O poder é uma prática social que se forma de maneira histórica e está em todos os lugares, provocando ações numa malha de relações flutuantes. Todos os níveis e os indivíduos jogam com sua relação com ele, seja como é atingido, seja no papel de domínio. O fato é que o poder não deixa de ser algo simbólico e, em geral, força e dinheiro são elementos que reforçam esse ideal. Ray Donovan, disponível no Globoplay, traz à tona a microfísica que rege o tecido de toda a sociedade que vai do público ao privado.
A cada episódio, um chique e famoso se encontra em alguma situação comprometedora (cena de homicídio, com posse de drogas ou armas, e todo tipo maluco de escândalo) e recorre aos serviços do Limpa Barra profissional Ray (Liev Schreiber) que, com sua equipe, não mede esforços para resolver o problema. Usando de métodos nada pacíficos ou exatamente dentro da lei, sempre tem desdobramentos incríveis e grandes surpresas e emoções.
De personalidade sombria e um emocional que está evidente logo vai explodir, o protagonista entrega não apenas muita ação com seu jeito de lidar com as coisas, mas também aperta nosso coração com a forma como se perde na relação com sua família. Uma das coisas mais geniais de Ray Donovan é como ela vai deteriorando todas as relações e seus personagens por conta do poder.
O lado privado de Ray tem um mar de mentiras, tabus, traições, falta de confiança e burrada mesmo. Sua família é bastante peculiar, além de uma esposa que merece um carinho especial de quem assiste, tem irmãos polêmicos e um pai — Mickey (Jon Voight), que talvez seja um dos melhores personagens de série dos últimos tempos — que traz um sabor ácido para o jogo de poder, por questioná-lo e subvertê-lo.
Michel Foucault foi um dos maiores filósofos a discutirem sobre o poder. Para ele, trata-se de uma relação assimétrica que sempre vai levar (ou buscar estabelecer) a uma autoridade e a sua obediência de uma forma permanente e contínua, eternizando tal domínio. Tal condição podemos ver claramente em Ray Donovan no jogo constante de opressor-oprimido e das confusões criadas quando se tenta trazer simetria à arena.
Umas das melhores séries possíveis para se maratonar e se impressionar com tanta ação e confusão, daquelas que fazem torcer e se perder nos sentimentos criados pelos personagens e pelo enredo. Ótima também para quem gosta de questionar, se auto-questionar e refletir sobre tudo isso que tá aí.
O Melhor Episódio
T02E12 – O Capitão