Crítica | CinemaDestaque

Meu Filho, Nosso Mundo

Busca familiar

(Ezra, EUA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Tony Goldwyn
  • Roteiro: Tony Spiridakis
  • Elenco: Bobby Canavale, Rose Byrne, Robert DeNiro, William Fitzgerald, Rainn Wilson, Whoopi Goldberg, Vera Farmiga, Tony Goldwin
  • Duração: 100 minutos

Esqueça o título em português provavelmente extraído de alguma novela de rádio dos anos 40; Meu Filho, Nosso Mundo, ou melhor Ezra no original, é um drama familiar com toques de humor cuja característica principal até poderia ser a condição de seu personagem-título, o autismo. No entanto, por trás desse mote tratado de forma sensível, existe uma vontade genuína de observar uma cultura masculina de falta de emancipação emocional, que ainda hoje gera homens dependentes de seus próprios defeitos. Como se fosse impossível pensar em uma escapatória para “troglodices” além dos tempos, acompanhamos três gerações de homens inaptos em lidar com as dores que eles mesmos promovem. Parece simples ou idiota pensar em uma saída para o machismo estrutural diante dos seus agentes, mas o filme tem muito mais sensibilidade do que poderíamos imaginar. 

Tony Goldwyn é um ator estadunidense que se aventura atrás das câmeras vez por outra; em seu sexto filme como diretor, se não sai de uma fórmula esperada, ao menos lida com tais chavões com uma bela reconstituição de tipos. Enquanto ator, todos conhecem seu rosto de um dos maiores clássicos românticos do cinema, Ghost, onde ele interpreta o mau amigo de Patrick Swayze responsável pela trama policial do filme, e isso deve justificar a presença de Whoopi Goldberg aqui. Ao ter uma carreira muito mais ativa na sua área de formação, Goldwyn apresenta as melhores armas possíveis para um projeto como Meu Filho, Nosso Mundo: conhecer seus atores e oferecer a melhor base para cada um deles. É o que é feito aqui. 

O roteiro de Tony Spiridakis lida com situações caras ao seu autor e também a um de seus protagonistas, Robert DeNiro; ambos têm filhos no espectro autista (e ambos estão entre os produtores do filme) e conseguem na obra comunicar-se sobre um assunto sempre tratado na área do melodrama mais banal. Filmes como Rain Man em nada contribuíram para uma visão menos estereotipada desse sujeito, e obras superficiais como essa mantiveram o olhar exploratório em cima desses personagens. Por tratar-se de uma criança em foco, nada mais óbvio do que Meu Filho, Nosso Mundo ter algum didatismo, mas na maior parte do tempo o filme quer investigar nossos sentimentos em relação às heranças emocionais que as pessoas legam umas às outras. 

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O que de mais valioso o roteiro (e o filme) agregam à experiência geral, é a forma como tais personagens não estão reféns de um modelo de melodrama, único e exclusivo. A estrutura pode sim estar condicionada a um extrato de cinema, mas ao redor dessa narrativa mais tradicional, existe a construção de cada um em cena, um valor conseguido por Spiridakis e também pelos componentes do elenco. Em particular, a história dessa tríade masculina (criança, pai e avô) que se encontra na tentativa de compreender as muitas camadas que são condicionadas a eles. Através da história de Ezra mais explícita, seu pai e seu avô vão compreendendo que talvez tenham sido mais do que uma família disfuncional, e que em Meu Filho, Nosso Mundo é traduzido através de um espectro do autismo possivelmente dividido. 

Parte do achado é William Fitzgerald, um ator que realmente possui a condição, e que é compartilhado entre Bobby Canavale (de Blue Jasmine) e DeNiro, que não podem ser acusados de falta de lugar de fala porque seus personagens não são diagnosticados. É uma situação, a bem da verdade, muito complexa, porque o filme não tenta vender a imagem de que “todo desajuste é causado pelo autismo”; às vezes, a pessoa simplesmente só precisa recobrar sua centralidade. De qualquer maneira, suas idiossincrasias e a conexão entre eles rendem não apenas os melhores momentos de Meu Filho, Nosso Mundo, como também constroem o diferencial desse projeto que exala sensibilidade em desvelar-se sobre tais homens, adultos ou criança. 

Um grande momento
O pai pede perdão ao filho

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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