Crítica | Streaming e VoD

Marcados para Morrer

(End of Watch, EUA, 2012)

Ação
Direção: David Ayer
Elenco: Jake Gyllenhaal, Michael Peña, Natalie Martinez, Anna Kendrick, David Harbour, Frank Grillo, America Ferrera, Cle Shaheed Sloan, Jaime FitzSimons, Cody Horn, Shondrella Avery, Everton Lawrence
Roteiro: David Ayer
Duração: 109 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

Angústia. Essa talvez seja a palavra para definir o que se sente ao assistir a Marcados para Morrer. Com muitas tomadas sacudidas por uma justificada câmera na mão, uma simpatia crescente pelos protagonistas e ótimas cenas de ação, não há como ignorar o envolvimento que leva à sensação de tragédia iminente.

Indo além das mazelas corporativas, já retratadas exaustivamente no cinema, o que se vê é o dia a dia de uma unidade de polícia, mais especificamente de uma dupla de parceiros, Jake Taylor e Mike Zavala, que, apesar de um pouco perdidos no poder da farda, apenas exercem o seu trabalho de defender a população e combater o crime.

Apoie o Cenas

Todos os momentos da vida dos dois são registrados por Jake, que quer produzir um documentário para uma matéria da faculdade. É ele quem nos introduz na rotina policial, narrando as funções de um policial, apresentando locais e pessoas, e já demonstrando uma falsa noção de invencibilidade que fatalmente coloca qualquer um em risco, mas sem a qual talvez o trabalho de patrulhamento não seria possível.

Depois de uma prisão onde há excesso de violência, Taylor e Zavala são transferidos para um outro território, um local dominado por um cartel mexicano, onde a maioria dos habitantes é latina. Ignorando o bom senso, os avisos e conselhos, a dupla segue fazendo seu trabalho com a dureza característica e sem se preocupar como deveria.

Ao mesmo tempo em que o espectador acompanha a rotina de rondas, tocaias e chamados, vai conhecendo o lado pessoal dos dois amigos, suas características, seus gostos e suas relações familiares e amorosas. O universo em volta da dupla também é conhecido. A esposa de Mike e a namorada de Jake, que junto com eles forma uma espécie de núcleo familiar, e os colegas de corporação, com quem a relação também é profunda.

Com o vínculo entre os protagonistas e o público já estabelecido, o filme é competente no desenvolvimento da trama. Misturando imagens que lembram um famoso jogo de videogame ou os programas televisivos que acompanham abordagens policias, algumas referências (involuntárias ou não) ao blockbuster nacional Tropa de Elite e a outros filmes policiais e muitas tomadas feitas pelos próprios personagens, Marcados para Morrer é um emaranhado bem resolvido e bastante eficiente no desenvolvimento da tensão, que transtorna e angustia.

Dirigido e roteirizado por David Ayer, um amante do cinema de ação que escreveu os roteiros de Velozes e Furiosos e Dia de Treinamento e dirigiu Tempos de Violência e Reis da Rua, o filme conta com as acertadas atuações de Jake Gyllenhaal e Michael Peña como Brian Taylor e Mike Zavala, respectivamente, e um eficiente elenco de apoio, com Natalie Martinez, Anna Kendrick, David Harbour, Frank Grillo e America Ferrara. Além da competente fotografia de Roman Vasyanov e da montagem precisa de Dody Dorn que, com certeza, teve muito trabalho para chegar a versão final.

Se por um lado a proposta é boa e muito bem desenvolvida, alguns tropeços diminuem o brilhantismo do longa depois de um certo ponto. A caracterização dos bandidos é exagerada e, ao reduzir qualquer discurso a um punhado de palavrões, diminui a força dos antagonistas, transformando-os em um grupo de pessoas que apenas precisa ser eliminado, e aproximando o resultado de outros filmes não tão bons assim do mesmo gênero.

Mas isso resta pequeno frente à falta de confiança do roteiro no vínculo desenvolvido por ele e pelas atuações. Discursos melancólicos como o de Sarge no casamento ou a conversa entre Brian e Mike depois da notícia da gravidez de Janet antecipam uma situação, que já estava prevista desde do início e que já tinha inclusive sido explicitada na tela, para deixá-la mais tocante. O mesmo pode ser dito do final, que parece obedecer a um tempo próprio e alheio ao procedimento regular previamente determinado unicamente para que aconteça.

Mesmo depois de perder alguns pontos, não dá para ignorar toda a inovação e as qualidades de Marcados para Morrer que, com sua colagem de imagens e excelentes cenas de ação, talvez seja um dos melhores filmes policiais dos últimos anos.

Um Grande Momento

O incêndio.

Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=bl9l-dBrqdg[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
Botão Voltar ao topo