O filme brasileiro O Agente Secreto contraria a tradição do Festival de Cannes com o feito histórico de trazer para casa os prêmios de Melhor Direção, para Kleber Mendonça Filho, e Melhor Interpretação Masculina, para Wagner Moura. Isso porque, de acordo com as regras do mais pretigioso festival de cinema do mundo, as duas premiações só podem ser concedidas junto com a Palma de Ouro ou o Grande Prêmio do Júri. As duas vitórias do Brasil deixam a mensagem de que o júri teve dificuldades para chegar a um veredito, a de que era um concorrente forte para a Palma, suspeita confirmada por um dos jurados, o diretor sul-coreando Hong Sang-soo.
Escolhido também pela Fipresci, a Federação Internacional de Críticos de Cinema, e pela Associação Francesa de Cinema de Arte como o melhor filme do Festival de Cannes 2025, o longa chamou a atenção de todos no festival francês desde sua primeira exibição. Distribuído no Brasil pela Vitrine Filmes, em Cannes foi adquirido pela Neon para distribuição nos Estados Unidos e Canadá e pela Mubi, no restante da América Latina, Índia, Irlanda e Reino Unido.
O Agente Secreto conta a história de Marcelo, um especialista em tecnologia que, no final dos anos 1970, retorna a Recife em busca de paz. Lá descobre que sua cidade natal esconde perigos e segredos inquietantes. Além de Wagner Moura no papel principal, o thriller político conta com nomes como Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Carlos Francisco, Alice Carvalho, Roberto Diogenes e Hermila Guedes no elenco.
Uma Palma de Ouro histórica
A úlitma vez que Jafar Panahi esteve em um festival foi em 2003, em Cannes, quando apresentou Ouro Carmim na mostra Un Certain Regard. De lá para cá, foi preso diversas vezes pelo Regime, ficou em prisão domiciliar, foi proibido de deixar seu país e não podia mais filmar. Embora nunca tivesse cumprido essa última determinação, o que o manteve sempre presente, com suas obras, em todos os grandes festivais do mundo,
Ver o diretor em Cannes novamente foi emocionante. Depois de 22 anos, ele pode acompanhar o festival, dar entrevisas e apresentar seu filme, Um Simples Acidente. O longa rememora o tempo em que o diretor passou no cárcere, e fala sobre o conflito moral de um ex-preso após um possível encontro com um daqueles que foi responsável por seus dias de sofrimento.
Elogiado pela imprensa e muito debatido, o longa foi o escolhido pelo júri oficial do festival para ganhar o principal prêmio deste ano. Embora tenha superado outros títulos mais comentados e com maior favoritismo, a opção do grupo presidido por Juliette Binoch passou longe de questionamentos. Para além do filme, foi uma justa homenagem a um dos mais importantes diretores da atualidade.
Confira abaixo a lista completa de vencedores do Festival de Cannes 2025
COMPETIÇÃO PRINCIPAL
Palma de Ouro
Un simple accident (Yek tasadef sadeh), de Jafar Panahi
Grande Prêmio do Júri
Valeur sentimentale (Affeksjonsverdi), de Joachim Trier
Prêmio do Júri (Empate)
Sirât, de Oliver Laxe
Sound of Falling (In die Sonne schauen), de Mascha Schilinski
Melhor Interpretação Feminina
Nadia Melliti, por La petite dernière
Melhor Interpretação Masculina
Wagner Moura, por O Agente Secreto
Melhor Direção
Kleber Mendonça Filho, por O Agente Secreto
Melhor Roteiro
Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, por Jeunes mères
Caméra d’Or
Hasan Hadi, por The President’s Cake
Menção Especial
Akinola Davies Jr., por My Father’s Shadow
Prêmio Especial
Bi Gan, Résurrection (Kuang ye shi dai)
Palma de Ouro para Curta
I’m Glad You’re Dead Now, de Tawfeek Barhom
Menção Especial
Ali, de Adnan Al Rajeev
Prêmio Golden Eye
Imago, de Déni Oumar Pitsaev
Queer Palm
Hafsia Herzi, por La Petite Dernière
UN CERTAIN REGARD
Prêmio Un Certain Regard
La misteriosa mirada del flamenco (Le Mysterieux Regard du Flamant Rose), de Diego Céspedes
Prêmio do Júri
Un Poeta (Un poèt), de Simón Mesa Soto
Melhor Direção
Arab & Tarzan Nasser, por Once Upon a Time in Gaza
Melhor Ator
Frank Dillane, por Urchin
Melhor Atriz
Cleo Diária, por O Riso e a Faca
Melhor Roteiro
Harry Lighton, por Pillion