Crítica | Streaming e VoDFestival do Rio

Sob a Sombra

(Under the Shadow, GBR/CAT/JOR, 2016)
Terror
Direção: Babak Anvari
Elenco: Narges Rashidi, Avin Manshadi, Bobby Naderi, Ray Haratian, Arash Marandi, Aram Ghasemy
Roteiro: Babak Anvari
Duração: 84 min.
Nota: 8 ★★★★★★★★☆☆

Difícil imaginar como foi a vida de uma mulher iraniana logo após a Revolução Islâmica, em uma Teerã em estado constante de alerta por causa da guerra. O diretor iraniano, Babak Anvari, na sua estreia em longas-metragens, traz o tema à tona

Sob a Sombra se passa no ano de 1980, durante os primeiros ataques da guerra das cidades – quando grandes cidades foram bombardeadas no conflito entre Irã e Iraque. Shideh vive com o marido e sua filha pequena em Teerã.

Depois da fracassada tentativa de voltar a estudar medicina e da convocação de seu marido para trabalhar em uma das zonas de conflito, ela se vê sozinha em um lugar que não gostaria de estar, vivendo uma vida que não gostaria de ter.

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Seguro na criação e manutenção do suspense, Anvari entrega um belo exemplar de horror. Com sustos bem encaixados e um competente uso de enquadramentos, silêncios e escuros, a tensão se estabelece aos poucos e fica até o fim.

Mas, como na maioria dos bons filmes de terror, é na metáfora que está a principal força do filme. Shideh, com seu vídeo-cassete escondido e sua fita de ginástica de Jane Fonda, ocupa um lugar que não é aquele que é o seu. Ela quer ter uma vida que a impedem de ter. E, pior, ela tem uma filha mulher que crescerá nesse lugar, com as mesmas liberdades cerceadas.

Entre elementos muito pontuais, escolhidos como marcantes na metáfora em si, estão, de um lado, djins, os demônios dos muçulmanos; mísseis, e até o próprio chador, véu utilizado pelas mulheres. Do lado oposto, fitas de vídeo, dedicatórias e fitas adesivas completam o quadro de embate.

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Além disso, há um interessante jogo de forças estabelecido entre mãe e filha. A questão do feminino, aliás, é interessantemente trabalhada no filme, principalmente no que diz respeito à maternidade e ao papel social pré-determinado da mulher mãe.

É muito difícil, ao espectador que, independente do lado do mundo que nasceu, não se identificar com o que vê e não se afeiçoar pela determinação e persistência de Shideh, que combate tudo aquilo e não desiste de marcar sua posição.

Sob a Sombra, coprodução do Reino Unido, Catar e Jordânia, foi uma das aquisições da Netflix no último Festival de Sundance e deve ser disponibilizado em breve no canal de streaming. O filme foi o escolhido pela Grã-Bretanha para representar o país no Oscar 2017, na categoria Melhor Filme em Língua Estrangeira.

Próxima sessão no Festival do Rio:
11/10, às 18h, no Cine Joia

Um Grande Momento:
Na janela.

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Links

IMDb
https://www.youtube.com/watch?v=D8AxkZnXAIk

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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