- Gênero: Aventura
- Direção: Stig Svendsen
- Roteiro: Stig Svendsen, Espen Aukan
- Elenco: Liv Mjönes, Elli Rhiannon Müller Osborne, Arthur Hakalahti, Sjur Vatne Brean, Vidar Magnussen, Kasper Antonsen, Mia Fosshaug Laubacher
- Duração: 95 minutos
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Taí um filme que nasce corajoso, esse tal de O Lobo Viking, produção norueguesa que entra hoje na Netflix com potencial para um barulho bom de audiência, mas não se trata disso – não somente. Quando um filme se predispõe a colocar sua mocinha como uma potencial assassina sanguinária, que não se limita a dizimar somente quem lhe é contrário, mas igualmente quem lhe quer bem, estamos diante de uma produção que não tem medo de angariar raiva, e discussão. Dito isso, essa é mais uma produção da Netflix que poderia ser uma coisa, mas acaba abraçando bem mais do que lhe cabia, tal como JUNG_E; sair da zona de conforto de entregar exatamente o que o público quer ver é uma forma de educar.
O roteiro do diretor Stig Svendsen e de Espen Aukan é esperto ao não se deixar levar pelo protocolar. Com a possibilidade de ser vendido como um filme de terror, ou de cinema fantástico e genérico, O Lobo Viking não ultrapassa com ferocidade essas barreiras, porque ele quer mais que essas definições apressadas. É como uma troca, que não feita, revela muito mais sobre a natureza de seus indivíduos; vemos na superfície aqui uma estranheza ao não se deixar levar pela obviedade de gênero. Existem pautas a serem elencadas, e o filme não o faz pretendendo cumprir tabelas, mas de evoluir o filme a um patamar menos óbvio. Apenas lugares de convergência para que o resultado final torne-se menos chapado.
Não é como se estivéssemos também diante de uma estrutura sofisticada de reflexão. O Lobo Viking aperta botões esperando dentro das metáforas que pretende alcançar, a mais evidente dentro do campo das transformações típicas da adolescência. Nem é o primeiro filme a apostar nesse binômio de assuntos (se alguém não lembra de O Garoto do Futuro, ao menos de sua série adaptada – Teen Wolf – deve conhecer), mas quando essa protagonista é mostrada como emocionalmente incomunicável, temos uma provocação. Não que isso não seja uma espécie de padrão comportamental, mas Thale é uma menina que não procura muito a simpatia alheia, e sua eventual transformação a colocam em posição de defesa cada vez menor.
Há também um detalhe sobre a burocracia em ambiente de espera inominável que o filme poderia se dedicar mais, ainda que o olhar esteja lá. Nesse estado de espera obrigatório, O Lobo Viking consegue avançar em outras frentes de ação, o que acaba mostrando um certo oportunismo narrativo que cai bem em suas possibilidades. Não há uma tendência a explorar outras formas de avanço, que não por meio da ordem e do planejamento, por isso as transformações dos personagens acarretam os eventos, à margem do que deveria acontecer. Além disso, é bom observar a Noruega tratando seus mitos como objeto de pesquisa, e não de exploração cênica vazia – O Troll da Montanha fez isso há dois meses.
Dito isso, O Lobo Viking não tem a profundidade que poderia se esperar de especialistas em sua mitificação, assim como o filme citado acima. As tentativas de torná-lo menos burocrático acabam frisando as possibilidades que o filme perde de ser maior do que poderia, mas também deixam claro que suas intenções não eram muito além do apresentado. Divertido e ágil, é um projeto com efeitos eficientes e maquiagem dentro do esperado, mas que se efetiva melhor quando percebemos que sua protagonista não faz concessões. Nesse sentido, há um empoderamento dentro de seu modo de agir que a coloca de forma muito mais feminista, decidindo o que exatamente fazer com seus erros.
Não há, contudo, uma maior preocupação com a personagem, além de bater nas teclas esperadas. Adolescente, em crise com os pais, atormentada no colégio, descobrindo o primeiro amor, protege a irmã mais nova… está tudo dentro da cartilha. O desenrolar de sua ação acaba mostrando muito mais do que seus predicados no papel, que não deixam de mostrar que o empenho em construir algo diferenciado ele é insuficiente para manter O Lobo Viking como algo muito distante do padrão.
Um grande momento
‘Eu cuido de você’
O filme está abaixo do razoável.