(Titanic, EUA, 1997)
Em 1997, o diretor e produtor James Cameron lançou Titanic, filme que não somente mudou o rumo das produções cinematográficas, mas também deu novas definições ao conceito de blockbuster. Hoje, em 2012, aproveitando-se do centenário do naufrágio da embarcação inglesa, o diretor relançou a obra em formato 3D.
Titanic tem início quando uma expedição comandada por Brock Lovett (Bill Paxton) está à procura de um colar chamado Coração do Oceano nos destroços do navio. Ao invés de encontrarem o diamante, a equipe encontra apenas o desenho de uma mulher usando tal objeto. Após a imprensa noticiar o fracasso de Lovett, uma simpática senhora que assistia à reportagem, decide sair do anonimato e apresenta-se aos expedicionários como aquela que aparece no desenho. Esta é Rose Bukater (interpretada na fase idosa por Gloria Stuart), protagonista e narradora desta verdadeira epopeia. A partir daí, o enredo da produção flui para a história de amor entre Jack e Rose, desde a partida do Titanic do porto de Southampton até o seu naufrágio cinco dias depois nas águas do Oceano Atlântico.
Jack Dawson (Leonardo diCaprio) é um pobretão artista de rua que ganha sua passagem em um jogo de pôquer. Rose (Kate Winslet) é uma aristocrata de família falida e noiva de Cal Hockley (Billy Zane), um magnata do aço. O casal se conhece quando Kate, angustiada e desiludida com a perspectiva da futura vida, pensa em se jogar nas águas do mar e é salva por Jack. Apesar da insatisfação de Hockley e de sua mãe Ruth (Frances Fischer), Rose convence o noivo de que convidar Jack, que pertence à terceira classe do navio, para jantar na primeira classe seria a melhor forma de agradecimento pelo feito.
Durante o evento, a desigualdade entre classes é evidenciada com clichês sobre como se comportar à mesa, quais talheres escolher, quais assuntos comentar e coisas do gênero. Nesta cena, destaca-se a figura de Margaret Brown (Kathy Bates), um dos personagens reais da história que foge dos padrões da época, sendo simpatizante às causas das classes inferiores. Neste ponto da projeção, a intenção do roteiro, assinado também por Cameron, é mostrar ao telespectador os aspectos psicológicos de cada personagem, a reconstituição perfeita do luxuoso figurino daquela época e o papel de submissão da mulher. Pontos estes primordiais para a introdução da segunda parte do filme: o desenrolar do romance entre os protagonistas.
Convidada por Jack a participar de uma celebração na classe menos favorecida do navio, Rose parece descobrir um mundo no qual ela se encaixa melhor. Onde as mulheres não precisam ter bons modos, onde estão em pé de igualdade com os homens e tem voz ativa. Seduzida por esta realidade e principalmente pelos encantos do romântico artista, Kate entrega-se à paixão que nasce entre os dois e decide abandonar os planos de casamento com o magnata.
Atitude inconcebível para a sociedade daquela época. Sendo assim, o romance desenrola-se aos moldes de Romeu e Julieta (papel que já havia sido interpretado por DiCaprio um ano antes na produção Romeu + Julieta, de Baz Luhrmann). Falas romantizadas (você pula, eu pulo), o desenho erótico feito por Jack de Rose nua usando apenas o Coração do Oceano no pescoço, a visão de uma mão no vidro do carro enquanto fazem amor e a clássica cena de ambos na proa da embarcação de abraços abertos, ilustram as juras de amor do casal. Cal Hockley segue à risca o papel de vilão do filme. Persegue os mocinhos e tenta de todas as maneiras separá-los.
Ignorando os sinais de que havia previsão de gelo no caminho à frente, o capitão Edward Smith cede às pressões veladas do diretor da White Star Line (empresa proprietária do Titanic) para que a viagem chegue ao destino final antes do previsto e assim consiga mais publicidade e decide aumentar a velocidade do navio. Esta imprudência foi crucial para que o navio não conseguisse desviar do iceberg que surgiu.
