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Monday – Louca Paixão

A vida é um passeio

(Monday, GBR, EUA, GRE, 2020)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Argyris Papadimitropoulos
  • Roteiro: Rob Hayes, Argyris Papadimitropoulos
  • Elenco: Sebastian Stan, Denise Gough, Yorgos Pirpassopoulos, Dominique Tipper, Andreas Konstantinou, Syllas Tsoumerkas, Dimitris Dermousis, Giannis Xintaras, Stratis Kouinis, Elli Tringou
  • Duração: 116 minutos

A inconsequência na idade adulta não é exercida através somente de desvarios irresponsáveis de adolescentes tardios. A paixão avassaladora, dependendo do formato com o qual é desenvolvido, também é um sinal de que nem toda consciência foi adquirida, tendo em vista que muitas vezes descamba para atos de pura paranoia. Monday – Louca Paixão, estreia do Telecine dessa semana, é um retrato bem urdido de um grupo de personagens que vive como se não houvesse amanhã, ainda que haja. Com dedicação específica ao casal protagonista mas entendendo que o entorno deles é absolutamente imprudente, o filme observa a ausência de maturidade em contextos bem diversos.

Argyris Papadimitropoulos (ufa!) é, obviamente, um diretor grego que já passou pelo festival de Rotterdam mais de uma vez, e aqui entrega um filme que parece muito solar e vibrante. Ou melhor, o filme é isso também, mas não apenas e definitivamente não tem como ser resumido a essa impressão inicial, que é retrabalhada ao longo de sua extensão. Não se trata de um trabalho que poderia beirar a superficialidade; na verdade, essa é um tratamento que se aventa no seu deslanchar, mas sua colocação é proposital, com a intenção de que nossas percepções se refaçam. Com o calor de um verão grego, suas cores vivas e a impulsividade que apenas uma temporada de férias poderiam representar, o filme esconde suas armas.

O roteiro de Papadimitropoulos e Rob Hayes tem a substância de tratar desse âmbito etário perdido dentro de cada um, sem com isso elevar seu tratamento a algo renovado. Suas curvas narrativas são bem conhecidas e o filme desenha o passo a passo de uma história de amor apressada em todos os sentidos, sem construir uma trama menos genérica. Porém essa certa obviedade narrativa não esconde o acabamento que é dado para montar o relevo de seus protagonistas, e inseri-los em um desenvolvimento onde seu recheio é complexificado. Há um equilíbrio que sustenta esses dois caminhos, o do clichê aliado a uma abordagem rica a respeito da imaturidade e suas camadas.

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Já na cadeira de diretor, o filme abusa de uma atmosfera quente para contar os destemperos de seus integrantes. É uma produção muito aguda no que se pretende debater, seja o sexo ou as posturas de seus integrantes. Tudo é muito explosivo, de teor dramático exacerbado, quase como uma frequente de clímaxes de um material de teledramaturgia. O que diferencia seu tom de uma novela comum é justamente essa estridência constante, sem espaço para um respiro entre suas notas mais altas. Sem dúvida que tudo é filmado com muita intensidade, trata-se de um filme adulto, embora suas ações sejam comparáveis às de adolescentes despreparados.

Chloe acusa Mickey de faltar com atitudes maduras, mas mesmo ela se arrebatou sem pensar nas consequências, mesmo com as constantes pistas a respeito do temperamento de seu parceiro. Mickey, na verdade, não é mascarado; desde o início vende exatamente o que é, um homem que tem dificuldade de lidar com as perdas, e com isso ele trata de perder antes mesmo de qualquer coisa desgastar. Apesar de se passar em espaço temporal limitado, Monday tem a seu favor uma agilidade que contrasta com sua agenda mais adensada, e as discussões muito pertinentes que promove com o espectador. A maturidade que falta aos seus personagens sobra ao projeto, que se intensifica ao passo que também se torna cada vez mais melancólico.

As cenas finais de Monday encaminham o filme para um dilema que seus personagens não parecem muito dispostos a resolver. Depois de passar quase 2 h acompanhando inúmeros tipos absolutamente levianos consigo e com os outros, personagens que parecem de anedota à distância, mas que aproximados estão perdidos com as escolhas que precisam tomar, a produção acompanha o desgaste de uma geração que escolheu não crescer, e precisará se tornar adulto à força mesmo. Não importa se não se tornaram, enfim, os seres que julgavam ser – os resultados da inconsequência estão prontos a correr na sua direção.

Um grande momento
Nus na moto

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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