Crítica | CinemaDestaque

Operação Natal

Um genérico que funciona

(Red One , EUA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Comédia, Aventura
  • Direção: Jake Kasdan
  • Roteiro: Chris Morgan, Hiram Garcia
  • Elenco: Dwayne Johnson, Chris Evans, J. K. Simmons, Lucy Liu, Bonnie Hunt, Kiernan Shipka, Kristofer Hivju, Nick Kroll, Wesley Kimmel
  • Duração: 120 minutos

Hollywood está cada vez mais desprovida de imaginação, e até quando resolve apelar para uma nostalgia vazia, sem conexão com o passado, o resultado é um título cuja reciclagem nos faz não rememorar o passado, mas nos trancafiar por lá. Operação Natal custou absurdos 250 milhões de dólares, e acredite se quiser, o dinheiro está impresso na tela. Um festival de efeitos especiais quase ininterruptos, nos causa estranheza que um filme que apele tão abertamente ao afetuoso, seja o oposto do que tal sentimento gostaria de passar. Como todo produto que não se reconhece como nenhuma outra coisa, estamos diante de um exemplar corajoso de cinema em larga escala, daqueles cujo insucesso é perceptível e os gastos propostos, inexplicáveis. 

Jake Kasdan, filho de um cineasta tão especial quanto Lawrence Kasdan, que via os rasgos de humanidade por onde passava e a empregava onde quer que fosse, sendo um trabalho maior ou menor, é um profissional contratado pelo esquema industrial de Hollywood. Nesse sentido, sua filmografia é também antônima a do pai: um bando de filmes cuja alma não passa de um vestígio pré-programado por uma inteligência artificial. Seus lapsos de sinceridade foram A Vida é Dura (biografia country fictícia protagonizada por John C. Reilly) e o remake de Jumanji, apenas a primeira parte. Operação Natal o leva de volta ao ato de ganhar dinheiro e tentar fazer os produtores conseguirem o mesmo. 

Nem lampejo de originalidade passa por aqui, a não ser que consideremos fresca a junção de muitos roteiros em um. Parte do princípio de que o Papai Noel existe (mais uma vez) e uma criança cínica se tornou um adulto fora-da-lei (mais uma vez), porém, a única pessoa capaz de resgatar o bom velhinho de um sequestro – opa, temos algo aí. Infelizmente, o desenvolvimento aponta para o tradicional “então esse ano não teremos Natal”, mas o filme não tem um senso de urgência mesmo dentro da fantasia. Embora falte apenas 24 horas para a noite do dia 24 de dezembro, os personagens não parecem preocupados com o evento. A ideia é a da diversão pura e simples, sem qualquer revés. 

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O surpreendente, depois de toda essa preleção, é perceber que Operação Natal funciona em seu lugar muito modesto. Vejam bem: Dwayne Johnson (que, pra mim, será sempre The Rock) há pouco tempo lançou algo que tem essas características, chamado Alerta Vermelho. Onde nada funcionou lá, em carisma, interesse ou sedução, aqui se encaixa como uma luva. Talvez porque exista uma artificialidade muito declarada, os excessos acabam mostrando uma nova camada do que é possível. Vejam bem, temos um Papai Noel quase halterofilista, um duende do tamanho de um armário, e Bonnie Hunt revivendo seus personagens de Beethoven Doze é Demais. A combinação de conforto é reconhecida quase imediatamente, a despeito do que parece fora do lugar. 

O problema é que, para cada sensação reconfortante, o filme responde com algo bastante preguiçoso. A começar pela escalação dos protagonistas, Johnson e Chris Evans. Esse parece o resultado do que o chat GPT responderia ao roteiro, em uma escalação hipotética, e como estamos falando de atores muito requisitados nos últimos tempos, Operação Natal ainda ganha uma cara repetitiva. Para piorar a situação, Evans não estabelece qualquer esforço em cena, mostrando um de seus momentos mais preguiçosos. Então a alegria de ver J. K. Simmons e Lucy Liu em cena acabam sendo atrapalhados pela falta de inspiração de alguém que deveria se mostrar mais empolgado, para justificar incluindo o papel de pai que representa. 

Operação Natal, por assim dizer, tem prós e contras. Talvez os contras superem a contagem final, mas existe um caráter afetivo escondido em algum lugar dessa produção de corpo gigante e coração antigo. Vem a lembrança, entre outros títulos, de algo como Um Herói de Brinquedo, anabolizado; infelizmente Kasdan não tem a pureza que residia em Chris Columbus, por exemplo. No lugar onde esse filme ocupa hoje, onde os filmes são bancados pelo streaming (como a Amazon aqui, que permitiu sua ida aos cinemas), o espaço público para esse produto só fica menor e menor. Ficamos então com essa impressão de que não precisaria de toda essa escala para acessar o espectador, quando o Papai Noel e seu duende de pedra trocam a respeito do futuro dos Homens.

Um grande momento
O sequestro 

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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