- Gênero: Comédia
- Direção: Cris D'Amato
- Roteiro: Bruno Garotti, Sylvio Gonçalves, Maíra Oliveira
- Elenco: Lívia Inhudes, Micael Borges, Mariana Rios, André Mattos, Diego Martins, Késia Estácio, Duda Santos, Regina Sampaio, Julia Gomes, Guiherme Dellorto, Zezeh Barbosa
- Duração: 98 minutos
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Antes de mais nada, o prático. A Prime Video está colocando no ar esse mês um quarteto de filmes ligados entre si por serem adaptações de contos de escritoras brasileiras – em ordem dos lançamentos, Thalita Rebouças, Babi Dewet, Paula Pimenta e Bruna Vieira. Todos terão uma estação do ano como subtítulo, e serão dirigidos por pessoas diferentes. O primeiro, Um Ano Inesquecível: Verão, estreou ontem e a cada semana uma nova estreia estará disponível no streaming. O projeto é uma forma de atrair o espectador também a literatura, formar novas plateias, e abrir espaço para que próximas obras dessas mesmas autoras sejam adaptadas também já com expectativa. É um empreendimento muito bacana que pode render futuras produções, para a Prime ou não, e que podem reverberar o cinema brasileiro com o público jovem.
A julgar por esse primeiro filme, muita coisa precisa melhorar, em todos os sentidos. O trio de roteiristas é o mesmo do filme que estreou no mesmo dia só que lá na Netflix, Ricos de Amor 2, mas a direção daqui não é de Garotti (que dirigirá o último título, Primavera), e sim de Cris D’Amato, que dirigiu os dois S.O.S. Mulheres ao Mar e tantos outros filmes. Apesar de sairmos com boa impressão mediante o filme da concorrência, esse aqui vai na linha oposta e precisaria consertar muita coisa para que o resultado fosse mais feliz. Não apenas no roteiro, mas principalmente na direção, na escalação do elenco, na montagem, na organização do tempo da ação, que parece esquizofrênico o tempo inteiro, onde em determinado momento a compreensão pede “abandono de lar”.
Vejam bem, o filme se chama Um Ano Inesquecível: Verão. Ok, é um período do ano, dura três meses, e durante ele no Brasil acontece o Natal, o réveillon, as férias escolares e sim, o carnaval. Pois o filme parece zero preocupado com o verão, e totalmente ligado aos quatro dias momescos. Não é um problema crucial e não seria um problema sozinho, mas com a quantidade de problemas apresentados, esse agrega ainda mais incógnita ao projeto. Porque o carnaval, que é um período que dura quatro dias e é mais ou menos o tempo que o filme cobre, está absolutamente perdido em tempo, ao ponto de fazer lembrar Orfeu, outro filme onde a mesma festa serve de pano de fundo e que está em tudo tratada de maneira equivocada, e o tempo para sua realização é todo histérico.
Ainda que o tempo narrativo possa ser chamado de ‘fantasioso’ para que a trama caiba de maneira poética ali, é muito difícil ver uma menina chegar a um barracão de escola de samba em janeiro, e de repente não entendermos mais quais são as datas em questão. A protagonista, que roubou o carro do pai, ficou desaparecida de sua cidade um fim de semana? Dois meses? Quinze dias? Um Ano Inesquecível: Verão é um apanhado de confusões, e talvez as temporais sejam as mais evidentes, mas o trabalho de Bernardo Pimenta na montagem é quase incompreensível. É tão fora do comum que o ritmo não exista, que as cenas não conversem umas com as outras, que quase dá pra acreditar que foi feito um milagre com o material, porque não é possível que o que vemos tenha sido pensado exatamente desse jeito.
Como é preciso olhar o que é positivo pra tentar encontrar espaços de esperança dentro da obra, Um Ano Inesquecível: Verão nos apresenta uma das próximas protagonistas da Globo, Késia Estácio, que é uma muito bem-vinda revelação. Sua presença em cena como Arlete leva força dramática às cenas onde participa, sempre sugerindo uma entrega sem igual no filme e um frescor também. Sem sombra de dúvida vem dela os melhores momentos da produção e, quando não está em cena, sentimos sua falta. Ela ajuda todos quem com contracena equilibrando o material sempre pro alto, nos mostrando que o elenco poderia ser mais uniforme, positivamente falando. Infelizmente, além dela há pouco sinal de vida em cena, ainda que André Mattos, Diego Martins e Guilherme Dellorto tentem.
Além da falta de compreensão narrativa, dos tempos esgarçados que não fazem sentido e do elenco volumoso que não está em seus melhores dias, percebe-se que Um Ano Inesquecível: Verão é um conto literário crescido. Sua história afundada nos clichês é um convite ao abandono, vide que pouca coisa funciona em cena, incluindo essa situação que parece um O Diabo veste Prada tupiniquim bastante anêmico. A verdade é que D’Amato já teve dias melhores, embora essa não seja a primeira vez que ela decepciona – nem a segunda ou a terceira. Mas, pensando no filme como o primeiro de uma tetralogia que acompanharemos durante o mês, resta esperar que o próximo seja um pouco menos caótico.
Um grande momento
Arlete demite cinco
To feliz em saber que não foi só eu que achei esse filme um completo desastre … kkkk a crítica foi realmente perfeita
Sobre as atuações, a única que não me convenceu foi a Mariana Rios. Mesmo sendo a mais experiente, ela não acertou o tom. Livia Inhudes brilhou no papel e é nítida sua evolução como atriz; enquanto Júlia Gomes, mesmo com poucas cenas, também mostrou que continua atuando muito bem, embora tenha optado por uma pausa no mundo cênico. André Matos é excessivo, ele é canastrão em tudo o que se propõe a fazer. Patricia Ramos brilhou e passou naturalidade em cena. No mais, o elenco não é esse desastre que você dá a entender na sua crítica de jeito nenhum.