(Dias Santana, ANG, RSA, 2016)
Uma coisa curiosa na Netflix é como ela abre possibilidades para que se conheçam novas cinematografias. Com um algoritmo complicado e difícil de driblar, é interessante ver que, há dias, um dos filmes mais assistidos é o angolano Santana, o primeiro do país a integrar o catálogo da plataforma.
Dirigido por Maradona Dias Dos Santos e Chris Roland, o longa foi lançado em 2016, mas só agora está sendo descoberto pelo mundo. A trama de ação não difere muito de outras conhecidas do gênero. Matías Santana, um menino de 6 anos, vê seu pai e sua mãe, grávida de seu irmão, Dias, serem assassinados. Já adultos, os dois descobrem a identidade do assassino e partem em busca de justiça e vingança.
A produção não é das mais elaboradas e se baseia em um roteiro esburacado, no qual fatos não se conectam e alguns personagens não fazem muito sentido. Há várias situações que descambam para o humor involuntário: “Abram a porta”, corta para a fuga, retorna à porta e os bandidos não só estavam preparados para lidar com o material como usam todos os itens de segurança indicados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT); “Eu não posso tomar essa decisão sozinho”, diz o chefe antes de tomar a decisão sozinho, e por aí vai.
A composição dos personagens segue a estrutura padrão da ação: para eles, qualquer migalha, e muita atenção a tiros, porradas, perseguições, invasões e bombas. O vilão é um daqueles malévolos pervertidos que tanto sucesso fazem nesse cinema e os protagonistas não chegam a ser desenvolvidos além do óbvio. As mulheres do filme estão mais para potiches do que para qualquer outra coisa. São ângulos reprováveis e um destaque ao corpo já ultrapassado.
Outra coisa que chama atenção é como a trama vai acumulando coisas que nem sempre conversam entre si. Sexo, mágoa, cativeiro, drogas, aulas de dança, turistas chineses e até magia, com direito a bruxa contratada e briga com demônios, formam um emaranhado difícil de ser coordenado. É complicado dar atenção à relação dos irmãos, ponto central do longa, quando há tanta informação paralela.
No final das contas, há muito pouco em Santana que não tenha sido visto milhares de vezes, e muitas dessas repetições – ou homenagens – são as que, até hoje, determinam boa parte do cinema testosterona no mundo. Some-se a isso a imaturidade, tanto no roteiro como nas direção e montagem, e uma vontade muito grande de se enquadrar, fugindo de qualquer originalidade. Porém, mesmo que não seja nenhuma pérola, Santana ser visto – e tão visto – pode ser o começo de um caminho mais aberto ao cinema que não estadunidense.
Um grande momento
Tiro na perna.