Crítica | Festival

La supplication

(Voices from Chernobyl, AUT/UKR/LUX, 2016)
Documentário
Direção: Pol Cruchten
Elenco: Dinara Drukarova, Vitaliy Matvienko, Ivan Levchenko, Nina Galena, Valeriy Gneushev, Vadym Lavrenuk, Raisa Popenko
Roteiro: Svetlana Alexievich (romance), Pol Cruchten
Duração: 85 min.
Nota: 8 ★★★★★★★★☆☆

Em 26 de abril de 1986, a então União Soviética foi o palco do maior acidente nuclear em termos de perdas de vida da história. Um dos reatores da Usina de Chernobil, na Ucrânia, explodiu e provocou um grande incêndio. O despreparo dos funcionários, o pouco caso das autoridades e uma tentativa de encobrir o ocorrido fizeram com que a radiotividade se espalhasse por toda União Soviética e Europa Ocidental.

O documentário La supplication, vencedor do prêmio de Melhor Obra no 18º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, volta à tragédia, mas sem trilhar o caminho mais habitual para filmes que retratam histórias do tipo. Baseando-se no livro da Nobel de Literatura Svetlana Alexievich, Pol Cruchten ilustra as palavras com uma poesia visual. Enquanto o que se ouve é duro, chocante e difícil, o que se vê tem uma composição apurada.

Obviamente, seria muito mais fácil ilustrar aquelas palavras com imagens tão chocantes quanto elas, já que isso é feito com muito mais frequência, ou, do mesmo modo, procurar os sobreviventes para vê-los contando suas histórias. E é justamente na negação do óbvio, no trilhar o caminho mais inesperado que o filme conquista o espectador.

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Com atores vivendo os papéis dos personagens, Cruchten cria um distanciamento do que está sendo narrado, mas a força do discurso se reproduz nas imagens por ele criadas. Então, por mais que se tenha esse olhar distanciado, a experiência causa uma espécie diferente de imersão, que traz a dor do outro de um outro modo, sem apelações e exageros.

O novo vivenciar da experiência de cada um dos indivíduos que narram suas histórias, sejam cientistas, professores, mães ou casais, é potente e causa indignação pelo descaso das autoridades; pena pela má gestão de um lugar tão perigoso, e angústia pela inesperada perda e sofrimento de outros seres humanos.

A princípio incômodo, é sempre no contraste que La supplication constrói seu caminho. Muito do resultado depende da direção de fotografia apurada de Jarzy Palacz, a direção de arte de Ivan Levchenko e a música de André Mergenthaler.

Um filme que fica com o espectador muito tempo depois da exibição.

Um Grande Momento:
“Ele não é mais seu marido…”

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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