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A Ilha da Morte

(El Cayo de la Muerte, BRA/CUB/ESP, 2006)

Mesmo que inconscientemente toda obra de arte traz em si muito da carga de vida daquele que a assina e, depois de pronta, se transforma e recebe outros significados, dependendo da história de vida de cada um dos que com ela entram em contato.

É essa a mensagem principal do filme A Ilha da Morte, do diretor cearense Wolney Oliveira, que conta a história de um ingênuo e apaixonado jovem, Rodolfo, que, às vésperas da revolução cubana, sonha em virar cineasta.

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Se o sonho já se mostra distante na capital, Havana, imagine quando ele se muda para um pequeno vilarejo esquecido depois que seu pai começa a ser perseguido pelas tropas de Fulgêncio Batista.

Formado na escola cubana de cinema de Santo Antônio de los Baños, Wolney Oliveira volta a enfocar os cineastas amadores da mesma escola e que fizeram história nos anos 50 com produções trash depois de mais de dez anos de seu curta-metragem El Invasor Marciano.

Apesar da boa premissa, uma história tão romantizada não consegue se encaixar em um momento de extrema turbulência social com o que antecede uma das maiores revoluções políticas da história. Se o caminhar é ingênuo demais, quando o filme dentro do filme fica pronto e o resultado se revela muito mais perfeito do que o possível, fica claro que o tom de homenagem e admiração falou muito mais alto e deixou para trás elementos que poderiam render um filme muito mais interessante para o público.

Outros problemas menores também podem ser identificados. Ainda que um ou dois enquadramentos sejam realmente bonitos, a utilização excessiva de uma estética de televisão e a consequente cara de telenovela soam estranho em um filme que fala justamente sobre cinema. A música de José María Vitier, apesar de muito bonita, está mais presente do que precisaria estar.

Por outro lado, a dedicação e a empolgação dos atores são contagiantes, com destaque para Laura Ramos, Leonor Arocha e Claudio Jaborandy, o Epaminondas do curta Rapsódia para um Homem Comum. As cenas inseridas nos créditos do filme também dão aquela graça necessária para fazer o público gostar um pouco mais do que acabou de ver.

Mas é o tom muito comprometido e encantado do diretor que deixa o resultado menos interessante, o que não deixa de ser um coincidência engraçada. Ao tentar tratar da influência das crenças e ideologias mais presentes na vida de Rodolfo, Wolney parece cair na própria armadilha e faz um filme estéticamente limpo e funcional demais para retratar um momento real de virada política intensa.

Ainda assim, tem uma aura bonitinha e faz pensar no papel das influências externas na arte de cada um e para cada um, mas não chega muito longe e dificilmente vai durar muito tempo na cabeça daqueles que o assistiram.

Um Grande Momento

“Olha o que você fez.”

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Comédia
Direção: Wolney Oliveira
Elenco: Caleb Casas, Laura Ramos, Isabel Santos, Alberto Pujol, Claudio Jaborandy, Leonor Arocha, Georbis Martínez, Lieter Ledesma, Lester Martínez
Roteiro: Arturo Infante, Manuel Rodríguez , Alfonso Zarauza
Duração: 88 min.
Minha nota: 6/10

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.

Um Comentário

  1. Porque seus Feeds agora vem apenas com o link para o post em seu site?

    Fez algo para ficar assim? Gostava mais de ler pelo Google Reader…

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