(Polisse, FRA, 2011)
Direção: Maïwenn
Elenco: Karin Viard, Joey Starr, Marina Foïs, Nicolas Duvauchelle, Maïwenn, Emmanuelle Bercot, Frédéric Pierrot, Riccardo Scamarcio, Sandrine Kiberlain
Roteiro: Maïwenn e Emmanuelle Bercot
Duração: 127 min.
Nota: 10
Parece um pouco forçado começar um texto falando sobre uma obra e se utilizar de um imperativo sem nem ao menos apresentar melhor do que se trata. Mas existem filmes que não podem passar batido, e se já não deu pra perceber, Polissia me empolgou bastante. Arrisco-me a dizer, inclusive, que Polissia tem chances reais de ser um dos melhores do ano. E não sou só eu que estou dizendo isso. O prêmio do Júri do Festival de Cannes do ano passado (sim, o filme está bem atrasado por aqui) me ajuda no coro. Se isso ainda não basta, digo que Polissia é, no mínimo, um belo trabalho de roteiro e direção, enfocando um panorama diverso de personagens interessantíssimos e envolvendo absurdas histórias reais de abusos infantis.
Mas não pense que esses abusos tomam conta da história, numa corrida para prender um pedófilo X por estuprar uma criança Y. O enfoque aqui é outro. Os protagonistas são os policias que trabalham na BPM (Brigada de Proteção aos Menores), situada em Paris. Nós acompanhamos o dia-a-dia desses subestimados heróis, que tem de lidar com diversas formas de abusos com crianças e adolescentes, que vão desde a maliciosidade cometida por aqueles que deveriam proteger essas crianças (pais, avôs, professores etc.), crimes de enfoque religioso (adolescentes mulçumanas que são obrigadas a casar) e o tráfico de menores. É mostrado o dia-a-dia desse departamento, as fofocas no refeitório, os problemas familiares e psicológicos de cada um e o companheirismo existente ali.
Os méritos de Polissia apontam para um nome proeminente: Maïwenn. Para quem já assistiu ao filme (e para quem vai) atentem-se, pois ela interpreta Melissa, a fotógrafa incumbida de registrar diversos momentos do cotidiano da BPM. Além de atuar, Maïwenn é coautora do longa (trabalho em parceria com Emmanuelle Bercot, que também está no elenco, mas sem grande destaque), além de acumular o cargo de diretora da obra. E o trabalho de direção é coerente. Por ser um filme com muitos personagens, e diversos casos homeopáticos, corria o risco de ficar disforme. O que de inicio parecia confuso, logo faz embarcar sem nenhum problema na premissa, graças ao grandioso trabalho de direção e elenco.
Maïwenn é ex-mulher do também diretor francês Luc Besson, com quem teve uma filha em 1993, quando tinha apenas 17 anos. O casamento durou até Luc Besson trocá-la por Milla Jovovich, atriz que ele conheceu no set de O Quinto Elemento, de 1997.
A naturalidade do elenco é o que mais fica marcado em Polissia. E isso ganha força em duas situações cruciais do filme. Nas poucas horas de descontração – uma delas durante o próprio ofício, ao registrarem o caso de uma adolescente que fez sexo oral num grupo de rapazes para recuperar o celular roubado (“mas era um smartphone”, ela tenta se justificar) -, e também nas derradeiras discussões entre eles. Um desses conflitos, por sinal, é tão bem trabalhado, que fica impossível não dar os devidos créditos ao filme, isso sem contar o final, que me deixou completamente devastado.
Polissia é isto. Um filme onde os minutos passam voando, num espiral de sentimentos. Sentimentos estes que os personagens conseguem transparecer com tanta cumplicidade.
Um Grande Momento
– Seu treinador tinha uma doença que se chama pedofilia. Você sabe o que é isso?
– Se ele tem uma doença, porque ele está na cadeia e não num hospital?
Links
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