Crítica | Outras metragensMix Brasil

8 a 80

Neste ano, o Mix Brasil inovou nos programas de curtas-metragens. Antes agrupados por orientação sexual, os filmes agora vêm agrupados por temáticas. Em “8 a 80” os filmes falam sobre o amor gay masculino em diversas fases da vida, do nascimento até à terceira idade.

É um Menino!
(It’s a Boy, EUA, 2012)

Ficção
Direção: JC Calciano
Elenco: Kodi Baker, Matthew Bridges, George Gray
Roteiro: JC Calciano
Duração: 5 min.
Nota: 3 ★★★☆☆☆☆☆☆☆

Em uma maternidade, três pais admiram seus filhos recém-nascidos pelo vidro. Enquanto o pai machista contador de vantagens fala sem parar do lado de fora, os três bebês começam uma conversa sobre orientação sexual.

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Sem nenhuma pretensão em ser algo mais do que uma piada, o filme apela para a pior metodologia de representações de crianças existente: cabeças de adultos em corpos de bebê. O que já começa mal com o diálogo entre os pais, fica ainda pior do lado de dentro da sala da maternidade com aquelas cabeças desproporcionais que não sabem o que quer dizer a palavra “nome”, mas citam eleições presidenciais para explicar a definição da sexualidade.

Nonsense e bobo, pode arrancar algumas risadas quando fala o que todo mundo já está cansado de saber de maneira engraçadinha, mas, como um quadro de humorístico televisivo, é dispensável.

Iniciação no Vapor
(Steam is Steam, CAN, 2011)

Ficção
Direção: Etienne Desrosiersi
Elenco: Jason Blicker, Shayne Devouges, John Dunn-Hill, Jake McLeod
Roteiro: Etienne Desrosiers, Jason Garrison, Thomas Waugh
Duração: 11 min.
Nota: 6 ★★★★★★☆☆☆☆

Na década de 50, Samuel leva seu amigo Aaron para acompanhá-lo no programa que faz com o pai todas as semanas, a vista a uma casa de banho turca.

Fotografado em preto e branco, o curta faz algumas experiências interessantes de enquadramento e de som (apesar de alguns problemas na projeção terem atrapalhado) para criar uma atmosfera sentimental que destaque sentimentos como desejo, ciúme e paixão. Muito apoiado na atuação de John Dunn-Hill como o menino de poucas palavras Aaron, o resultado é positivo e sabe ser tenso e descontraído na mesma medida. Porém, apela para algumas facilidades e situações que não eram tão necessárias.

A Vingança da Bee
(Downing, GBR, 2011)

Ficção
Direção: Ben Peters
Elenco: Jamie Brotherston, Ross William Wild, Krystina Coates
Roteiro: Peter Forbes
Duração: 16 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

Típico ambiente de festa na casa de alguém que ficou sozinho com a viagem dos pais, com muita música, bebida e gente. Uma menina chega com o seu melhor amigo, aquele que a carrega para casa todas as vezes que fica bêbada. Os dois são recebidos pelo garoto bonitão, popular e homofóbico.

O curta é dinâmico e bem resolvido. Sabendo explorar, ainda que de forma maniqueísta, as personalidades de John e Daniel, cria o vínculo com o espectador logo nos primeiros momentos, o que é fundamental para que a trama funcione. Some-se a isso uma fotografia que trabalha pela tensão da história. Apesar de não ser nada que perdure na mente de quem o assistiu, é divertido.

Encontro no Parque
(Chom Gufcha, ISR, 2012)

Ficção
Direção: Zvi Landsman
Duração: 13 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

Um homem solitário vai procurar um parceiro em um parque da cidade.

Econômico e despretensioso, o filme é um retrato melancólico da solidão e da busca por alguém. Passando pelos padrões autoimpostos, que acabam por restringir as possibilidades, e trazendo à tona escolhas que, de alguma maneira, são ao mesmo tempo o que queremos e o que desprezamos, temos um belo retrato do contraste entre o ideal, perfeito, e o real, efêmero.

Sem grandes invenções técnicas ou aditivos audiovisuais, o diretor sabe como se aproveitar das atuações, principalmente de seu protagonista, para validar a história que conta sem precisar de tantos diálogos.

Tabule
(Taboulé, ESP, 2011)

Ficção
Direção: Richard García
Elenco: Jorge Calvo, José Martret
Roteiro: Richard García
Duração: 4 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

Um casal conversa no parapeito de um terraço. Depois de anos juntos, um deles quer uma prova de confiança do outro e, para isso, exige que ele lhe conte a sua senha do celular. Ou do banco.

Mesmo curtinho, o filme é delicioso. Tanto na forma como explicita aquela relação ou a transforma em muitos códigos, quanto no modo como derruba por terra as determinações sociais para que se comprove a felicidade entre um casal. Pela ausência de adicionais técnicos e variedade de cenário ou figurino, o roteiro bem amarrado e as atuações de Jorge Calvo e José Martret são fundamentais para a imediata simpatia do espectador.

Um Diálogo de Ballet
(Um Diálogo de Ballet, BRA, 2011)

Documentário
Direção: Filipe Matzembacher
Elenco: Giovani Rizzo, Lauro Ramalho
Roteiro: Filipe Matzembacher, Márcio Reolon
Duração: 7 min.
Nota: 5 ★★★★★☆☆☆☆☆

Um senhor e um jovem acordam e, entre exercícios de alongamento e de dança, contam suas percepções de vida.

O filme integra o projeto Other Than, exibido esse ano em Cannes, que fala sobre a proximidade dos dias atuais que contrasta com o individualismo cada vez mais exacerbado e o aumento das diferenças. Aqui, há uma comparação entre a vida de duas pessoas que fazem as mesmas coisas, têm a mesma rotina, mas estão em fases diferentes da vida e, por isso, tornam-se completamente diferentes. Ao contarem suas próprias histórias e os preconceitos sofridos, expressam também os seus próprios preconceitos.

A escolha arriscada pelo uso de narração em off até funciona, dada a opção estética para vincular as duas histórias. O mesmo não pode ser dito das inserções de imagens aleatórias de externas, que quebram completamente o ritmo, e muito menos da presença exaustiva da tilha sonora, com o clássico e batido concerto Verão, de Vivaldi. Ao cansar o público, belas e poéticas cenas, como a que mostra a proximidade entre os dois, restam muito menos impactantes.

Disciplina e Ordem
(Zucht und Ordnung, ALE, 2012)

Documentário
Direção: Jan Soldat
Roteiro: Jan Soldat
Duração: 8 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

Um casal de idosos abre sua casa para mostrar seus instrumentos sexuais e fetiches.

Logo de cara há empatia por aquele casal de senhores que conta algumas coisas sobre o passado e sobre o dia a dia. A intimidade dos dois e a relação de cumplicidade e implicâncias que foi construída ao longo dos anos é fascinante por si só. Quando o fetiche de ambos é revelado, a surpresa. Os apetrechos, as conversas entre as demonstrações e as muitas idas ao banheiro divertem e trazem à tona preconceitos universais relacionados ao sexo na terceira idade.

O curta ganha muitos pontos com o carisma dos seus documentados. A montagem correta e despretensiosa também ajuda bastante.

Obs.: Por problemas técnicos, o curta O Que Arde Cura (As the Flame Rose), que integra o programa, não foi exibido nesta sessão, mas estará disponível nas próximas.

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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