Crítica | Streaming e VoD

Nosso Segredinho

Não falta entretenimento, mas falta química

(Our Little Secret, EUA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Comédia romântica
  • Direção: Stephen Herek
  • Roteiro: Hailey DeDominicis
  • Elenco: Lindsay Lohan, Ian Harding, Kristin Chenoweth, Jon Rudnitsky, Katie Baker, Tim Meadows, Judy Reyes, Dan Bucatinsky, Jake Brennan, Henry Czerny
  • Duração: 96 minutos

Lindsay Lohan assinou um contrato com a Netflix que vem rendendo bons frutos para ambas as partes. A ela, recobrou a relevância e lhe garantiu salário e trabalho nos últimos anos; ao streaming, um punhado de sucessos momentâneos que aumentam o catálogo de seu acervo, como Pedido Irlandês. O mais recente estreou agora, Nosso Segredinho, e está em primeiro lugar entre eles desde a estreia, mostrando que o time está ganhando e não precisa ser mexido. A palavra originalidade não está impressa nos propósitos, então o que vemos é mais uma comédia romântica natalina feita para distrair os espectadores afoitos dessa época do ano, que só procuram entretenimento ligeiro, seja entre eles ou no Hallmark tradicional dessas produções. 

Stephen Herek está na cadeira da direção, e podemos dizer que nos anos 90 ele foi uma espécie de rei do “cinema conforto”. Após sua estreia no trash Criaturas, sua carreira foi montada com o melhor da Sessão da TardeBill & Ted (o original!), Viva! A Babá MorreuNós Somos os Campeões (o primeiro da longuíssima série), Os Três Mosqueteiros (a versão com Kiefer Sutherland, Charlie Sheen e Chris O’Donnell), 101 Dálmatas (sim, o protagonizado por Glenn Close), e ainda deu uma indicação ao Oscar para Richard Dreyfuss em Mr. Holland: Adorável Professor. Seus últimos filmes, no entanto, são produções para a Netflix sem qualquer ambição maior, correspondendo ao que seu talento já apresentava há 30 anos; a diferença é que seus filmes atuais não tem qualquer relevância, nem vão ficar na memória dos espectadores por mais de 1 mês. 

Ainda assim, a sensação de um passatempo agradável se reafirma com Nosso Segredinho, um filme que se vale do carisma de Lohan, principalmente, para contar com a adesão do público. Quase recuperada, e pronta para próximos capítulos bem interessantes, a atriz de clássicos como Sexta-Feira Muito Louca (cuja continuação estreia ano que vem) está em vias de voltar a ser abraçada de vez. Aos 38 anos, a atriz mostra que ainda tem poder de estrela, e contribui muito para que o filme não precise fugir da queda nos lugares comuns esperados, quando a simpatia é coletiva e ocupa boa parte do espaço. Há modéstia no combo, mas trata-se de um trabalho honesto de todos em cena. 

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Talvez a principal falha de Nosso Segredinho não esteja em sua protagonista ou seu partner, Ian Harding. O que atrapalha a condução da produção é a falta de química entre eles, ou entre seus respectivos namorados na maior parte do tempo corrente. Não conseguimos torcer por nenhum casal que apareça no filme, porque não é feito um trabalho entre os pares para que tenhamos alguma diretriz. Nesse sentido, a ausência de material sedutor cabe ao que seus atores deixam de fazer entre si, o que remete a observar uma novela de época bastante tímida. Dessa forma, assistir ao filme torna-se uma experiência dúbia, porque existe a certeza do trabalho simpático, mas que não suscita qualquer emoção. 

Por se tratar de uma comédia romântica, que cada ator funcione mais sozinho do que acompanhado, é um alerta de que algo saiu longe do planejado. O espectador não consegue criar uma linha de comunicação com nenhuma das histórias de amor, e talvez o filme perceba isso, levando em consideração que o roteiro demora a se dedicar a esse campo. Girando em torno dos percalços natalinos, da melancolia a respeito de uma perda familiar, ou em como existe a cobrança por um resultado positivo profissionalmente a partir de certa idade, Nosso Segredinho se preocupa pouco em desatar os nós românticos, e quando o faz, parece que realizou a ideia quase por obrigação contratual. 

Dessa forma, Nosso Segredinho pode até consolar o público menos exigente que apenas queira se distrair com o streaming do momento. Mas, o conselho e a conclusão de sempre resvala aqui: porque se contentar com qualquer passatempo quando o campo está cheio de produções melhores? Sai intacta da produção o processo de ressurreição de Lohan, que se encontra em franca ascensão para voltar ao lugar que ela parece conclamar como seu de direito. Se existe ainda um lugar de estrela reservado para ela, precisamos de mais alguns capítulos para perceber, mas essa energia boa que ela emanou no passado está aqui, pronta para o novo round. 

Um grande momento
A missa 

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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