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Na Mira do Perigo

Arroz com feijão sem tempero

(The Marksman, EUA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Ação
  • Direção: Robert Lorenz
  • Roteiro: Chris Charles, Danny Kravitz, Robert Lorenz
  • Elenco: Liam Neeson, Jacob Perez, Katheryn Winnick, Juan Pablo Raba, Teresa Ruiz
  • Duração: 108 minutos

Robert Lorenz é um produtor indicado ao Oscar nas três vezes onde Clint Eastwood só concorreu sem ganhar (Sobre Meninos e Lobos, Cartas de Iwo Jima e Sniper Americano), que foi seu diretor assistente e de segunda unidade diversas vezes, e que um dia resolveu dirigir um filme que parecia ter sido ofertado ao seu parceiro, Curvas da Vida. Conseguiu o próprio pra protagonizar e fez tudo praticamente decalcado do que ele faria… só não era ele. O resultado foi uma versão pálida, sem a alma e a verdade de um Clint. Na sua segunda aventura na direção, esse Na Mira do Perigo – estreia exclusiva dos canais Telecine – poderia ser facilmente protagonizado e dirigido pelo autor de Menina de Ouro, ou seja, Lorenz fez de novo. Inclusive nas ausências.

Protagonizado pelo incansável Liam Neeson, o filme fez boa bilheteria no início do ano nos EUA, provavelmente nas costas do astro e da ânsia de qualquer diversão possível no olho do furacão da pandemia. Trata-se de um longa que o indicado ao Oscar por A Lista de Schindler mais tem feito nos últimos 15 anos – esse thriller de vingança e proteção por alguém que precisa de sua ajuda, ativando o senso de justiça pelas próprias mãos de um fora-da-lei. No caso, o sentido da expressão é amplamente maleável de filme a filme, mesmo quando o personagem originalmente é um homem da lei, como o militar aposentado aqui.

Na Mira do Perigo

Neeson é talentoso, carismático e tem “experiência no ramo”, porém aqui o primeiro quesito foi dispensado sem maiores preocupações por absoluta ausência de material. Depois de tantos anos realizando, entre outros ofícios, as muitas conjugações de perseguido injustamente – pela máfia, por animais, por terroristas, pela polícia etc… — o ator já sabe exatamente o que fazer e como fazer nas situações apresentadas aqui. O diferencial é sua relação com o menino vivido pelo expressivo Jacob Perez e o cachorro Jackson, formando assim um trio que faz Na Mira do Perigo valer a pena, em meio a tanta repetição.

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Nada é proposto pela direção ou pelo roteiro (assustadoramente escrito a seis mãos, Lorenz, Chris Charles e Danny Kravitz, ambos estreantes — porque precisaram de três pessoas pra escrever esse roteiro, é uma incógnita que jamais descobriremos), e Na Mira do Perigo caminha para agradar o público a quem a produção se destina, aquela sem qualquer interesse em questionar. Inclusive a flertar com uma antiquada xenofobia, o velhíssimo caso de mexicanos que atravessam a fronteira para queimar arquivo, o filme não alcança o padrão que o próprio Neeson se acostumou, com Jaume Collet-Serra provando que cinema de gênero não precisa ser sinônimo de cansaço.

Na Mira do Perigo

A relação do protagonista com o que lhe quebra a expectativa — o cachorro, a criança, a filha, a falecida esposa, a terra ameaçada — é um ponto de interesse e diferenciação do longa, incluindo uma leitura acertada sobre a crise econômica que assola a América do Norte há mais de uma década e poderia ser explorado de maneira mais profunda. Infelizmente, esse pano de fundo não parece ter interesse maior à narrativa que aplicar aquela moral da história tacanha e que só funciona para países muito bem desenvolvidos: dinheiro não trás felicidade. Se isso já não é suficientemente absurdo, por conta disso uma pilha de dólares pode ser queimada ao som de muitas gargalhadas, em clima de diversão e curtição?

Na Mira do Perigo tem ação, consegue entreter e distrair em um dia pouco ou nada exigente, conta com um ator querido trabalhando em cima de um estereótipo que têm sido comum em sua carreira, mas apresenta um trabalho preguiçoso de direção e sem qualquer inspiração no roteiro. A quem se destina então essa produção, se você encontra similares semanalmente sendo empilhados a granel às vezes com mais dedicação dos envolvidos que não apenas passar o tempo? Ao público desavisado, avesso a novidades e a quem geralmente espera um produto ao menos temperado; não é o caso aqui.

Um grande momento
O clímax

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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