(The Ides of March, EUA, 2011)
Direção: George Clooney
Elenco: Ryan Gosling, George Clooney, Philip Seymour Hoffman, , Paul Giamatti, Evan Rachel Wood, Marisa Tomei, Jeffrey Wright, Max Minghella, Jennifer Ehle, Gregory Itzin
Roteiro: Beau Willimon (peça), George Clooney, Grant Heslov
Duração: 101 min.
Nota: 9
Stephen Meyer é um jovem assessor de imprensa que se vê numa confortável posição de poder já aos 30 anos de idade. Poder este que não se compara ao de seu objeto de trabalho, o governador Mike Morris, interpretado por George Clooney, e nem à influência de sua “melhor amiga”, uma inevitável jornalista vivida por Marisa Tomei. Mas ainda assim, é poder suficiente para deslumbrar uma das jovens estagiárias do comitê principal, que não deixou de notar que ele se hospeda em um hotel de luxo com os chefes enquanto o restante do staff é obrigado a ficar em um lugar mais pobre mas, claro, mais divertido.
O que a estagiária Molly, vivida por Evan Rachel Wood, jamais entenderá, porém, é que é preciso muito mais do que competência para alcançar uma posição de poder. É preciso excesso de cuidados e uma certa falta de escrúpulos. É preciso aliados e inimigos para chamar de amigos. E é preciso deixar moral e valores estrategicamente posicionados no discurso, mas longes do alcance já que inevitavelmente eles se tornarão armas para a autodestruição.
Coisas que o próprio Stephen ignora de começo, fazendo de todos os seus esforços ações por um ideal, até que, diferente da garota, se permite descobrir as fedidas verdades do jogo político. E as conclusões a que chega são as piores. Ele sabe o que está se tornando, e mesmo odiando esse futuro já palpável, não quer qualquer coisa diferente disso. Porque o poder inebria e vicia. E quando você menos espera, fica maior do que você, como já sabe o chefe de campanha Mike Zara, que Phillip Seymor Hoffman apresenta como um homem pálido, sempre em modo piloto-automático e exausto da vida que tem.
Dirigindo seu quarto filme, George Clooney conduz Tudo Pelo Poder com um ritmo admirável, explorando o dia a dia de calmas aparências e frenéticas manobras publicitárias. O que se reflete diretamente na intensidade da belíssima trilha sonora de Alexandre Desplat e na (corretamente) entediante direção de arte de Chris Cornwell, que mergulha o espectador naquele mudo sufocante ao oprimir os personagens em ambientes cinzentos ou pasteis e toneladas de materiais de divulgação I Like Mike. Para compensar esse peso, Clooney abusa dos planos fechados nas doces primeiras cenas de Stephen e Molly, como se os dois se refugiassem um no outro. Mais tarde, após um conflito, os planos se abrem e ajustam o casal à dinâmica externa.
Tudo Pelo Poder é uma história de bastidores, o que, por definição, inclui indivíduos em pleno exercício de manipulação, apenas aguardando sua vez de entrar em cena. Mas os bastidores desse drama não são apenas da campanha eleitoreira que acompanhamos ao longo da projeção, mas também da praça política americana e seus intensos entraves de interesses e oportunismos. Assim, é um símbolo inteligente que uma das cenas mais importantes do longa seja aquela em que dois personagens num conflito surgem diminutos e em contraluz diante da bandeira dos Estados Unidos, que vemos por trás em todo o seu esplendor e poder. Da mesma forma, é revelador que um encontro decisivo aconteça justamente em uma cozinha de restaurante, com o ambiente às sombras e vazio.
Porque é apenas disso que se trata Tudo Pelo Poder, e a própria política: encontros, decisões e alianças (quase sempre indesejadas) que deveriam, para sempre, permanecer no escuro, longe dos olhos da mídia e dos eleitores.
Um Grande Momento
O triste arco dramático simbolizado pela cena de abertura e o plano final.
Links
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