Crítica | Outras metragens

Na Praça Escura

(En la plaza oscura, ARG, 2019)

  • Gênero: Ficção
  • Direção: Nicolás Schujman
  • Roteiro: Nicolás Schujman
  • Elenco: Nicolás Schujman, Sebastián Carbone, Julieta Giménez Zapiola
  • Duração: 13 minutos
  • Nota:

Quando a modernidade das relações líquidas chegarem ao universo do obscuro, podemos ter uma geração de “figuras da noite” ainda mais melancólica e taciturna. O cineasta Nicolás Schujman revela muito gradativamente sobre o que está falando, mas como Na Praça Escura é um filme lotado de micro plots imersivos que vão ressignificando a trajetória de seu protagonista Hochman (vivido pelo próprio diretor), ter um detalhe ressaltado num texto crítico não aplacará a totalidade de desdobramentos apreendidos pelo roteiro também de Schujman.

Interessa ao filme nos familiarizar a Hochman, sua persona, seu jeitão ensimesmado e sua timidez avassaladora. Ele pratica boxe com um amigo com a qual parece nutrir uma suspeitosa intimidade, ao mesmo tempo em que consegue dar “match” com Dulcinea através do Tinder, em um encontro que colocará à prova suas diferenças e semelhanças. A condução de Schujman desenvolve inúmeros caminhos possíveis para o herói se arvorar, e o caminho mais insólito se revela também o que mais permitirá uma renovação de ares absoluta ao filme.

Na Praça Escura

Com trilha sonora tão deslocada quanto todo o percurso do personagem ao longo desse filme de múltiplos gêneros, o filme nos apresenta um típico jovem adulto perdido em suas encruzilhadas diárias. Hochman é um cara que parece que chegou atrasado a um grande evento, e esse evento é sua própria vida. Ele caminha aos tropeços em oportunidades antiquadas, em decisões provavelmente equivocadas, que geram novos equívocos e assim por diante. Um carinha que não deu certo até quando parece ter ganho uma sobre-vida, até encontrar uma cara metade tão moderna quanto ele.

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A partir do momento que promove esse encontro de uma geração que não se encontrou entre os privilégios que conseguiu, Na Praça Escura vê suas chaves de humor aumentarem consideravelmente e o filme enfim refaz todo o olhar do espectador para reconfigurar aquela existência, que ainda terá muito o que tentar e errar até encontrar seu lugar no mundo. Pra Hochman, a vida está só começando; para a geração análoga que o assiste, pode ser a oportunidade de usar os percalços do personagem para mais uma vez observar a sociedade zumbificada em excessos à sua volta, a espreita de um ataque que parece nunca vir.

Um grande momento
Na banheira, ao som de ‘I Can’t Go For That’

[31º Curta Kinoforum]

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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