(All Together Now, EUA, 2020)
Ao observar os primeiros 5 minutos desse novo lançamento (já com sucesso) da plataforma Netflix, há um primeiro movimento de texto que inclua as boas intenções de seus últimos lançamentos ligados a adolescentes com tendências artísticas, como Dançarina Imperfeita e Feel the Beat, que independentes do produto fílmico final, eram repletos de ensinamentos e lições, pro bem e pro mal. Mas Quase uma Rockstar se impõe muito rapidamente com um tema muito particular e seus desdobramentos particulares, que tragam o filme pra outro rumo.
Diante de uma protagonista que tenta esconder de todos a real situação de sua família, o filme explora entre tantos outros personagens um traço de personalidade tipicamente mas não exclusivamente americano, o orgulho. Ao não revelar suas reais condições de vida aos amigos, pessoas especiais que não apenas gostam dela como também a ajudariam sem a necessidade de pedido prévio, Amber apresenta uma característica do povo norte-americano muito arraigada e que o filme desenvolve com a devida complexidade.
Baseado no best seller de Matthew Quick (de “O Lado Bom da Vida“) adaptado pelo próprio ao lado de Marc Basch e do diretor Brett Haley, ficam claras essas camadas que tiram o filme do lugar previamente acessado por obras sem compromisso como as citadas. Quick é um autor que tem uma visão menos adocicada a respeito de seres humanos muito reais que retrata em suas obras, dotando-as de base para discussões aprofundadas sobre o comportamento da sociedade em que vive, devassadas por questões tanto ancestrais quanto contemporâneas.
Não é o primeiro encontro de Haley com Quick, que já tinha dirigido um episódio da série adaptada de Quem é Você, Alasca?, nem com Basch, que já tinha colaborado com ele diversas vezes, como em O Herói e em Corações Batendo Alto. Haley, assim como o autor de “Quase uma Rockstar”, também vem se especializando no sensível e aprofundado das relações interpessoais com resultados nem sempre regulares, mas com uma clara vontade de promover a diferença entre discussões que poderiam ser frugais, mas que se nas mãos dele ganham amplitude e reflexão.
Ao somatizar em seu enredo orgulho e culpa, o resultado desse olhar aprofundado a não apenas seus personagens no geral como também a sociedade no quadro mais amplo, é uma cuidadoso e delicado olhar humanista sobre uma fatia social que pouco se explora no cinema americano, pessoas orgulhosas o suficiente a ponto de preferir passarem toda sorte de necessidade física (tais como morar em condições precárias, enfrentar doenças como alcoolismo, se prestar ao assédio moral e físico, e muitos etcs…) a admitir para quem se importa suas reais situações.
O filme gera uma empatia instantânea justamente por não ser um tema de comum abordagem, e muito rapidamente nos envolve na triste situação de suas protagonistas, mas também abordando esse orgulho em outros de seus personagens, como a senhora vivida por Carol Burnett. Ajuda a produção não apenas a interpretação fantástica e cheia de nuances de Auli’l Cravalho (de Moana), como o elenco inteiro, muito bem. Ainda que o filme não abarque sua gama de tipos com o mesmo entusiasmo e dedicação, a espinha dorsal dura dessa jovem menina com problemas que não cabem à sua idade é suficientemente poderosa e muito sensível para fazer valer o sucesso dessa adaptação.
Um grande momento
Escondida no reservado.