Crítica | Outras metragens

***** (Five Stars)

Ficção e realidade

(Five Stars, EUA, 2025)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Todd Wiseman Jr.
  • Roteiro: Todd Wiseman Jr.
  • Duração: 8 minutos

Five Stars, ou *****, de Todd Wiseman Jr. é uma reimaginação de Grand Theft Auto em live-action, um curta que coloca na tela a lógica do jogo como se estivéssemos diante de uma versão em carne e osso. A narrativa avança como as fases de GTA, cada movimento levando a novas missões, fugas e confrontos. É daí, inclusive, que vem o título do filme. Como se o espectador fosse o jogador, a câmera cola no avatar e acompanha sua escalada de violëncia. Por trás de tudo, aparecendo vez ou outra, Milo Machado-Graner, conhecido por seu papel em Anatomia de uma Queda.

O efeito do curta é estranho. O que no videogame surge como diversão interativa, aqui ganha um peso diferente por ser uma tragédia encenada nas ruas, com carros, corpos e sangue mais próximos do real. O questionamento sobre a exposição de crianças e adolescentes a tanta violência, mesmo que em outra forma, vem sempre à cabeça, e o filme não foge desse incômodo. Ele obriga a perceber o quanto naturalizamos o absurdo como parte da rotina de entretenimento. Veja, não que se esteja falando que isso provoque a violência dentro de alguém, mas seria essa uma exposição adequada? Ou seja, há uma idade para que certos conteúdos sejam acessados?

A estética realista amplia esse desconforto. A câmera em primeira pessoa reforça a imersão e reproduz o olhar de quem joga, o ritmo é acelerado, sempre em movimento, como se não houvesse tempo para respirar. Essa opção estética revela o quanto absorvemos a brutalidade como espetáculo e também expõe o vazio da repetição. O espectador se vê enredado no fluxo, só que sem a possibilidade de desligar o console.

Se no videogame tudo parece reiniciável, no curta não há essa opção. A experiência é levada ao limite, até que a própria repetição de crimes, fugas e mortes chega ao final do review ou à hora do jantar. Five Stars provoca, deixa o seu recado e a sua perturbação. Mais do que paródia ou homenagem, funciona como uma espécie de crítica sobre as outras formas de se estar imerso na violência. Ao final, a sensação é a de que o jogo, na mão de qualquer criança, ultrapassa seus limites.

Um grande momento
O lança-foguetes

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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