No início deste mês, mais uma vez o mundo voltou os olhos para o Oriente Médio e assistiu a mais um capítulo do infindável confronto entre Israel e Palestina. O ataque que durou dias e resultou, até o último dia 20, em 228 pessoas mortas no território palestino e 12 no israelense, muitas delas civis, e mais de 52 mil desabrigados na Faixa de Gaza, é mais um capítulo de uma história marcada por questões territoriais, históricas e religiosas que não somos capazes de entender. Desde 1948, várias foram as tentativas de acordo, algumas promovidas com apoio estrangeiro, como os conhecidos Acordos de Oslo, agora contados nesta produção da Dreamworks, distribuída pela HBO.
Crônica de um fracasso anunciado, os eventos de Oslo ocorreram no início dos anos 1990 e talvez tenham sido o mais próximo que as duas nações chegaram da paz. A construção do roteiro, já ciente de sua triste previsibilidade, é pela quebra no tempo. De Mona Juul, personagem de Ruth Wilson, tentando se proteger nas ruas durante a Segunda Intifada — como se chamou a segunda revolta civil contra a ocupação Israelense na região palestina –, em flashback voltamos às primeiras tratativas de seu marido, Terje Rød-Larsen (Andrew Scott) para promover o encontro de representantes dos dois países em local neutro para que pudessem dialogar.
Com um tema espinhoso, onde qualquer tomada de posição é grave demais, é perceptível a constante vigilância do roteirista J.T. Rogers e do diretor Bartlett Sher para que não haja nenhum desequilíbrio muito evidente entre os lados ou que posicionamentos pessoais fiquem visíveis. Alguns pontos diplomáticos entre a Noruega e os dois países são omitidos, outros são tratados rapidamente e cada postura dos personagens tem outra na mesma medida. Perceptível também o quanto isso faz com que a falta de experiência dos realizadores com o formato se destaque no resultado, em um filme que tenta fugir do teatral a todo tempo e se confunde em elementos que são incoerentes entre si, dificultando determinar a linguagem escolhida.
Há um quê de limitação em Oslo. Muito de sua produção parece ser improvisada, plástica além da conta, principalmente em cenários e, pior, nas atuações. Wilson, da série The Affair, não consegue transmitir qualquer verdade e parece estar sempre alheia ao que acontece à sua volta. Scott, de Fleabag, até apresenta algo a mais, mas também segue desestimulado em cena. Se há interpretações que se destacam e terminam por valer o filme são as de Salim Dau (Tel Aviv em Chamas) como Ahmed Qurei, o representante de Yasser Arafat, e Jeff Wilbusch (Nada Ortodoxa) como Uri Savir, o representante de Yitzhak Rabin. Com figuras marcantes e que se desconstroem com o tempo, ambos conseguem trazer interesse ao intrincado texto. Pelo menos, ao texto dos dois.
Porém, há muitos outros elementos, e outras reviravoltas que nem sempre têm o tempo necessário para se dar. Personagens surgem e se vão contando apenas com a legenda para justificar-se, a definição de importância de alguns eventos se estabelece pela elaboração do figurino e até mesmo as elipses temporais se confundem. É o clássico filme que tenta dar conta de coisas demais, mas não consegue ser sintético e nem pode se prolongar. Como representar a tratativa de acordo de um conflito deste tamanho e desta complexidade mantendo esse distanciamento e esta quantidade de ausências?
Oslo, assim como o próprio evento real que tenta retratar, está cheio de boas intenções e tem um papel importante ao publicizar um momento importante da história, mas infelizmente não consegue se concretizar. Com um final piegas e extremamente apegado à imagem de sua protagonista, que tenta a todo custo transformar em heroína, deixa o fato, mas como produção cinematográfica acaba não durando muito tempo na cabeça de quem o assiste.
Um grande momento
É pegar ou largar