Crítica | Streaming e VoD

Tin & Tina

O horror é a realidade

(Tin & Tina , ESP, ROM, EUA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Rubin Stein
  • Roteiro: Rubin Stein
  • Elenco: Milena Smit, Jaime Lorente, Carlos G. Morollón, Anastasia Russo, Teresa Rabal, Sergio Ramos
  • Duração: 117 minutos

Nenhum outro país mais que a Espanha conseguiria produzir um filme com os elementos que Tin & Tina precisa para justificar suas texturas. Estreia da Netflix, o filme é recheado de camadas sócio-políticas que pavimentam a narrativa, um conto de horror lento referendado pelo clima de tensão no qual o país girava após a queda da ditadura franquista e o período conhecido como Transição, onde está inserido. Essas informações não são cruciais para o entendimento do que está sendo contado aqui, mas a produção ganha colorido extra com o espectador inteirado do momento específico, que verá em seus personagens arquétipos do período. Assim sendo, a movimentação simbólica ajuda na compreensão do pano de fundo onde tudo está alocado, sem prejudicar a compreensão do roteiro propriamente dito. 

Concebido como o desdobramento de um curta-metragem de mesmo título também dirigido e roteirizado por Rubin Stein, e protagonizado pela mesma Milena Smit. Como peões de um jogo de xadrez maior do que está sendo observado, cada passo dado pela narrativa que é apresentada, parece corresponder a um quadro maior de importância para um estudo da história espanhola em seu momento apresentado, mas principalmente em linhas históricas gerais. Não à toa, Tin & Tina abre seus trabalhos com a tentativa de golpe de estado no país de 1981, e encerra com um arrefecimento do estado das coisas, no ano seguinte. Ainda que, simbolicamente, encerrar um filme de teor político com um sepultamento também seja uma alusão direta para lados ambíguos – o fim de um ciclo, paralelo ao sombrio que segue. 

Com toda a qualidade de representação da historicidade local que não pode ser negada, Tin & Tina é uma produção que também anseia pela liberdade que o filme busca louvar. Um filme não pode ser refém exclusivo de seus símbolos para criar sentimento empático com o espectador, pelo contrário, é o que é visto que precisa acessar nossa análise livre, e não contar com a semiótica na totalidade da abordagem. Enquanto realizador, Stein constrói um quadro de profunda identificação com a cinefilia, porque sua obra também se comunica com outras tantas de língua espanhola, como O Orfanato e A Espinha do Diabo, incluindo seus aspectos políticos. Diferente dessas obras, no entanto, o roteiro de Stein cria encruzilhadas para si, ao intrincar as relações de tal maneira que não conseguimos, por muitas vezes, ver algo além do estereótipo. 

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O casal protagonista, por exemplo, é apresentado em um contexto romântico que muito rapidamente se desfaz na memória. Lola e Adolfo, de apaixonados, chegam em poucas cenas a uma dupla que se agride psicologicamente, pelos ditos ou não-ditos. Com inspirações muito óbvias ao clássico de Roman Polanski O Bebê de Rosemary (e Smit nem precisava cortar o cabelo para tal), a rememoração do original não remete a uma mudança radical entre o casal vivido por Mia Farrow e John Cassavetes, conforme o Mal se aproxima. Aqui é justamente o que acontece, transformando os personagens em agentes de um roteiro que está mais preocupado em promover a ação do que em compreendê-la, sem dar tempo para que se estabeleça novos códigos de conduta. Cortes radicais na estrutura estabelecida deixam transparecer que Tin & Tina é mais preocupado com a sombra que produz do que com quem lhes é provedor das mesmas. 

Se os personagens não convencem como seres humanos muitas vezes, não teria como Smit (de Mães Paralelas) ou Jaime Lorente (de Todos Já Sabem) entregarem boas performances, principalmente ele, que acaba por metaforizar tudo o que a ditadura outorga: a censura, a opressão, o sufocamento. Paralelo à eles, os pequenos Carlos G. Morollón e Anastasia Russo se saem muito bem, porque já estão inseridos por completo na fantasia proposta pelo filme – duas figuras entre a História religiosa espanhola e a necessidade de modernidade imposta também pela própria Espanha. Tin e Tina são, em essência, o próprio povo, que não sabe a que nova liturgia obedecer, e se perde desastrosamente tentando acertar. 

É assim mesmo o turbilhão de acontecimentos que adentram Tin & Tina, que vão de acertos absolutos – a cena da dissecação, e o clímax, especificamente – a repetições de clichês, que vão de A Profecia até o visual de A Cidade dos Amaldiçoados. Uma obra que obedece a muitas frentes acaba se desorientando pelo caminho, e não conseguindo encontrar a verdade em seu eixo. Por melhor dizer, são muitas verdade e interesses pairando sobre um mesmo projeto, é injusto incumbi-lo de tantas tarefas assim. O resultado é um ‘frankenstein’ que precisa estabelecer muitas pontes, umas conseguidas e outras que ficam na intenção; no entanto, não há dúvida que trata-se de uma carta de apresentação muito significativa para um primeiro longa metragem. 

Um grande momento

Kuki

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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3 Comentários
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Elys moengue
Elys moengue
08/06/2023 20:29

A pessoa usa os vernaculos linguísticos pra falar tanto tanto tanto e no fim não falar nada com nada sobre o que é o filme aff

Amanda
Amanda
04/06/2023 00:55

Achamos o filme horrível, irritante, que leva nada a lugar nenhum! Se a proposta era irritar quem está assistindo, eles conseguiram…

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