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Um Homem Comum

(An Ordinary Man, SRB/EUA, 2017)
Drama
Direção: Brad Silberling
Elenco: Ben Kingsley, Hera Hilmar, Peter Serafinowicz, Robert Blythe
Roteiro: Brad Silberling
Duração: 90 min.
Nota: 5 ★★★★★☆☆☆☆☆

“Os assassinos não são monstros, são homens. E essa é a coisa mais assustadora sobre eles”.
Alice Sebold

A Iugoslávia tem sua história calcada em disputas étnicas guiadas pela intolerância. Usados pelo Eixo viram a Utashe matar sérvios e os Chetniks vingarem-se nos croatas, antes de os partisans iugoslavos, de configuração multiétnica, formarem aquilo que se tornou conhecido como o país. As tensões voltaram à tona com a queda do comunismo e uma guerra civil que durou dez anos e deixou mais de 100 mil mortos, no conflito mais sangrento da Europa desde a Segunda Guerra.

Muitos dos responsáveis pelos genocídios foram julgados pelo Tribunal Internacional por seus crimes contra a humanidade. Um Homem Comum resgata parte dessa história ao explorar a personalidade de um general sérvio foragido. Vivido por Ben Kingsley, este general conta com uma rede de proteção fanática para que não seja capturado. Para manter-se invisível, está sempre mudando de casa e, em uma dessas mudanças, conhece Tanja (Hera Hilmar), a empregada da antiga moradora do apartamento para onde ele fora transferido.

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O interesse do diretor Brad Silberling, que também assina o roteiro, é mostrar que por trás de ações monstruosas e desumanas estão pessoas. Sua arrogância, prepotência e preconceito, não podem ser isoladas de sua humanidade, num movimento comum de desumanização social. Como se a criação do monstro eximisse um pouco da culpa todos aqueles outros seres humanos.

Mesmo com um trabalho interessante de ambientação e alguns momentos inspirados na criação dos planos, Um Homem Comum sobrevive graças às impressionantes atuações de Kingsley e Hilmar. Alternando entre sutilezas e estouros, os dois conseguem realmente construir uma relação, mantendo-se, individualmente, seres interessantes e complexos.

O roteiro nem sempre é preciso, prolongando diálogos e buscando força nas reviravoltas da trama, e há um olhar plástico que contraria o trabalho dos atores. Embora haja verdade nas personagens, o afastamento causado pela artificialidade da sequência de eventos prejudica o andamento, mesmo com uma boa recuperação no final.

Porém, apesar dos pesares, Um Homem Comum acha seu interesse no trabalho dos atores e no explorar a humanidade por trás da monstruosidade, principalmente quando o mundo vê uma onda supremacista que tenta justificar o preconceito e antecipa ações como as muitas limpezas étnicas, iguais às ocorridas na Iugoslávia, em nome da ilusão difundida de que uma raça, grupo ideológico ou crença é melhor do que as outras. Os “monstros”, em outras configurações, estão em todos os lugares, são como todos, e nem sempre se pode distingui-los.

Um Grande Momento:
No cemitério.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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