(Tangled, EUA, 2010)
Direção: Nathan Greno, Byron Howard
Roteiro: Jacob Grimm, Wilhelm Grimm (conto de fadas), Dan Fogelman
Duração: 100 min.
Nota: 7
Um dos grandes méritos dos Estúdios Disney foi conseguir levar às telonas adaptações de contos de fadas clássicos. Ainda que tenha deturpado a moral inicial em alguns casos, ou que tenha facilitado a história em outros, foi desse modo que as histórias criadas por Hans Christen Andersen e os irmãos Grimm, entre outros, alcançaram grande parte das gerações mais novas.
Depois das versões de Branca de Neve e os Sete Anões, Cinderela, A Bela Adormecida, A Pequena Sereia, A Bela e a Fera e A Princesa e o Sapo, o estúdio criado pelo visionário Walt Disney resolveu realizar a adaptação de mais um conto de fadas de muito sucesso: a da menina de longos cabelos isolada na torre, Rapunzel, em uma história aqui batizada como Enrolados.
Como é costume do estúdio, a trama sofreu alterações substanciais. Porém, diferente das adaptações e simplificações que aconteciam no Século XX, tendenciosas na manipulação para manutenção da realidade social da época, algumas atualizações fizeram bastante sentido e conseguiram dar à história um alcance maior do que a simples vontade de viver feliz – servindo – para sempre, que dava o tom às animações de antigamente.
No conto original, Rapunzel é a filha de um casal comum. Como no final da gravidez a mãe tinha desejos muito fortes por um dos legumes cultivados pela bruxa vizinha, seu marido resolveu invadir o local. Na terceira vez que o fez, porém, foi apanhado pela bruxa, que só disse que pouparia sua vida se ele lhe entregasse a filha que estava ainda na barriga da mãe. Coisa que ele fez e ela a prendeu na já conhecida alta torre sem portas e sem escadas.
Em Enrolados, a jovem é uma princesa. Ao dar à luz a pequenina, sua mãe teve graves complicações no parto e só sobreviveu graças ao uso de uma flor mágica e rara do local. Os poderes mágicos da planta passaram para a criança, que adquiriu a capacidade de curar. Tudo estaria bem se uma bruxa – que já conhecia e usava os poderes da tal planta – não descobrisse que toda a mágica foi transferida para as madeixas loiras da pequenina. A vontade de permanecer bela para sempre faz com que a velha sequestre Rapunzel e a tranque em uma alta e inacessível torre.
Bem menos sombria do que o conto de fadas original, que conta com uma sucessão de desastres, a versão animada da Disney também consegue despertar o interesse do espectador, tanto pelo desenvolvimento dos personagens, como pela construção da própria trama. Boas sequências de ação, divertidas passagens cômicas e belas cenas românticas, além da já conhecida capacidade dos estúdios na criação de animações, envolvem quem acompanha o longa-metragem.
Para contar a história, o roteirista Nathan Greno, que também dirige o longa ao lado de Byron Howard, criou o simpático e equivocado José, ou Flynn Ryder, como ele gosta de ser chamado. Diferente do príncipe do conto original, ele é um ladrão picareta que apronta com todos para se dar bem. Desenvolto e tagarela, o personagem combina bem com a versão moderna de Rapunzel, uma jovem agitada, curiosa e empenhada em realizar o grande sonho de sua vida: ver de perto as luzes brilhantes que enfeitam o céu no dia de seu aniversário.
Como os famosos sidekicks – aqueles personagens que estão sempre nos desenhos acompanhando os protagonistas e na maioria das vezes servindo como alívio cômico – estão um cavalo que ora se comporta como cachorro, ora se comporta como agente da lei, e um camaleão que não fala, mas tem as caras mais engraçadas dentre os com a mesma função em outras animações.
Apesar das mudanças, há uma certa manutenção na principal motivação da história. Embora haja o interesse da bruxa nas propriedades do cabelo da jovem, por razões fúteis e nada nobres, e além de toda a frieza da personagem, a grande questão está na relação doentia criada entre a mulher e sua “filha”. A superproteção, o medo de liberar os filhos adolescentes em um mundo que não os protegerá, e a vontade de trancafiá-los em um lugar onde se pode controlar cada um de seus passos está muito clara ali e pode ser facilmente reconhecida por aquelas que têm filhos ou por quem tem mãe.
E é essa figura doentia e materna quem mais chama atenção no conjunto da obra. A alternância, por vezes sutis, de humor e a clara indefinição quanto ao sentimento da vaidosa Mãe Gothel pela doce e cativante Rapunzel são trabalhadas com muita dedicação pelo roteiro. A cena do pedido das tintas como presente de aniversário é um ótimo exemplo disso.
Indo além dos personagens, Enrolados ainda agrada com o desenrolar das situações. A crise moral de Rapunzel, que alterna momentos de deslumbre e satisfação por estar fora da sua torre, com a depressão por estar fazendo algo que pode magoar sua mãe, é sensacional.
Como em todos os títulos da Disney, boas sequências musicais completam a experiência que, divertida, colorida e cheia de personagens interessantes, agrada os pequeninos. E o melhor, envolvendo também os adultos que os acompanham.
Para os que forem assistir, caso não precisem ver a versão dublada, é melhor ficar com o som original. A ideia de convidar um apresentador de televisão, sem nenhuma experiência em dublagens é bastante prejudicial ao filme.
Um Grande Momento:
Rapunzel bipolar.
Links
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=Nj-Y37_Av2E[/youtube]