(Porno para principiantes, URU, 2018)
- Gênero: Comédia
- Direção: Carlos Ameglio
- Roteiro: Carlos Ameglio, Leonel D'Agostino, Bruno Cancio, Nicolás Allegro
- Elenco: Martín Piroyansky, Nicolás Furtado, Carolina Manica, Daniel Aráoz, Nuria Fló, Hugo Piccinini, Jorge Bazzano, Teresita Casella, Roberto Suárez, Denny Brechner, Ariel Píriz
- Duração: 88 minutos
O cineasta Carlos Ameglio não realiza nada novo de forma alguma em Pornô para Principiantes, uma coprodução Uruguai/Argentina/Brasil que, a cada passo dado, conseguimos prever os próximos cinco. Ele parece ter consciência de seu intuito modesto de entreter e desenvolver sua narrativa, e não nega suas intenções em nenhum momento. O filme de duração curta e de pretensões parcas se contenta em prover ao espectador o equivalente escapista do momento, divertir e partir sem deixar maiores danos ou lembranças; o recado é dado de maneira eficiente e o público fica então apto a procurar algo mais substancial na próxima escolha que fizer no manancial de possibilidades que temos à nossa disposição hoje.
Isso não quer dizer que o filme seja rasteiro. De abertura até elaborada, acompanhamos as desventuras juvenis de Victor, hoje padre e no passado um promissor cineasta de tintas experimentais. Estaria Ameglio associando o cinema a algo tão santificado, ou justamente pregando seu oposto? A desilusão com a arte só poderia ser aplacada com a absoluta renúncia à vida mundana no geral, ao ponto mais extremo. Com essas questões postas à mesa, aliado ao material gráfico conseguido pelos curta metragens do protagonista, temos um deslanchar promissor para uma história tantas vezes já vista, inclusive na vida real, quando os desejos e delírios dos artistas se confundem e fogem à sua compreensão.
A partir dessa avaliação inicial, da entrada de elementos policiais que nunca se revelam em efetivo, o filme avança com a ciência de ter aberto inúmeros motes e que não se garante em fechar todas as gavetas abertas, ou ao menos alinhavar todas as linhas narrativas que o filme amplia – Victor, sua relação com a noiva, sua relação com o cinema, sua relação com a protagonista, seu sogro, seu empregador, seu amigo… tudo é aberto com alguma graça e muito interesse natural, porém nem tudo se encaminha para desenvolvimentos mais particularizados, deixando suas potencialidades inalteradas, à espera de prosseguimentos em suas divisões.
O tom desbotado da fotografia de Diego Rosenblat (que assina a série nacional Pico da Neblina) remete imediatamente ao período onde as ações se concentram, no início dos anos 1990, e essa escolha tem caráter instrutivo, porém quando o filme opta por transformar presente e passado em imagens de igual textura, sua utilidade perde o sentido. Ao igualar suas texturas, o filme perde a oportunidade de complexificar suas imagens e, mesmo em questões imagéticas, o filme não se posiciona para elevar seu material, apenas se limitando a construir sua narrativa pelo básico.
Ainda que o filme tenha abandonado uma interessante questão inicial onde poderia criar uma dualidade entre o ato artístico e o ato ecumênico e se disposto a se cercar de uma proposta cinematográfica que parece arrojada mas acaba se colocando num lugar mais quadrado e antiquado, Pornô para Principiantes entretém com qualidade e libera essa qualidade a um público que não tem acesso a um produto não-americano com frequência, por ser acessível e de fácil apreciação, sem nunca resvalar na vulgaridade vazia, tanto imagética quanto conceitual, são decisões até tímidas ainda que dentro de um quadro de sugestão ousada.
O maior pecado do filme foi ser encaixado demais em uma estrutura dramática para aplausos de massas, ainda que suas arestas fiquem claramente expostas e sem reparos. Seu elenco dá conta do recado, embora seus potenciais não sejam amplamente explorados, como o de Nicolás Furtado que interpreta o atendente de videolocadora alçado a astro e produtor, mas todos acabam conferindo a Pornô para Principiantes o suficiente para um bom programa de fim de noite sem contra indicação, mas que se contenta com menos do que deveria.
Um grande momento:
Encontramos o protagonista