- Gênero: Terror
- Direção: Felipe Vargas
- Roteiro: Alan Trezza
- Elenco: Emeraude Toubia, David Dastmalchian, Paul Ben-Victor, Costanza Gutierrez, Diana Lein, José Zúñiga, Guillermo Garcia, Emilia Faucher
- Duração: 85 minutos
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Se tem algo em Rosario que chama muito a atenção (e isso precisa ser pontuado, e até mesmo comemorado) é o fato de que sua ambientação quase que por completa é delineada por não-locações, ou seja, estúdios, embora sua personagem-título percorra alguns ambientes distintos. Excluindo uma rápida cena na frente de um prédio, todo o resto do filme – incluindo uma forte sequência ambientada na entrada de uma estação de metrô – foi rodado em cenários construídos para o filme, ou aproveitados de alguma outra produção. Falo isso porque obviamente o filme de Felipe Vargas é uma produção barata, rodado na Colômbia mas chamando tudo de Nova York, onde a economia deve ter sido um mote de atenção para o orçamento reduzido e isso é um ganho que o título ganha em criatividade para os profissionais da arte.
Esse possível reaproveitamento de ambiente, que no design se configurou de maneira positiva, pode ser uma característica do filme em sua totalidade, vide que o roteiro é também ele um apanhado de reciclagem de muitos clichês do gênero terror. Sem ao menos demonstrar a personalidade de copiar um título específico (ou mesmo vários), Rosario é a síntese do que o fã do horror espera de uma narrativa, sem representar avanço para qualquer cinematografia na criação de suas imagens. Para o espectador que procura uma distração ligeira e descerebrada, ou um grupo de amigos adolescentes em fim de tarde no shopping, talvez o filme funcione, mas ainda se vai ao cinema hoje de maneira tão descompromissada assim?
Tendo sido adiado o lançamento em quase 4 meses na sua data original, o filme ultrapassa os limites do genérico. Sabemos que o terror é um veículo para títulos dessa categoria, e que o Brasil deliberadamente importa produções vazias para ocupar salas sem que isso represente algo de relevante. Em um ano com tantos exemplares formidáveis do gênero, onde o primeiro favorito ao Oscar inclusive habita esse universo (Pecadores), um filme como Rosario também acaba por soar antiquado. Existe um olhar para a cultura latina – a colombiana, no caso – mas mesmo esse ensejo parece arraigado de elementos preconceituosos e um desserviço que o filme parece entender lá pela segunda metade, quando já é tarde para retornar do que foi construído.
Entre os códigos do gênero, o filme ocupa os lugares mais óbvios, que o público de boa vontade chamaria de ‘tradicionais’. O filme acompanha essa personagem-título onipresente, que presenciou uma cena estranha na sua primeira comunhão, e que nunca tentou investigar tais imagens quando adulta. Tornou-se então uma mulher que abandonou a família (mais especificamente a mãe e a avó), e quando recebe a ligação sobre a morte da segunda, precisa fazer as pazes com o passado renegado às custas de uma madrugada de pesadelo ao lado do corpo da senhora, que ela descobre ter sido uma espécie de bruxa. Outra qualidade: Rosario não poderia ser mais simples – a protagonista passa uma madrugada assombrada pelo fantasma de uma avó com hábitos de feitiçaria. Absolutamente concentrado, o filme não tenta fugir do que se é, uma produção muito modesta, com uma direção de arte que dá o tom do horror.
O problema é que qualquer filme precisa ir além das intenções teóricas, e aqui não há muito charme ou propósito, e a partir de determinado momento, mesmo a falta de ambição começa a pesar negativamente. Além disso, o filme conta com uma atriz muito fraca para carregar esse protagonismo absoluto: Emeraude Toubia é uma atriz de TV muito inexperiente, sua presença em cena muitas vezes provoca risos involuntários e o material que ela tem para desenvolver não a ajuda também. Um bloco de cenas em especial, onde ela precisa demonstrar dons milagrosamente adquiridos, é constrangedora por tudo o que se vê, dando a Rosario uma atmosfera amadora e triste.
O último ponto positivo é a presença de dois belos atores veteranos em cena, que garantem dignidade a seus momentos. Paul Ben-Victor (de O Irlandês e que está excelente como o pai do protagonista de Ninguém Quer) é o zelador do prédio em ruínas que é o cenário do filme, e o maravilhoso David Dastmalchian (de Entrevista com o Demônio) é o vizinho da falecida, que aparece em momentos inoportunos em cena. Rosario respira por aparelhos graças a essas presenças, em um roteiro onde todas as viradas são esperadas, onde a direção não busca qualquer impacto, e as soluções visuais remetem a um cinema que não é sequer produzido ainda. Os elementos em separado não fazem a diferença para um filme que, em seus melhores momentos, não tem qualquer coisa que o torne marcante.
Um grande momento
Enfim, a air-fryer.


