- Gênero: Comédia Romântica
- Direção: Thabang Moleya
- Roteiro: Katleho Ramaphakela
- Elenco: Lawrence Maleka, Kwanele Mthethwa, Sandile Mahlangu, Nimrod Nkosi, Letuka Dlamini, Sthandile Nkosi, Thembsie Mathu, Obed Baloyi, Sello Ramolahloane
- Duração: 105 minutos
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A Netflix tem um acervo de filmes sul-africanos com crescimento exponencial, onde através dela se tornou possível conhecer um lado do país que não é conhecido dos festivais, nem dos espaços de consagração. São filmes populares, mas realizados com uma experiência e uma dedicação que chamam a atenção mesmo em Hollywood, onde todas as atenções são dedicadas ao orçamento. Em um título como O Preço da Noiva, chama a atenção que tanto seja alcançado (inclusive em visibilidade dentro da plataforma) com uma modéstia genuína. Talvez por isso o filme esteja entre os mais assistidos da atualidade e porque tais títulos continuamente chamam a atenção de um público tão diferenciado como o brasileiro.
Esse é o tipo de narrativa que, com alguma adaptação, poderia estar no catálogo do cinema estadunidense, mas que o sabor impresso pelo seu país de origem garante personalidade ao filme, e uma vontade de explorar suas tradições para o resto do mundo. Assim, uma prática ainda comum entre eles como o pagamento do dote de casamento (intitulado lobola) centraliza as ações do roteiro e mostra para o resto do mundo que tais hábitos não se constituem automaticamente como retrocesso. Até porque as personagens femininas de O Preço da Noiva passam longe da submissão e do recato, tendo suas atitudes muitas vezes sendo reproduzidas por homens bem mais fracos que elas. É uma forma de abrir o debate sobre feminismo em um filme que passa longe de propositar o levante de bandeiras.
No fundo, a comédia romântica como um todo é fonte de procura constante dentro dos muitos streamings existentes no país – vide o sucesso ainda intermitente de Tudo em Família, lançado há algumas semanas. Com uma estrutura bem tradicional do que é produzido em toda parte do mundo, mas que é explorada com insistência pelo cinema estadunidense, O Preço da Noiva tem charme e simpatia o suficiente para provocar seu sucesso. São personagens que já conhecemos, os protagonistas, seus amigos-orelha, os parentes próximos e os ambientes de trabalho, tudo muito moderno e cosmopolita. Não agride ninguém com uma linguagem rebuscada, e ainda atende a um público padrão com a visão de elementos despadronizados, de alguma forma.
Como a própria ideia da tradição do ‘lobola’, que tem um alcance milenar, mas que pode assustar por ainda estar inserido hoje de maneira naturalizada pelas novas gerações. A forma como eles observam aquilo sem contestar sua relevância é uma maneira de mostrar que são padrões que não têm previsão de mudança a curto prazo. Parece pouco, mas o cinema tem outra forma de suculência quando nos promove o encontro com o inesperado, com o novo ou com o inusitado. O Preço da Noiva, mesmo bebendo em lugares já visitados com frequência pelo gênero em sua narrativa, ainda promove uma tentativa de socializar outros mundos e suas idiossincrasias. Podemos inclusive debater o quanto daquilo ali pode ser encaixado dentro de uma estrutura patriarcal e antiquada, mas que é necessário sabê-la para poder questioná-la.
Com um elenco muito simpático, uma atriz verdadeiramente linda como protagonista, e um coadjuvante muito talentoso (vivido por Sandile Mahlangu), O Preço da Noiva é passatempo despretensioso que insere suas questões sem precisar polemizar. Estão sendo pensados no meio do todo um grupo de questões que indicam o estado de um país muito longe de nós em práticas, mas que tem uma simbiose conosco em diversos compartimentos. E, para assistir a mais um produto pasteurizado e de resultado idêntico ao visto nos últimos anos ou décadas, fica a impressão de que estamos na verdade descobrindo um novo mundo ao encarar esse aqui. De entrarmos no centro de uma cinematografia que também pode nos ofertar diversão, e ainda apontar detalhes para observar culturas das quais temos pouco acesso.
Um grande momento
“Me chamo David”