(Le vent tourne, SUI, FRA, 2018)
Em cartaz no Panorama Digital do Cinema Suíço, esse O Vento Muda é um filme que todos nós já vimos antes, diversas vezes, com resultados diferentes, mas desenvolvimentos parecidos. Quer dizer, a essa altura todas as possibilidades para essa base já foram testadas, inclusive a que Bettina Oberli propõe aqui. Os clichês não necessariamente são um problema aos filmes, mas quando até as cenas são pronunciadas para o espectador com alguma antecedência por conta de já termos tido acesso a esse desenvolvimento narrativo, fica a dúvida dos motivos reais de se importar com o todo.
Se não, vejamos: um casal de relação estável e feliz se desequilibra com a chegada de um estranho, que provoca desejos desconhecidos na esposa e acaba criando uma fenda em diversas aspectos do casal, mostrando uma fragilidade inesperada entre eles. A premissa batida nem incomoda tanta quanto o desenrolar da trama, que contém sequências inteiras já vistas anteriormente, que vão desembocar em situações igualmente repetitivas, que acabam resultando em decisões que todos nós já testemunhamos no cinema; em determinado momento, pairam no ar as razões para acompanhar o filme até o fim.
Não tem a ver com o talento da diretora para conduzir a história, ou do elenco para vivê-la. Ainda que a cinematografia chame a atenção, ainda que a trilha sonora tenha uma delicadeza na hora de emoldurar musicalmente as cenas, o roteiro de autoria de Oberli e Antoine Jaccoud (que desenvolveu os infinitamente superiores Minha Irmã e Home) e colaboração de Céline Sciamma (como a autora de Retrato de uma Jovem em Chamas conseguiu ver isso e se manter no projeto?) não caminha por nenhum lugar novo da cena um, com a implicância inicial, até o desfecho, clamando por liberdade; não passa de um amontoado de cenas já vistas antes.
Até o imbróglio de pano de fundo, a visita de uma jovem que passará o verão com eles e que chega arredia e irascível e vai embora emocionada de tanto amor por todos. também ela nada tem de novo para desdobrar, e acaba ficando cada vez menos relevante no roteiro, para terminar quase sem qualquer importância ou relevância. Infelizmente O Vento Muda não consegue sequer dar uma roupagem diferenciada aos seus personagens, e lá pelas tantas o filme se descontrola de vez e um dos protagonistas muda totalmente de personalidade, de maneira desastrosa.
O trio de protagonistas não tem absolutamente nenhuma culpa no resultado final, inclusive os três fazem o possível para extrair substância emocional da experiência. Melanie Thierry (de Destacamento Blood) é uma atriz geralmente muito intensa e possante em cena, não consegue fazer sua Pauline se destacar; Pierre Deladonchamps (de Um Estranho no Lago) tem o trabalho mais difícil ao se deparar com um Alex que se descaracteriza, embora ele tente imprimir verdade o tempo todo; Nuno Lopes (que praticamente repete a pegada de A Prima Sofia) é o menos exigido, mas nunca deixa de ter presença.
O Vento Muda é uma produção que serve como contraponto a quem disser que o cinema europeu é sempre mais instigante, efervescente e novo que uma típica produção americana de entretenimento. Sem ter muito a oferecer, o filme representa o cinema dito “de arte” recorrendo a uma fórmula gasta para minimamente existir.
Um grande momento
O nevoeiro