(365 dni, POL, 2020)
- Gênero: Drama
- Direção: Barbara Bialowas, Tomasz Mandes
- Roteiro: Blanka Lipinska, Tomasz Klimala
- Elenco: Michele Morrone, Anna Maria Sieklucka, Bronislaw Wroclawski, Otar Saralidze, Magdalena Lamparska, Natasza Urbanska, Grazyna Szapolowska, Tomasz Stockinger, Gianni Parisi, Mateusz Lasowski
- Duração: 114 minutos
Bom… por onde começar? A Síndrome de Estocolmo é uma condição muito séria, que já foi apresentada com responsabilidade por filmes sérios (O Sequestro de Patty Hearst, por exemplo, que tratava de um dos casos reais mais célebres do gênero). Por isso, observar 365 Dias sob a luz deste argumento é leviano com vítimas reais e mentiroso a respeito da produção, levando em consideração que Laura é mantida presa e, em apenas DOIS DIAS em cativeiro, já está absolutamente entregue ao seu algoz. Apesar de ser um italiano traficante e assassino, líder de um braço da máfia, ele também é “esculpido por Deus” (palavras da própria), e está machistamente claro o motivo de tanta rapidez.
O longa, dirigido por Barbara Bialowas e Tomasz Mandes, é baseado no primeiro de uma trilogia de livros escrito por Blanka Lipinska. Imagina se a narrativa toda não é uma versão cretina do igualmente cretino Cinquenta Tons de Cinza e suas óbvias continuações… leia-se enquanto versão: homem incrivelmente machista, másculo, rico e poderoso cisma com a cara de uma fulana de mundo completamente diferente do dele e, acostumado a ter tudo na mão e na hora, inicia um processo de “sedução” baseado em sexo, dominação e diminuição de qualquer valor feminino – ou seja, a boa e velha submissão de sempre, devidamente acatada. Porque, né? Mulheres são bichos viciados em sexo, masoquistas e subservientes. Essa é apenas uma das 27 mensagens absurdas propagadas pela obra.
Não podemos esquecer que Blanka, assim como E. L. James, são filhas daqueles inacreditáveis pocket books famosos dos anos 1970 e 1980, que no Brasil eram vendidos em coleções pela editora Nova Cultural diretamente nas bancas, com alcunhas de três nomes femininos, “Julia”, “Sabrina” e “Bianca”. Eram histórias de dominação absoluta do corpo feminino por homens não raro muito mais poderosos que suas conquistas, que acabavam por se mostrar mais frágeis do que aparentavam. O sucesso dessas séries é a avó desse fenômeno literário que trouxe a mulher de volta ao jugo de um macho evidentemente escroto, que as corrompe e sevicia enquanto se desconstrói.
Pois o quadro em 365 Dias é tão inacreditável (e cinematograficamente nulo) que, rapidamente, o filme se transforma em um jogo dos 7… não, dos 17… não, dos 57 erros. Com isso, resta ao espectador se deixar levar pelo clima de volúpia que escorre por cada cena da produção – o protagonista Massimo joga charme até para uma vítima que em breve perderá a vida – ou relaxar e rir muito de um filme que não tem como levar a sério, pois conta com os piores diálogos possíveis (“não sou sua propriedade”, “não pertenço a ninguém, não sou um objeto”), declarados com seriedade em um roteiro indizível e uma direção que trata o material como um misto de Cine Band Privê e Michael Bay nos piores dias.
É tudo tão acintosamente cafona que beira o proposital e, por conta disso, algumas gargalhadas involuntárias se tornam obrigatórias, seja na quarta (!!!!) cena de compras de roupas, seja no problema cardíaco (!!!!!!!) da protagonista que a faz desmaiar vez por outra, seja em uma ida a um baile de máscaras – ipsis literis retirada das aventuras de Christian Grey e Anastasia Steele – não dá pra levar 365 Dias a sério, mesmo que, como seus congêneres, a obra mais uma vez preste todos os desserviços possíveis a homens, mulheres, casais, relacionamentos e o que mais vier. Mas, ao observar o quadro geral e nos darmos conta de que a qualidade artística passou longe do material, talvez a melhor saída seja tratar o material da forma jocosa que ele merece.
E, pra não deixar nenhuma dúvida de que esse tipo de literatura é todo a xerox da xerox da xerox, claro que 365 Dias termina arreganhado à espera da continuação, com clima de mistério, casamento, morte e tensão no ar – ei, E. L…. cê não vai fazer nada mesmo? Resumo da ópera: relaxe os músculos faciais se acabando de rir com um filme tão inominável que só pode ser de brincadeira. E olha que eu nem falei da ridícula peruca utilizada por Laura na reta final, da obsessão de Massimo pelo próprio pênis, do ex-namorado da protagonista (uma alta executiva dita como evoluída) que é um estereótipo do trintão adolescente, da cena em que Laura quase é estuprada numa boate lotada, da trilha sonora surreal toda composta para o filme e cantada pelo protagonista Michele Morrone… enfim, por onde terminar?
Um Grande Momento:
Nossa, são tantos… o sexo na lancha, o dia de spa de Laura com a amiga, a montagem que une os dois personagens no início, a cena do sorvete…