- Gênero: Comédia, Drama
- Direção: Richard Wong
- Roteiro: Erik Linthorst
- Elenco: Grant Rosenmeyer, Hayden Szeto, Ravi Patel, Gabourey Sidibe, Janeane Garofalo, C. S. Lee, Jennifer Jelsema, Martha Kuwahara, Delaney Feener
- Duração: 105 minutos
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Sabem aqueles filmes que nem desconfiamos que serão ‘de conforto’, e acabam nos ganhando de pouquinho em pouquinho, graças a uma porção de elementos? Esse é Venha Como Você È, um filme tão repleto de clichês quanto de verdadeiro calor humano. E tudo é construído através, principalmente, dos quatro protagonistas, cada um com uma possibilidade de ser visto como alguém “diferente”, “menos capaz”, “inferior” – quando não são nada disso, é o que tenta provar a produção. Somos lançados nesse filme de estrada, que move a narrativa mas, como em todos os casos, move ainda mais seus participantes. A diferença entre o que é formado aqui e já foi anteriormente, não podemos negar que é nenhuma; o que está em jogo aqui é esse carisma coletivo que o filme nos envolve.
A carreira de Richard Wong é extensa, mas não é algo dos mais chamativos ou reconhecidos. Por isso mesmo Venha Como Você É surpreende, porque encontra no meio de tantas situações já vistas antes algo genuíno, que o espectador com facilidade irá se identificar. É uma espécie de complexo de perdedor que alguma vez já nos abateu, e em muitas pessoas isso é só o que elas têm para continuar. Como o acesso àqueles personagens é tão honesto e ao mesmo tempo o laço entre eles tão exposto, o público entende o que é de verdade e se deixa levar. O resultado é um filme que não tenta fingir algo que não é, e sim compreende que suas limitações de narrativa são um ponto de iniciação para construir essa relação entre os tipos ali, e deles com quem assiste.
Venha Como Você É não é uma propaganda de sexo pago para deficientes, nem uma demonstração gratuita de amizade entre diferentes. Ele tenta mostrar um refúgio de companheirismo entre figuras que não têm poder decisório sobre suas vidas, até tentarem escapar para um lugar de delírio, uma viagem que tinha tudo para dar errado, e que nunca dá muito certo. Dentro dessas demonstrações de impossibilidades com a qual o filme trabalha, eleger atores que não têm as deficiências que seus personagens têm, em tempos de Campeões, é uma decisão problemática. O filme tenta reverter esse quadro permitindo a seus atores que encontrem sua humanidade para além do que os trava, e assim abrir a discussão mais para o que os une além da forma como a sociedade os vê.
Mas, olhando bem, o filme em momento algum tenta flagrar esses personagens em constrangimentos típicos, ou em dificuldades específicas que gerem uma abordagem mais dura. No lugar desse padrão cinematográfico antiquado carregado de melodrama, temos uma liberdade de ação e de responsabilidade para seus personagens. O tratamento a eles, positivo ou negativo, não é uma questão, porque Venha Como Você É não trata do exterior, mas do interior de cada um. São as derrotas pessoais e a busca pelo enfrentamento pessoal do quarteto que pauta o filme, e nos leva a compreender (ou ao menos a empatizar) com um auto olhar tão cheio de erros que os próprios preconceitos nos incutiram.
O quarteto protagonista é todo muito singelo em suas entregas, com Grant Rosenmeyer (de Os Excêntricos Tenembaums) como o cabeça de entregas muito especiais. Ele se dedica ao máximo para perceber-se como alguém em dificuldades motoras ininterruptas, ainda que escamoteie que sua principal ausência seja na falta de estrutura de seu caráter emocional, emoldurando com uma libido incessante essa inabilidade. É bom reencontrar Gabourey Sidibe, de Preciosa, em um lugar tão diferente de quando a conhecemos, sendo desejada e vivendo uma realidade onde suas intenções são ouvidas e respeitadas, entregando o mesmo tanto de motivação quanto lá. Hayden Szeto e Ravi Patel entregam energia infindável, e como é incrível reencontrar Janeane Garofalo, uma daquelas atrizes com quem qualquer um nos anos 90 sonhou ser amigo.
De sair com o coração leve, Venha Como Você É não precisa de muito mais do que oferece para nos devolver tudo que parece inundar na tela. Nos divertimos pra valer, e nos emocionamos de maneira arrasadora quando o filme assim bem quer. Pode até ser caricato que se obedeça tão fortemente os desígnios do cinema estadunidense, mas nesse caso específico estamos diante de um produto cuja vibração é conectada a de quem assiste, como uma coisa só.
Um grande momento
Scotty finalmente canta pra Matt
Não passa de apenas mais um exemplar do gênero. Nada de mirabolante é apresentado.