Crítica | FestivalFestival do Rio

Breve Miragem de Sol

(Breve Miragem de Sol, BRA, 2019)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Eryk Rocha
  • Roteiro: Fabio Andrade, Julia Ariani, Eryk Rocha
  • Elenco: Fabrício Boliveira, Bárbara Colen, Cadu N. Jay
  • Duração: 98 minutos

A exemplo de Expedito, que “flanava” caminhando pelas ruas da megalópole ou espiando pela janela do ônibus, o taxista Paulo, interpretado por Fabrício Boliveira, é um espectador do caos instalado na cidade em Breve Miragem de Sol.

O primeiro longa-metragem assumidamente ficcional de Eryk Rocha parte de um roteiro do próprio em colaboração com Julia Ariani e Fábio Andrade para narrar um conto sobre solidão mas também sobre solidariedade. Tendo como tempo diegético as noturnas, as ruas, caminhos e percalços da cidade levam de encontro ao protagonista pessoas e personagens comuns que o fazem se tornar menos só e alienado em relação ao que o rodeia.

Breve Miragem de Sol
Divulgação

A câmera de Breve Miragem de Sol, sempre muito cúmplice, foca nas expressões de desconforto do desalentado motorista e pai, que não vê o filho há algum tempo, pois se apercebeu do que é ser pai a menos tempo ainda. Inclusive vale ressaltar como a história não coloca a mãe (que não aparece, mas é sugestionada no extra-campo) não como o obstáculo ou a vilã da história, aquela que impede que o amor entre pai e filho se concretizem, mas sim como uma mulher vitimada por um sistema patriarcal onde os homens se responsabilizam muito pouco pela criação dos seus frutos.

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A soma dos rostos na multidão, de alguns que se tornam nítidos quando entram no táxi de Paulo vão dando densidade a trama existencialista, mas que traz algum contorno de romance quando entra em cena a enfermeira Karina (Babi Colen, um sol resplandecendo) que não só ilumina a vida dele como o faz buscar soluções mais imediatas para seus problemas.

O trabalho combinado de direção com a fotografia de Miguel Vassy e a montagem de Renato Vallone tornam o filme um dos mais belos exemplares na nossa cinematográfica recente. Melancólico, afinado com a realidade enclausurante das grandes metrópoles brasileiras, trazendo o dispositivo documental como um recurso potente na mis-en-scène configurando uma ótima – e acessível – experiência de cinema. Sendo um exemplar Globo Filmes, logo deve chegar a tv e ao streaming para ganhar plateias para além dos festivais e mostras (e que bom que assim seja).

Um Grande Momento:
O diálogo de Paulo com a ex-mulher.

[Festival do Rio 2019]

Lorenna Montenegro

Lorenna Montenegro é crítica de cinema, roteirista, jornalista cultural e produtora de conteúdo. É uma Elvira, o Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema e membro da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA). Cursou Produção Audiovisual e ministra oficinas e cursos sobre crítica, história e estética do cinema.
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