Em meio as muitas cores, calores e contrastes da cultura peruana emerge a força de algumas mulheres. Sozinhas, prostituídas, alvitadas por aqueles que só querem explorar seus corpos e vivências, elas se rebelam e encontram a si próprias em Pachamama, mãe terra que é a principal divindade entre os povos de origem quíchua. Feito de sonho e de dor, Pelo Nome de Tânia é uma experiência sensorial – e real – bastante valorosa.
Parte da seleção da Berlinale Mostra Generation e da Mostra Un Certain Regard em Cannes, o filme de Mary Jiménez e Benedicte Liénard coloca depoimentos e histórias muito reais, de resiliência perante uma sociedade que expropria corpos femininos como os minérios que são extraídos da terra. O filme inicia com a protagonista na beira do rio Amazonas, refletindo sobre o caminho que trilhou desde seu pequeno povoado, no norte do Peru, até o alto do caudaloso rio, onde acompanhada de várias companheiras, cruzou águas para vender o corpo em troca de subsistência.
Com planos alongados, contemplativos, closes delicados das meninas trocando afeto e se confortando, Pelo Nome de Tânia entrega similitude com Los Silêncios de Beatriz Seigner. Porém se o filme da cineasta brasileira trata da puberdade, do pós-vida e de ritos de passagem em nossa sociedade ancestral sul-americana, a produção belga-neerlandesa-peruana se debruça sobre a perda da inocência das jovens mulheres. Da falta de escolhas, de perspectivas e como que a destruição da floresta também é a degradação emocional e física delas.
Priscila, a mais citada por aquela que vai adotar o codinome – ou nome de guerra de Tânia – e que é a narradora do filme, pode ser muitas…. Representa uma gama enorme de meninas arrancadas de suas casas ou órfãos, vendidas por familiares em troca de comida. Filhas da miséria e do desalento, que se amontoam em redes como que para, entre as tramas das mesmas, tenham a sensação de que são humanas quando mantidas unidas.
“Desde pequena rodava de casa em casa, sem família”
Entre closes ups dos rostos femininos, inserts de um rio banhado por cores neons, da noite que enche de mistério a mata, é possível para elas adormecerem mesmo que um pouco. Pois trabalham e devem cada vez mais. “Tânia”, prestes a dar um depoimento ao policial, relembra mentalmente quando foi estuprada por um cliente. Como ficou empapada de sangue e a cafetina mandou lavar-se para receber o próximo cliente . Tenta descrever o ato criminoso, sem emoção, com a certeza de que será encarada como apenas uma mulher descartável e menos como uma vítima da violência. Entre dores, ela e as outras evocam amores seja em webnamoros ou nudes compartilhados apenas entre elas.
Sucedem-se cenas de uma pesca quase que tribal. Homem peixe tenta capturar com as mãos. Se afoga, retorna, o fôlego retoma. É “Tânia”, passando a compreender que, como o peixe voraz que se esgueira pela mão do pescador, ela não se deixará aprisionar. É de esguela, num respiro, que consegue escapar. Que relembra as fatalidades e sonha com uma vida menos ordinária.
Um grande momento
A afirmação do nome no fim da jornada