- Gênero: Drama
- Direção: Mikko Mäkelä
- Roteiro: Mikko Mäkelä
- Elenco: Ruaridh Mollica, Jonathan Hyde, Ingvar Sigurdsson, Hiftu Quasem, Dylan Brady, Pedro Minas
- Duração: 105 minutos
-
Veja online:
Mikko Mäkelä foi citado pela revista Indiewire como um dos 25 cineastas LGBTQIAPN+ mais importantes da atualidade; Sebastian mostra o motivo. Nascido na Finlândia mas naturalizado no Reino Unido, está justificado aí o quão representativo do silêncio e da repressão estão encapsulados em seu filme, uma obra que provoca diversos gatilhos em pessoas queer, de qualquer idade. Ainda que seu universo pareça mostrar uma realidade do qual não todos estão inseridos, ao olhar para as sutis entrelinhas vemos refletido memórias da juventude e da velhice dentro de um cenário que ainda exclui minorias, e que culpabiliza seus integrantes a viver sem prazer, apenas pela representatividade de seus corpos. Queremos um poucos mais que isso, não?
É muito forte que o filme seja lançado ao redor de Queer e Baby, quase apontando uma tendência sobre a negatividade do sentir entre criaturas gays. O que ecoa ainda mais da experiência de Sebastian é algo moderno na relação em como vivemos conectados ao nosso desejo, venha ele da forma que for, e sendo alimentado em suas profundezas. Há dois anos, a mesma Imovision lançou A Casa dos Prazeres, uma espécie de versão feminina do que acontece aqui. Mas esse novo quinhão sobre autores que adentram o campo da prostituição como pesquisa de trabalho é mais particularizado aqui, pois a vida pública de Max é tão revelada quanto a privada, até elas começarem a se confundir e provocar um colapso no todo.
Mäkelä filma com uma mistura de curiosidade e volúpia, transformando todo o caminho de seu protagonista em um espaço pavimentado para o tesão. São imagens sugeridas, mas que atiçam a libido pela maneira sincera com que mesmo os personagens sem nome se relacionam com ele. Ampliando o leque do sexo entre homens para um público hetero, Sebastian organiza suas sequências sem pudores ou vontade de chocar; é uma fatia relevante do que está sendo contado, onde a necessidade de adentrar aquelas imagens é essencial para a compreensão de seu tipo central. Através desses atos sexuais frontais, o filme tenta montar o mosaico que começa a se deformar dentro das certezas do protagonista. O que ainda é necessidade de conhecimento e o que passa a ser impulso do desejo, é um trabalho que Max dividirá com o espectador.
O diretor ainda usa alguns lugares comuns do que é a investigação sobre alguém que não se revela para o mundo, ou para seus pares. A utilização de frestas, de lugares mal iluminados e espaços fechados em excesso transmitem a claustrofobia exata de quem, aos poucos, se vê encurralado nas fronteiras que criou para si. Junto aos coadjuvantes que pretendem explorar o que ele oferece a dinheiro, existe também um imperativo de esconder o que se faz e o que se é, que aos poucos Max percebe orgulhoso de feitos anônimos. Quando pretende ruir suas cenas, Mäkelä abre os planos para desvendar não apenas seu personagem-título como também quem o usa. O resultado é um filme cuja mise-en-scene muito bem pensada acaba se provando um pouco óbvia, sem perder a qualidade em seus propósitos.
O trabalho se Ruaridh Mollica é consistente o tempo todo, e suas interações definem o espaço de Sebastian dentro do que não será esquecido, no aspecto emocional. Sobra coragem ao ator porque seu corpo é um modo de nos aproximarmos de quem ele é, um bicho acuado diante do que não lhe oferecem. Se falta carinho a Max, também faltam muitas outras oportunidades de mostrar quem se pode ser. Se a relação com o personagem de Ingvar Sigurdsson (de Terra de Deus e Rebel Moon) é tóxica e quente em sua imposição, o que ele ambiciona ao lado de Jonathan Hyde (de O Brutalista) é uma caudalosa fonte de descobertas, da primeira a última cena. São esses dois homens que definem o status do protagonista, pro bem e pro mal, mostrando que suas possibilidades não podem depender dos outros, ou do desejo puramente carnal; precisamos desejar mais.
Ainda que essa história não seja exatamente repleta de originalidade, Sebastian dobra as expectativas do que vemos através da vontade hercúlea de seu diretor em mostrar a vida no limite das suas margens. Sem adentrar no maior espaço de sofrimento desferido a seu personagem, o que vemos é uma delicada amostra grátis a respeito de jovens adultos que não exatamente esperam a vida acontecer – simplesmente agem junto a ela. Sem explorar a tragédia que envolve tais ações para muitas pessoas, talvez Max/Sebastian estejam muito mais ao nosso alcance do que supomos. Talvez tenha um pouco de nós mesmos ali, no que é sentido por ele e no que é perdido também.
Um grande momento
Max se revela para Nicholas