personalidade em umas inserções de super closes em situações específicas, mas nem o filme consegue criar uma unidade para o efeito, nem uma resposta clara para tal movimentação é apresentada, por suas escolhas narrativas. Na ânsia de tentar produzir um diferencial em cena, Clooney parece não saber como dar textura estética ao seu filme, parecendo à deriva de um roteiro que não consegue criar empatia para com seus personagens e tipos, que seguem sem rumo. Ainda que um certo desleixo já vinha sendo sentido nas escolhas autorais do diretor, aqui a opção acabou por ser a apatia.

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Para piorar o estado das coisas, a adaptação de William Monahan (onde foi parar o roteirista vencedor do Oscar por Os Infiltrados?) incorre naquelas decisões geralmente tomadas em conjunto, que é saltar blocos narrativos até deixar tudo muito desmembrado e absolutamente sem sentido. A fauna de personagens que circula o protagonista desaparece sem qualquer menção à morte – na verdade, estão todos bem vivos, só foram apagados mesmo – o que nos faz recordar de longas como O Lado Bom da Vida, que apresentam grandes grupos de tipos familiares e se atém a todos até o fim, enquanto aqui sua literal importância é desintegrada até restar comentários vazios; ‘seu avô está bem’, e é isso.

Bar Doce Lar
Amazon Prime Video

Bar Doce Lar insere um andamento de transcendência a alguns temas e personagens que acabam em um mesmo lugar comum de desconsideração que fica difícil comprar o título como um todo. O romance do protagonista é tão inconsequente, as camadas que ele insere são tão anódinas, é uma relação tão carente de explicação quando poderia ter suscitado inúmeros debates para além de sua inconstância, que não nos importamos com seu quadro final. Na verdade, nem o tomo mais interessante e dedicado da produção – a relação entre o protagonista e seu tio – consegue se equilibrar, chegando ao cúmulo de claramente posicionar um direcionamento para esse companheirismo, mas como tudo no filme, a solução não é tematizada, mas apenas arremessada em tela.

O elenco talentoso não consegue ter destaque em uma produção com tantos personagens formidáveis, incorrendo em mais uma desarmonia do título. O tio Charlie vivido com carisma transbordante por Ben Affleck é a única fonte de luz de uma produção dedicada a se auto sabotar, deliberadamente. Ainda que a história ordinária em que o filme se insere não conseguisse criar aproximação, o fato do filme não conseguir valorizar nada do que dispõem para si e prejudicar tudo que poderia ser qualitativo no faz perguntar onde foi parar o cineasta responsável por Boa Noite, e Boa Sorte, desaparecido há tempos. Mas se um filme como O Céu da Meia-Noite incomoda pelos erros, Bar Doce Lar é um caso ainda mais grave, de absoluta falta de tentativa, literalmente perdendo a luta por falta de combatividade.

Um grande momento
JR e JR

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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