O Exótico Hotel Marigold

(The Best Exotic Marigold Hotel, GBR, 2012)

Comédia
Direção: John Madden
Elenco: Judi Dench, Tom Wilkinson, Bill Nighy, Penelope Wilton, Maggie Smith, Ronald Pickup, Celia Imrie, Dev Patel, Tena Desae
Roteiro: Deborah Moggach (roteiro), Ol Parker
Duração: 124 min.
Nota: 8

O título, por si, já desperta curiosidade. A lista de atores dá a idéia de que não estamos diante de um filme comum. O Exótico Hotel Marigold (baseado no romance “These Foolish Things”, de Deborah Moggach) relata com um humor respeitoso as aventuras de um grupo de integrantes da terceira idade que, desiludidos com os desafios da velhice, resolvem se hospedar no hotel indiano que dá título ao filme.

Dev Patel (Quem Quer Ser Um Milionário) é o sonhador Sonny. Com a morte do pai, ele herda um hotel em Jaipur, Índia, que pretende transformar num divertido e aconchegante local de descanso para idosos. Enquanto não tem dinheiro para isso, ele decide maquiar um pouco a realidade do local nos anúncios de propaganda e oferece pacotes convidativos para senhores e senhoras ingleses. Eis que sete pessoas acabam se interessando pela oferta e cada um, à sua maneira, se envolve com o colorido, o barulho e os sorrisos da Índia.

Quem encabeça a lista de atores britânicos é Judy Dench e não é à toa que foi escolhida por John Madden. A atriz já foi dirigida duas vezes por ele, em Sua Majestade, Mrs. Brown e Shakespeare Apaixonado. Em ambos foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, sendo vencedora pelo último. A seleção do restante do elenco também é cirúrgica. Juntam-se a Dench: Maggie Smith (Assassinato em Gosford Park), Bill Nighy (Simplesmente Amor), Penelope Wilton (Ponto Final – Match Point), Ronald Pickup (Príncipe da Pérsia – As Areias do Tempo), Celia Imrie (O Diário de Bridget Jones) e Tom Wilkinson (Conduta de Risco). Um time que dispensa comentários e funciona maravilhosamente bem em cena.

Evelyn Greenslade (Judy Dench) é a narradora do filme e o ponto de partida do mesmo. Logo após a morte do seu marido, que era o responsável por praticamente todo o funcionamento prático e sustento da casa, ela se vê numa situação nova quando descobre que o falecido deixou muitas dívidas e, para quitá-las, precisará vender a sua casa. Depois de vender o imóvel, ela ruma à Jaipur a fim de experimentar uma liberdade que nunca tivera e cria um blog com os relatos da viagem, a fim de abastecer o filho com notícias.

Douglas (Bill Nighy) e Jean (Penelope Wilton) formam o casal Ainslie. Eles aplicaram as economias em um negócio que a filha desenvolveu na internet, mas enquanto não recebem o “empréstimo” de volta e sem condições de uma habitação melhor, resolvem fazer check-in no exótico hotel. Madge Hardcastle (Celia Imrie) e Norman Cousins (Ronald Pickup) não se conhecem, mas parecem dividir a angústia de quem não aceita bem o fardo da velhice e a perda da beleza e virilidade, por isto vivem em buscar de maridos e aventuras amorosas que elevem as suas estimas. Graham Dashwood (Tom Wilkinson) é um juiz que pede demissão e retorna à Índia em busca de redimir-se de um mal que ele pensa ter causado a alguém do seu passado.

Já Muriel Donnelly (Maggie Smith) é uma aposentada que, sem condições de bancar uma cirurgia na bacia na Inglaterra, resolve se arriscar numa operação com médicos indianos. Preconceituosa e xenófoba ao extremo, ela é amarga e tem a língua afiadíssima. Smith é a responsável pela melhor das atuações, capaz de arrancar gargalhadas mesmo com comentários que deixariam qualquer um de boca aberta pelo alto teor de discriminação racial.

Assim que põe os pés no país asiático, a trupe se dá conta de que não terá dias tranquilos por lá. Devido ao mal tempo, eles acabam por finalizar a viagem em um ônibus bem rudimentar apinhado de indianos, dando inicio ao choque cultural. O hotel Marigold, muito mais do que exótico, é uma velha construção que precisa de reformas. Quartos sem portas, telefones que não funcionam, pias entupidas e um gerente que tenta, através da sua boa lábia, convencer os novos hospedes e os investidores a dar uma chance àquela hospedaria.

Os dias passam, e à medida que vão se adaptando (uns bem outros mal) à nova rotina, o público passa a ter contato com fatos íntimos de cada um deles. A comédia do início da projeção começa a dar lugar ao drama. A sensação da fugacidade do tempo, tornar-se obsoleto e ser substituído por alguém mais novo, aprender a viver com a ausência do companheiro, assumir o desgaste de um casamento após décadas de convivência, lidar com a gradual diminuição da virilidade, sentir-se desejada e perdoar a si mesmo são os temas que permeiam a história dos hospedes. Em paralelo, somos apresentados aos dramas dos indianos, desde a pobreza local, passando pelos empregos invisíveis, até uma sociedade de castas que prega casamentos arranjados.

Conseguir manter o controle de um filme com tantos elementos no roteiro, não é tarefa simples, mas John Madden, mais do que um bom diretor, sabe equilibrar a participação de cada um em cena e explorar a química existente entre os atores. Sem muita invenção, o diretor explora bastante o colorido da cidade indiana e de resto entrega aos interpretes a missão de emocionar. Fato que é realizado com louvor.

Engraçado e cativante, O Exótico Hotel Marigold, consegue mostrar uma doçura mesmo quando toca em temas mais pesados. Aqui a lição é a de que jamais se é “velho” o bastante para promover as mudanças de rota necessárias em nossas vidas e que sempre há o que se amadurecer e viver.

Um Grande Momento

A visita à casa da criada.

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