É nesta terceira parte do filme que o enredo começa a entrar na história real do Titanic (muitos dos personagens históricos da viagem são mostrados) e é também onde o efeito do 3D fica mais evidente. Das três formas existentes de se projetar em terceira dimensão, o diretor escolheu usar aquela que dá maior perspectiva de profundidade aos objetos. É por isto que esta tecnologia tornou-se componente imprescindível na recriação da ruína da embarcação. O que já era grandioso no filme em 1997 ganhou contornos monumentais agora em 2012. Todos os quadros de destruição do Titanic acabaram ganhando tons mais dramáticos devido a nova roupagem tecnológica.
A película passa a ser mais dinâmica à medida que o nível da água aumenta nos compartimentos da nau, gerando o caos. O diretor não economiza nos planos plongées e a todo o momento vemos a enormidade do Titanic em contrapartida aos mais de dois mil passageiros que têm atitudes diversas: correm, pulam, rezam, se resignam ou se desesperam por não conseguirem entrar nos botes salva-vidas enquanto o navio se fragmenta. Estas cenas de ação do filme são visualmente espetaculares e a melhor parte da obra, potencializada pelo efeito 3D.
Porém, como todo o restante do filme, elas são preenchidas com historinhas pessoais água com açúcar. É a banda do navio que continua a tocar, o casal de idosos que morre abraçado na cama, uma mãe que conta historia para os filhos dormirem antes de morrer. Em meio à tragédia, não podemos nos esquecer de que Jack e Rose continuam sua saga para ficarem juntos e agora vivos. Não são poucas as adversidades que o casal enfrenta.
Que o final foi trágico é um fato que todos nós já conhecemos. Poucos se salvaram para contar esta história e ajudar no entendimento de como tudo aconteceu. Porém, na obra que transformou James Cameron no Rei do Mundo, a história de amor entre Jack e Rose ainda reservou algumas surpresas que foram reveladas pela narradora após 84 anos do acontecimento, cumprindo assim, o papel dos grandes romances: se tornar imortal.
O roteiro de Titanic é bastante raso e a edição recheada de erros de continuidade. Apesar disto, ele é um ótimo filme graças a sua fotografia, à química entre DiCaprio e Winslet, ao trabalho obsessivo de Cameron em uma produção rica em detalhes e a forma como conseguiu manter o entretenimento por quase 3 horas e 15 minutos. É verdade que foram usadas muitas muletas para mesclar as histórias reais com as ficcionais, mas isto não tira o mérito produção.
A legião de fãs e a longa lista de premiações comprovam isto. Foram 14 indicações ao Oscar e 11 estatuetas. Entre elas, a de melhor filme e melhor direção. Sua trilha sonora vendeu 30 milhões de CDs apesar de ter apenas uma música com letra: “My Heart Will Go On” (interpretada por Celine Dion), que ganhou o Oscar de Melhor Canção e é até hoje a música mais executada da história. Além disto, Titanic conseguiu o dobro de bilheteria de Rei Leão, filme que naquela época, era o maior neste quesito. Seu reinado como filme que mais arrecadou foi batido em 2009 por Avatar, outra obra de James Cameron. É importante lembrar que um dos grandes apelos de Avatar está no uso da tecnologia 3D, e por isto, não era difícil prever que em algum momento Cameron também aplicaria este artifício em Titanic.
Falhas de roteiro à parte, não há como negar que esta é uma obra diferenciada na história do cinema. Tudo em torno de deste filme é grandioso. Titanic mostrou aos estúdios como explorar bem uma catástrofe, a ponto de elevar o cinema comercial à categoria dos bilhões de dólares.
Um Grande Momento
O naufrágio.
Oscar 1998
Melhor Filme, Melhor Direção
Melhor Fotografia (Russell Carpenter), Melhor Direção de Arte (Peter Lamont, Michael Ford), Melhor Figurino (Deborah Lynn Scott)
Melhor Som (Gary Rydstrom, Tom Johnson, Gary Summers, Mark Ulano), Melhor Montagem (Conrad Buff IV, James Cameron, Richard A. Harris)
Melhores Efeitos Sonoros (Tom Bellfort, Christopher Boyes), Melhores Efeitos Visuais (Robert Legato, Mark A. Lasoff, Thomas L. Fischer, Michael Kanfer)
Melhor Canção Original (“My Heart Will Go On”), Melhor Trilha Sonora (James Horner)