(Le Chat du Rabbin, FRA/AUT, 2011)
Direção: Joann Sfar, Antoine Delesvaux
Roteiro: Joann Sfar, Sandrina Jardel
Duração: 100 min.
Nota: 7
Uma das mais conhecidas obras do premiado quadrinista Joann Sfar ganha versão cinematográfica. O Gato do Rabino é a história de um bichano sem nome que, ao engolir um papagaio, começou a falar. Seu grande desejo é se converter ao judaísmo e desta forma continuar a conviver ao lado da sua amada dona.
Dirigido pelo próprio Sfar (Gainsbourg – O Homem que Amava as Mulheres) em parceria com Antoine Delesvaux, este longa franco-austríaco é uma fábula que debate a diversidade de crenças religiosas. Ambientado na Argélia na década de 20, a história começa apresentando o lar judaico onde convivem o rabino, a filha Zlabya e seus animais de estimação, um gato e um papagaio. A harmonia dos dias é quebrada quando o gato começa a falar exprimindo ironia e acidez nos comentários. Assustado não somente pela fala repentina do bicho de estimação, mas principalmente pelo ceticismo religioso do gato, o rabino decide afastá-lo da presença de Zlabya. Temendo o fim da relação de carinho e amor que os animais de estimação têm com os seus donos, o gato acredita que se converter ao judaísmo é a solução, convence o religioso a ensiná-lo mais sobre estes costumes e até decide ter um Bar Mitzvah.
O gato e o rabino acabam embarcando numa viagem pela África quando encontram um jovem artista russo. É a partir deste encontro que a pluralidade religiosa ganha mais espaço na história, as chegadas e partidas de outros personagens ilustram as diferenças e também singularidades entre as religiões que cada um representa. Cristãos, mulçumanos, judeus, todos de alguma forma acabam por deixar suas visões sobre situações apresentadas na trama, a partir da crença e costumes com os quais foram criados.
Remetendo muito mais à época dos desenhos animados feito à mão do que às animações atuais, a estética da produção consegue levar à tela grande o mesmo estilo do traço e das cores existentes nos quadrinhos de Sfar. O Gato do Rabino prima por lidar com bom humor e leveza com um tema delicado e complexo como os conflitos religiosos. O gato, inspirado no bicho de estimação do Sfar, é cheio de personalidade, cético e questionador. Após ganhar voz, faz com que os outros personagens pensem nos dogmas religiosos através de sua impagável espirituosidade.
O filme foi vencedor do prêmio Cesar de melhor animação de 2012 e do Annecy (festival internacional de animação) em 2011. Já os quadrinhos, divididos em 05 volumes, ganharam o prêmio Goscinny e chegaram a ser indicado ao Eisner (maior prêmio de HQs nos EUA). A presença de situações existentes em três dos cinco volumes dos quadrinhos acaba, por algumas vezes, dando a sensação de colagem ao andamento da história e este é o pequeno deslize da produção, mas que em nada atrapalha no sentido da mensagem.
Deliciosamente divertido, O Gato do Rabino traz, de forma criativa, reflexões sobre os preceitos e sobre nossos conflitos religiosos, tantos os externos quantos os íntimos e, no final das contas, a única coisa que prega é a convivência pacífica e a tolerância religiosa.
Um Grande Momento
O rabino e o gato discutindo sobre a origem do mundo
Links
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