- Gênero: Drama
- Direção: Elizabeth Chai Vasarhelyi, Jimmy Chin
- Roteiro: Julia Cox
- Elenco: Annette Bening, Jodie Foster, Rhys Ifans, Anna Harriett Pittman, Luke Cosgrove, Eric T. Miller, Garland Scott, Karly Rothenberg
- Duração: 120 minutos
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Levando o assunto até o lugar certo, e indo direto ao ponto: quem se aventurar na direção de Nyad, terá dois motivos muito específicos para tal – Annette Bening e Jodie Foster. Vendido como uma bio padrão dessas realizadas para chegar nas óbvias indicações da temporada, o filme foi preparado para conseguir nova indicação ao Oscar para a estrela de Beleza Americana, e se revelou um veículo duplo. Situação parecida com a que aconteceu com Clube de Compras Dallas há quase 10 anos, quando o dono do show Matthew McCounaghey cedeu louros também a Jared Leto (que pra muita gente era o grande acontecimento por trás da produção). Terão as meninas a mesma sorte dos rapazes? Com corridas cada vez mais imprevisíveis, tudo pode acontecer a essa produção Netflix que acaba de chegar aos cinemas.
Independente da reta final, assiste-se Nyad com imenso prazer. Primeiro, porque trata-se de uma “biografia” com um recorte muito específico, de recentes três anos acontecidos a partir de 2010; segundo, porque trata-se de um filme muito solar, de cores vivas e cheio de boas energias convergindo; terceiro, porque não é necessariamente um filme preguiçoso. Dirigido pelo casal vencedor do Oscar por Free Solo Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin, o filme é a estreia deles na direção de ficção, que se aventuram por uma zona do qual eles conhecem bem. Além de se tratar de um retrato de uma esportista lendária, o filme utiliza impressionantes passagens documentais de sua protagonista, além de filmar os perigos pelos quais a personagem-título passou com muita exatidão a tentativa de manter ao máximo a integridade das imagens.
Isso acaba por se mostrar um experimento acertado pela forma e pelo conteúdo, porque correm em paralelo por Nyad duas fontes de energia, uma ligada aos eventos físicos e outra aos emocionais. Nas sequências aquáticas onde as capacidades de Bening são expostas em mar aberto, os diretores contam com o auxílio luxuoso de Claudio Miranda (Oscar por As Aventuras de Pi, ou seja, um especialista em oceano) para transformar seu campo de atuação em também um ambiente de perigo e fascínio. Já os embates que ocorrem entre os personagens são lidos de maneira muito verdadeira e coloquial, mantendo na tela a conexão que existe na vida real entre tais personagens. Contém muita vitalidade em tudo que é transposto para a tela, quando percebemos que o empenho é coletivo para que tais sequências pareçam sempre um recorte do real.
Nesse sentido, a montagem da produção, que tenta refletir a primeira tentativa de travessia de sua personagem em ambiente inóspito marinho entre Cuba e Flórida nos dias de hoje, quando os erros da personagem serão cobrados nas imagens captadas para o filme. É como se Nyad transformasse tais impulsos de vitória e derrota em estímulo para seguir adiante e moldar o futuro, através da construção de como a sociedade vê esse corpo. Há inteligência cênica e pessoal ao situar os flashbacks da personagem em lugares-chave, quando Diana enfrenta seus limites na maratona, respondendo a tais estímulos com luta. Ou seja, tudo está sem seu devido lugar, e talvez até tenha ido além, como na trilha singela sem perder a força de Alexander Desplat.
Mas como dito, o show em Nyad pertence às magnéticas performances de Bening e Foster. Ao seu lado existe um inspirado Rhys Ifans, mas não é páreo para o trabalho completo de duas atrizes que o mundo tratou de forma bem diferente. Enquanto a primeira parece ter aceitado que o sol não nascerá sempre para o seu lado, a segunda é uma das maiores atrizes de sua geração. Ambas não poderiam estar em lugares tão desafiadores para essas duas atrizes de primeira grandeza, e a surpresa é que esses desafios não exigem presença corporal apenas, mas principalmente uma leitura muito profunda do significado de amizade e companheirismo. Bening mais contida em sua radiação de bons fluidos, e Foster como uma força da natureza que arrasta tudo à sua volta. Toda a emoção e a estupefação de assistir a esse filme passa exclusivamente por seus rostos, que desfiam o melhor que uma interpretação pode ter; é o que basta.
Um grande momento
A primeira discussão de Nyad e Bonnie