(Muito Além do Peso, BRA, 2012)
A produtora Maria Farinha vem fazendo um trabalho interessante na defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes. Depois de Criança, a Alma do Negócio, ela apresenta na 36ª Mostra de São Paulo, com previsão de estreia nos circuitos no próximo dia 12 de novembro, o documentário Muito Além do Peso, sobre a obesidade infantil. Hoje, um dos principais problemas de saúde do mundo, que afeta 33% da população infantil brasileira. Irregular em sua estrutura, o filme precisa ser analisado de duas formas diferentes, uma por seu conteúdo, outra pela qualidade artística.
Como denúncia, o longa é urgente e extremamente necessário. Alguma coisa precisa ser feita contra indústrias alimentícias e publicitárias que conscientemente contaminam suas crianças e as preparam para serem portadoras de doenças até então exclusivas de adultos, como hipertensão, diabetes, trombose e outros problemas associados ao excesso de peso.
É preciso que se conheça realmente aquilo que está sendo ingerido e vai além da surpresa ou brinquedo que o acompanha, ou mesmo da figura chamativa estampada na embalagem. Assim como é preciso proteger as crianças da imposição fascinante de campanhas audiovisuais exclusivamente voltadas a este público que, sempre lúdicas e contagiantes, instigam o consumo de produtos muita vezes prejudiciais à saúde. Neste ponto, funciona.
Como cinema, o documentário apresenta alguns problemas graves. Apesar de ser corajoso, há uma indecisão incômoda entre a exposição e a proteção das marcas citadas. Não existe explicação para a tarja no nome da batata frita industrializada, por exemplo, se as crianças entrevistadas vão explicitar o mesmo nome em seus depoimentos. Pior, não há porque exibir uma propaganda largamente divulgada em cadeia nacional e depois usar o desfoque sobre a marca na própria peça, ou a mesma tarja cobrindo a marca momentos depois.
Ainda sobre a inserção de vídeos publicitários, a diferença na qualidade do material, capturado do Youtube, segundo o produtor Marcos Nisti, também incomoda bastante. Assim como o uso de material disponível no gigante portal de palestras TED, como as falas de um dos maiores ativistas contra a epidemia mundial de obesidade Jamie Oliver, diminui a força dos bons entrevistados selecionados pela produção do longa.
Outros problemas como a má escolha de cores dos infográficos, há painéis que não conseguem ser lidos; a irregularidade do som, principalmente nas primeiras cenas, e a falta de mais entrevistados do “lado negro da força”, com apenas um depoimento, também não passam batidos.
Mas, ainda que tenha todos esses problemas, ainda que deixe a impressão de não ter alcançado tudo o que poderia, Muito Além do Peso é uma denúncia importante e traz à tona um assunto que não pode mais ser ignorado e, presente em todo o território nacional, é um problema de saúde pública. Só precisa ser debatido o quanto antes, como é preciso que medidas sejam tomadas.
Uma curiosidade: ao final da sessão, durante o debate, uma das crianças presentes, um menino de aproximadamente 12 anos perguntou consternado: “será que isso vai adiantar?”. Esse é o ponto principal e essa busca por soluções está clara no filme, que deveria ser visto por mais crianças como ele.
Ainda assim, poderia ter sido mais bem feito.
Um Grande Momento
Usando a mesma linguagem da propaganda para demonstrar a nocividade do produto.