(Boni Bonita, BRA, 2018)
Relações tóxicas e abusivas estão muito presentes no cinema, Boni Bonita é uma delas. O filme de Daniel Barosa, sua estreia na ficção, acompanha a relação de Beatriz e Rogério ao longo dos anos. Ela acabara de perder a mãe e, agora no Brasil, nunca conseguiu estabelecer uma relação com o pai. Ele é um músico frustrado que encontrou o seu lugar na solidão.
Boni Bonita tenta dar uma cara a cada uma das fases desse casal no passar do tempo, em filtros que denotam antiguidade. Em uma abordagem minimalista, o que facilita o andamento e as mudanças de fases, são poucos elementos de cena ou figurinos. Os protagonistas, vividos por Caco Ciocler (Elis) e Ailín Salas (XXY) são os principais marcadores do transcorrer temporal.
Como o filme é bastante simples em sua construção estética, o que em alguns casos pode ser até um ponto positivo, a elaboração encontra-se no roteiro e nas atuações. Há um interesse em desvendar aquela relação, e ele está na influência que esta sofre das personalidades quebradas de Beatriz e Rogério. Ambos procuram no outro o preenchimento de lacunas afetivas e decepções.
Se a dependência se estabelece, a falta de amor também. E a relação segue em desconexões e desejos. É, sem dúvida, um bom retrato daquilo que é tóxico, mas não existe preocupação em ir além do retrato e o que se vê assume um lugar de exposição menos interessante do que poderia ser.
Uma química pouco efetiva entre Ciocler e Salas também não ajuda muito, assim como a opção pela narrativa capitular, que interrompe qualquer envolvimento com a história contada. Também são pouco eficientes as participações ocasionais, como as de Ney Matogrosso como o amigo do avô de Rogério ou Otto como o cara inconveniente na festa.
Boni Bonita se destaca em sua simplicidade e intenção, mas não consegue fazer com que a história que conta sobreviva por muito tempo. É um filme que poderia chegar longe, já que estabelece um ponto de atenção muito preciso, mas que acaba ficando pelo caminho.
Um Grande Momento:
Nada tanto assim.