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Porto Príncipe vence o Cine PE 2023

Curta animado ganha o maior número de prêmios

Depois de cinco dias de muitos filmes, debates, rodas de conversas e, mais informalmente, reencontro com amigos, fotos, muito trabalho e algum cansaço, o Cine PE 2023 termina com um vencedor inesperado. Depois de rechear outros dois filmes de muitos prêmios, o júri oficial do festival outorgou a Porto Príncipe a distinção de melhor filme da competição desse ano. Produção de Santa Catarina, o filme é a segunda vitória seguida da mostra pernambucana a ir para o Sul do país; ano passado, o paranaense Casa Izabel foi o grande vencedor.

O filme é uma espécie de retrato íntimo sobre a relação que nasce entre uma senhora solitária e um imigrante haitiano, repleto de traumas. Essa amizade será posta à prova por inúmeras situações onde o racismo não se esconde, e sua condição de sobrevivente de uma tragédia fará com que, mesmo se gostando, os amigos se encontrem em situação-limite. De caráter humanista, o filme é dirigido por Maria Emília de Azevedo, e era o único da competição principal dirigido por uma mulher. Além de melhor filme, a produção ganhou um único prêmio, o esperado troféu de melhor ator para Diderot Senat.

Entrelinhas e Agreste ganharam inúmeros troféus, e foram os grandes vencedores em quantidade. Sobraram também menções a Frevo Michiles e Ijó Dudu, dois documentários que mexeram com a plateia que encheu as sessões no Teatro do Parque.

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No entanto, podemos dizer que nada se compara ao que aconteceu com Eu Nunca Contei a Ninguém. O curta de animação conseguiu o raro feito de ser o grande vencedor de sua categoria, combinando os prestigiados troféus de melhor filme e melhor direção para um estupefato e muito emocionado Douglas Duan, que provocou a mesma emoção na plateia com a história de um menino que precisa se despedir do avô – e que tem inspirações autobiográficas. O diretor já vinha emocionando a plateia desde a exibição do filme, onde relatou sua própria relação familiar.

Entre os curtas pernambucanos, Quebra Panela também combinou filme e direção, com a espontaneidade esfuziante do seu diretor, Rafael Aneroli, dando as caras em uma premiação que privilegiou a aparente simplicidade dos temas em contraponto com a sofisticação de suas realizações, para os três grandes vencedores.

JÚRI POPULAR – Para o público, o melhor curta-metragem pernambucano foi Invasão ou Contatos Imediatos do Terceiro Mundo, enquanto que o curta-metragem amapaense Essa Terra É Meu Quilombo, de Rayane Penha, foi eleito o melhor curta nacional. O melhor longa-metragem escolhido pelo júri popular foi Agreste, de Sérgio Roizenblit.

PRÊMIO DA CRÍTICA – Composto pelos jornalistas e críticos de cinema Kel Gomes, Vítor Búrigo e César Castanha, o júri da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) concedeu a Calunga de Melhor Longa-Metragem para o documentário pernambucano Frevo Michiles, de Helder Lopes. A crítica especializada escolheu Moventes, de Jefferson Cabral, como Melhor Curta Nacional.

PRÊMIO CANAL BRASIL DE CURTAS – Com júri formado pelos jornalistas e críticos Enoe Lopes, Ismaelino Pinto, Kel Gomes, Luiz Carlos Merten e Miguel Barbieri, o prêmio Canal Brasil de Curtas elegeu Eu Nunca Contei a Ninguém, de Douglas Duan, como o melhor curta desta edição. Com o objetivo de estimular a nova geração de cineastas, o Canal Brasil oferece um troféu e R$ 15 mil para o melhor filme de curta-metragem, que também é exibido em sua grade de programação.

Abaixo, a lista de vencedores completa:

MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS PERNAMBUCANOS

MELHOR FILME – Quebra Panela, de Rafael Anaroli

MELHOR DIRETOR – Rafael Anaroli, por Quebra Panela

MELHOR ROTEIRO – Virgínia Guimarães, por Filhos Ausentes

MELHOR FOTOGRAFIA – Breno César, por Coração da Mata

MELHOR MONTAGEM – Priscilla Maria, Victória Drahomiro e André Hora, por Coração da Mata

MELHOR EDIÇÃO DE SOM – Matheus Mota e Jeff Mandú, por Depois do Sonho

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE – Lia Letícia, por Quebra Panela

MELHOR TRILHA SONORA – Antônio Nogueira, por Depois do Sonho

MELHOR ATOR – Paulo César Freire, por Invasão ou Contatos Imediatos do Terceiro Mundo

MELHOR ATRIZ – Geraldine Maranhão, por Alto do Céu

MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS NACIONAIS

MELHOR FILME – Eu Nunca Contei a Ninguém (PE), de Douglas Duan

MELHOR DIRETOR – Douglas Duan, por Eu Nunca Contei a Ninguém (PE)

MELHOR ROTEIRO – Paola Veiga, Roberta Rangel e Emanuel Lavor, por Instante (DF)

MELHOR FOTOGRAFIA – Lucas Loureiro, por Fossilização (RJ)

MELHOR MONTAGEM – Arthur B. Senra, por Virtual Genesis (DF)

MELHOR EDIÇÃO DE SOM – João Milet Meirelles, por Quintal (BA)

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE – Douglas Duan, por Eu Nunca Contei a Ninguém (PE)

MELHOR TRILHA SONORA – Douglas Duan, por Eu Nunca Contei a Ninguém (PE)

MELHOR ATOR – Edmilson Filho, por Única Saída (RJ)

MELHOR ATRIZ – Ju Colombo, por Fossilização (RJ)

MOSTRA COMPETITIVA DE LONGAS-METRAGENS

MELHOR FILME – Porto Príncipe, de Maria Emília de Azevedo (SC/RJ)

MELHOR DIRETOR – Guto Pasko, por Entrelinhas (PR)

MELHOR ROTEIRO – Newton Moreno e Marcus Aurelius Pimenta, por Agreste (SP)

MELHOR FOTOGRAFIA – Humberto Bassanello, por Agreste (SP)

MELHOR MONTAGEM – Lucas Cesario Pereira, por Entrelinhas (PR)

MELHOR EDIÇÃO DE SOM – Kiko Ferraz, por Entrelinhas (PR)

MELHOR TRILHA SONORA – Jota Michiles, por Frevo Michiles (PE)

MELHOR DIRETOR DE ARTE – Isabelle Bittencourt, por Entrelinhas (PR)

MELHOR ATOR COADJUVANTE – Roberto Rezende, por Agreste (SP)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE – Luci Pereira, por Agreste (SP)

MELHOR ATOR – Diderot Senat, por Porto Príncipe (SC/RJ)

MELHOR ATRIZ – Gabriela Freire, por Entrelinhas (PR)

MENÇÃO HONROSA – O Júri de Longas-Metragens, composto pela produtora de casting Denise Del Cueto, o diretor e produtor executivo Oswaldo Massaini Filho, o ator Sérgio Fidalgo, o produtor cultural Márcio Henrique e a atriz Letícia Spiller, concederam menção honrosa ao filme Ijó Dudu, Memórias da Dança Negra na Bahia (BA), de José Carlos Arandiba, pela relevância do tema abordado, referente à memória, à história e à luta de gerações de mulheres e homens artistas pretos que fizeram de seus corpos e de suas expressões as principais ferramentas de afirmação política e pessoal.

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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