Crítica | FestivalFestival do Rio

Amnésia Vermelha

(Chuang ru zhe,CHN, 2014)

Suspense
Direção: Wang Xiaoshuai
Elenco: Lü Zhong, Amanda Qin, Qin Hao, Feng Yuanzheng, Shi Liu
Roteiro: Fang Lei, Li Fei, Wang Xiaoshuai
Duração: 110 min.
Nota: 6 ★★★★★★☆☆☆☆

“Na vertigem da infinidade de novos mundos conhecidos, a amnésia me liberta dos preconceitos passados. A memória é paralisia.” Citar Confúcio em um filme que lembra os Guardas Vermelhos é, no mínimo, curioso, mas foi justamente essa a relação que saiu comigo do cinema após assistir à Amnésia Vermelha.

Em Pequim, Deng, uma senhora solitária, divide seu dia entre cuidados com a velha mãe demente e pequenos favores não solicitados pelos filhos já independentes, que ela trata como se ainda fossem crianças. Ela se encarrega de buscar o neto na escola e não vê nada de errado em entrar na casa dos filhos para cozinhar. Por eles, é tratada como intrusa e, pela mãe, com descaso. Seu único conforto está nos longos monólogos que mantém diariamente com fantasma do marido.

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A triste rotina é ameaçada quando Deng começa receber ligações anônimas e, em suas caminhadas, encontra uma estranha figura que trás à tona algo que ela gostaria de ter esquecido há muito tempo atrás, mas que sempre assombrou seus dias.

O diretor Wang Xiaoshuai, de Bicicletas de Pequim e In Love We Trust, faz um filme esteticamente lindo e constrói bem o clima de suspense que predomina no longa. Não se sabe se aquilo que se vê é um delírio da protagonista – fruto de alguma doença comum em pessoas com mais idade – ou se está de fato acontecendo. Nem o que há de culpa ou consequência. A incerteza dos personagens é a mesma do espectador e Xiaoshuai sabe como manter o mistério, sem adiantar situações.

A ligação dos eventos do filme com a história da China e os resquícios da Revolução Cultural de Mao Tsé-tung, ainda que mais apressada, também é executada de maneira muito eficiente e estimula a curiosidade. Uma sociedade que passou por mudanças tão radicais. e em um espaço de tempo tão relativamente pequeno, tem sempre muitos esqueletos guardados dentro do armário.

Apesar de todo o interesse despertado e de uma atuação potente de Lü Zhong, o filme acaba caindo em algumas armadilhas e perde um pouco de sua força em repetições e excessos de duração. Mas nada que impeça o filme de chegar onde era desejado e, de certa maneira, sair da sala de projeção junto com o espectador.

Mas o resultado ainda poderia ter sido mais potente.

Um Grande Momento:
A visita.

Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=4OILMbRSdd0[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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