Crítica | Streaming e VoD

Victor & Célia

(Victor et Célia, FRA, 2019)

  • Gênero: Comédia
  • Direção: Pierre Jolivet
  • Roteiro: Pierre Jolivet
  • Elenco: Arthur Dupont, Alice Belaïdi, Bénabar, Bérengère Krief, Grégoire Isvarine, Adrien Jolivet, Bruno Campelo
  • Duração: 91 minutos
  • Nota:

Uma comédia romântica sobre empreendedorismo, quem diria que esses temas conversariam um com o outro, e acabariam por chegar à plataforma Telecine com pouco alarde, infelizmente. Victor & Célia se difere de outros exemplares do gênero por dar mais ênfase em sua narrativa que geralmente costuma ser o pano de fundo dos filmes, e o romance propriamente dito não só demora a se desenvolver como interessa menos no cômputo final. Graças a uma leveza habitual dos típicos longas franceses despretensiosos, um tema tão inusitado ao grande público acaba não apenas gerando um produto pra lá de simpático como atraente, e principalmente por esse “lado B”.

Quem não conhece necessariamente as dificuldades de abrir um negócio próprio, em qualquer área e época, tem no título dirigido por Pierre Jolivet uma oportunidade de conhecer o diretor e um tema que não está em todos os filmes. Nem a narrativa e nem Jolivet estão próximos do público, apesar do segundo ter uma carreira produtiva há 35 anos. Há 5 anos atrás ele venceu o festival de Shangai com Jamais de la vie, ponto alto da carreira desse diretor de 67 anos e que, por algum motivo, não aconteceu mesmo depois de 17 longas. Tendo acesso a esse seu último longa, uma inesperadamente atraente visão sobre o início do mundo corporativo (e adulto) na vida de dois jovens de 30 e poucos anos, devemos dar um voto de confiança.

Victor & Celia (2019)

Com muita sinceridade e boa vontade, Victor & Celia introduz um universo sem maquiagem a respeito da manutenção dos sonhos de jovens trabalhadores, e ao mesmo tempo pincela com delicadeza outros tantos olhares, sobre a inoperância em lidar com o futuro, sobre as inúmeras barreiras no caminho de quem só deseja produzir e criar uma história própria, sobre como a imigração encontra dificuldades extremas em progredir, sem qualquer mínimo sinal de panfleto rumo à esse lado. Sem criar qualquer tipo de elegia a burocracia – pelo contrário – o filme desenvolve a relação dos personagens às tarefas profissionais e emocionais no caminho de empreender de maneira adulta e madura, apesar de leve.

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Paralelo a isso, é muito saudável perceber que o romance que geralmente ocupa o centro dessa narrativa padrão, no roteiro de Jolivet, Carole-Marie Ifi e Eric Combernous se situa ao largo da discussão principal, chegando a aparentar que esse tema nem faria parte do combo da produção; ele enfim dá as caras de maneira explícita, mas surpreende que o filme não tenha nenhuma cena sequer daquelas típicas do gênero, como o sonho acordado dos amantes a suspirar um pelo outro, ou que alguma ênfase seja dada ao romance, em particular. Nem mesmo escada para comentar sobre os sentimentos, que também é típico, os protagonistas tem; todo esse entorno é gasto na criação da sociedade e dos entreveros burocráticos que eles precisam superar.

Victor & Celia (2019)

O casal principal vende carisma e química. Arthur Dupont (de Normandia Nua) e Alice Belaïdi (de O Que as Mulheres Querem) se movimentam tão bem sozinhos quanto em dupla, apresentando suas tramas paralelas bem desenvolvidas. Como seus caminhos não são necessariamente interligados o tempo todo, precisamos comprar esses tipos que são vendidos com charme e elegância. Como Victor & Célia não se arvora por esse caminho como os congêneres o fazem, cabe aos atores desenvolver uma torcida discreta por suas trajetórias, mais do que necessariamente por eles enquanto casal. Inconscientemente o filme estabelece vínculos tanto entre seus personagens quanto entre os universos que eles ocupam.

Victor & Célia se desenvolve sem grandes arroubos de originalidade estética, mas com seu tema sendo tratado tanto com seriedade quanto com simplicidade, o título se mostra de fácil digestão, o que é feito com muita simpatia. Seu olhar por temas polêmicos nem sempre é o mais acertado (tem um certo machismo pontual, e umas questões envolvendo luto meio inexplicáveis), mas no geral é um filme sem contra indicações e que se revela uma surpresa pelo rearranjo da ordem das suas prioridades narrativas.

Um Grande Momento
A solução para o problema final

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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