( By the Name of Tania, BEL, HOL, PER, 2019)
- Gênero: Documentário
- Direção: Mary Jimenez, Bénédicte Liénard
- Roteiro: Mary Jimenez, Bénédicte Liénard
- Duração: 85 minutos
Em meio as muitas cores, calores e contrastes da cultura peruana emerge a força de algumas mulheres. Sozinhas, prostituídas, alvitadas por aqueles que só querem explorar seus corpos e vivências, elas se rebelam e encontram a si próprias em Pachamama, mãe terra que é a principal divindade entre os povos de origem quíchua. Feito de sonho e de dor, Pelo Nome de Tânia é uma experiência sensorial – e real – bastante valorosa.
Parte da seleção da Berlinale Mostra Generation e da Mostra Un Certain Regard em Cannes, o filme de Mary Jiménez e Benedicte Liénard coloca depoimentos e histórias muito reais, de resiliência perante uma sociedade que expropria corpos femininos como os minérios que são extraídos da terra. O filme inicia com a protagonista na beira do rio Amazonas, refletindo sobre o caminho que trilhou desde seu pequeno povoado, no norte do Peru, até o alto do caudaloso rio, onde acompanhada de várias companheiras, cruzou águas para vender o corpo em troca de subsistência.
![Pelo Nome de Tânia](https://cenasdecinema.com/wp-content/uploads/2020/11/Pelo-nome-de-tania_interno2.jpg)
Com planos alongados, contemplativos, closes delicados das meninas trocando afeto e se confortando, Pelo Nome de Tânia entrega similitude com Los Silêncios de Beatriz Seigner. Porém se o filme da cineasta brasileira trata da puberdade, do pós-vida e de ritos de passagem em nossa sociedade ancestral sul-americana, a produção belga-neerlandesa-peruana se debruça sobre a perda da inocência das jovens mulheres. Da falta de escolhas, de perspectivas e como que a destruição da floresta também é a degradação emocional e física delas.
Priscila, a mais citada por aquela que vai adotar o codinome – ou nome de guerra de Tânia – e que é a narradora do filme, pode ser muitas…. Representa uma gama enorme de meninas arrancadas de suas casas ou órfãos, vendidas por familiares em troca de comida. Filhas da miséria e do desalento, que se amontoam em redes como que para, entre as tramas das mesmas, tenham a sensação de que são humanas quando mantidas unidas.
![Pelo Nome de Tânia](https://cenasdecinema.com/wp-content/uploads/2020/11/Pelo-nome-de-tania_interno1.jpg)
“Desde pequena rodava de casa em casa, sem família”
Entre closes ups dos rostos femininos, inserts de um rio banhado por cores neons, da noite que enche de mistério a mata, é possível para elas adormecerem mesmo que um pouco. Pois trabalham e devem cada vez mais. “Tânia”, prestes a dar um depoimento ao policial, relembra mentalmente quando foi estuprada por um cliente. Como ficou empapada de sangue e a cafetina mandou lavar-se para receber o próximo cliente . Tenta descrever o ato criminoso, sem emoção, com a certeza de que será encarada como apenas uma mulher descartável e menos como uma vítima da violência. Entre dores, ela e as outras evocam amores seja em webnamoros ou nudes compartilhados apenas entre elas.
Sucedem-se cenas de uma pesca quase que tribal. Homem peixe tenta capturar com as mãos. Se afoga, retorna, o fôlego retoma. É “Tânia”, passando a compreender que, como o peixe voraz que se esgueira pela mão do pescador, ela não se deixará aprisionar. É de esguela, num respiro, que consegue escapar. Que relembra as fatalidades e sonha com uma vida menos ordinária.
Um grande momento
A afirmação do nome no fim da jornada