Crítica | Streaming e VoD

Mergulhando no Amor

Cansaço no paraíso

(Find me Falling, EUA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Comédia Romântica
  • Direção: Stelana Kliris
  • Roteiro: Stelana Kliris
  • Elenco: Harry Connick Jr., Agni Scott, Ali Fumiko Whitney, Tony Demetriou, Lea Maleni, Aggeliki Filippidou, Athina Roditou, Clarence Smith
  • Duração: 88 minutos

De vez em sempre, a Netflix lança um desses filmes para compor catálogo, sem muito capricho narrativo. O problema principal nem é esse, mas sim o fato de que mesmo dentro do universo Netflix, esse filme é de uma repetição de questões e valores e temas, que o torna obsoleto no momento onde se encerra. Minto, antes da metade já conseguimos perceber que nada ali é novo ou relevante. Se a ideia for apenas conquistar o primeiro lugar do streaming por uma semana, e depois de um mês ninguém mais lembrar do título, o ponto está feito. Difícil deve ser convencer os produtores e atores de Mergulhando no Amor de que eles acabaram de entregar algo dessa natureza; o contracheque deve ser o único agradecimento mais profundo. 

O filme é escrito e dirigido por Stelana Kliris, e é a primeira produção rodada no Chipre a estrear no streaming. Digo rodada porque o país não é considerado um co-produtor do filme ainda que seja 99% ambientado lá, tenha inúmeros diálogos em grego, o elenco seja local em sua maioria e sua diretora seja igualmente de lá (parte sul-africana também). Ou seja, Mergulhando no Amor é cipriota ao menos de coração, se não é oficial, e a atmosfera local acabe também sendo exalada pelo filme. Esse é o grande trunfo do sucesso atual da Netflix (e que não difere do que eles já conseguiram com outros cenários inusitados para o mundo globalizado), mostrar uma paisagem paradisíaca e longe do hábito do espectador, e acaba lhe fazendo jus. 

A trama não poderia ser mais vista anteriormente. Um astro do rock vê seu último álbum naufragar de vendas e repercussão, e quando o filme começa ele já está refugiado nessa ilha inacreditável. O problema do plot inicial não é explorado com a qualidade que poderia e deveria, que é o fato dele ter comprado sua casa exatamente num penhasco conhecido por atrair suicidas do mundo todo. Era esse filme que eu gostaria de assistir, uma bizarrice tragicômica sobre um homem que precisa assistir suicídios ou convencer as pessoas a não fazê-lo. Ao invés disso, Mergulhando no Amor nos engana para mostrar mais uma comédia romântica sobre amores do passado e paternidade tardia, saindo de uma situação curiosa para chegar até o lugar comum habitual. 

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Harry Connick Jr. é um ponto que talvez gere algum outro interesse. Nos anos 90, o cantor era tratado como “o próximo Frank Sinatra”, mas nunca sequer arranhou ‘The Voice’. Em meio a sua agenda de cantor, começou a ser percebido como um possível galã – e sua escalação em Hollywood não demorou. Só que ele chamou a atenção mesmo foi em Copycat, como um asqueroso possível serial killer, e ficou claro que ele não queria sossego na empreitada paralela. Ainda assim, não houve talento suficiente (ou empenho suficiente) para que Connick avançasse, e cá estamos assistindo sua conta ser recheada com um dinheiro fácil para filmar no paraíso em Mergulhando no Amor, que não fará nada por nenhuma de suas carreiras. 

Não há uma sombra sequer de sabor diferenciado aqui, apesar dos pontos levantados. É um grande esquema ultrapassado para vender uma produção que não quer motivar o espectador a nada além de apertar o botão do play. Muitas vezes, essas movimentações da Netflix cansam ao extremo, e consigo dar razão aos detratores que se questionam pela validade do que é produzido. Não demora para que sejam lançados filmes melhores – e alguns, muito piores. Mas sigo repetindo que nada para mim consegue ser pior do que um filme como Mergulhando no Amor, aquela produção que não tem qualquer pretensão. Apenas foi realizada e está disponível para ser assistida, e fico me perguntando se é isso que se entende como material para diversão. 

Um grande momento
A primeira cena – que prometia um filme curioso, ao menos

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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