O Apartamento

(Forushande, IRI/FRA, 2016)
Drama
Direção: Asghar Farhadi
Elenco: Taraneh Alidoosti, Shahab Hosseini, Babak Karimi, Farid Sajjadi Hosseini, Mina Sadati, Mojtaba Pirzadeh
Roteiro: Asghar Farhadi
Duração: 121 min.
Nota: 7

Se aqui a questão da mulher já é grave, imagine no Irã pós Revolução Islâmica, onde os direitos à igualdade foram proibidos e muitos seguem assim até hoje. A objetificação, a desqualificação e a violência contra a mulher conseguem ultrapassar qualquer limite.

É isso que está em O Apartamento, filme de Asghar Farhadi indicado ao Oscar 2017 de melhor filme estrangeiro. Obviamente, mesmo que mostre as relações e a realidade local, há uma influência no resultado final pelo fato de muitas das coisas combatidas pelo filme estarem arraigadas no diretor, ou por simplesmente estarem longe de sua percepção, já que ele é homem.

Mas, com ressalvas, é um bom filme. Nele um casal de atores, prestes a encenar a peça de Arthur Miller, O Caixeiro Viajante, precisa mudar-se de seu apartamento, pois este corre o risco de desabar. O diretor da peça oferece um apartamento que tem e eles se mudam, mas um dos quartos está ocupada com pertences da antiga moradora – com uma história desconhecida pelos novos inquilinos – e há um suspense por trás disso.

Farhadi (A Separação) mantém seu estilo no longa e estimula a observação, com sua câmera sempre muito próxima dos atores, sempre bem dirigidos, e planos longos, acompanhando cada diálogo e expressão dos personagens.

Há três fortes representações do feminino no longa-metragem: a protagonista, a atriz que interpreta uma prostituta na peça e a ausente, mas sempre presente, ex-inquilina. Embora demonstrem a realidade de uma mulher naqueles costumes, é pela visão do homem que o filme se desenvolve.

As ações refletem sentimentos masculinos frente ao homem, o não saber lidar carregado de condenação a uma desconhecida; a vergonha que supera o respeito com relação à companheira; o escárnio e a diminuição frente a um comportamento, mesmo que ele seja fictício.

Nessa corrente doentia de satisfação de desejo, de vingança pela honra perdida e de desvalorização de gênero que a tensão do filme se desenvolve. É como se o ser agredido, violado, atacado fosse insignificante, o que importa é o outro e o que há de masculino nele.

A ideia por trás de O Apartamento é boa e interessante, mas esbarra no que está entranhado no subconsciente do diretor, criado naquela sociedade e, mesmo sem perceber, contaminado por ela. O que se vê, a partir de certo ponto, torna-se quase sádico, em exposições e repetições. Como se quisesse demonstrar a falta de voz calando ainda mais.

Além disso, há um desacerto nas transições entre a história daquela família e a montagem da peça. Algo não encaixa tão bem na tela como pode ter parecido encaixar no roteiro, escrito também pelo diretor. É uma mistura pertinente, frente ao tema, mas distante demais na realidade.

Um Grande Momento:
Tirando o carro da garagem.

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