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Zona de Combate

O diferente absolutamente igual

(Outside the Wire, HUN, EUA, 2021)

  • Gênero: Ação
  • Direção: Mikael Håfström
  • Roteiro: Rowan Athale, Rob Yescombe
  • Elenco: Anthony Mackie, Damson Idris, Enzo Cilenti, Emily Beecham, Michael Kelly, Kristina Tonteri-Young, Brady Dowad, Henry Garrett
  • Duração: 114 minutos
  • Nota:

O cinema de ação estadunidense tem temas que se repetem constantemente, um deles é o de combate ao terrorismo que remete às remanescente forças do poderio bélico soviético, ao resquício nuclear da Guerra Fria. Zona de Combate seria mais um desses exemplares, mas vai além ao misturar outras duas temáticas também recorrentes: a invasão de terras estrangeiras por tropas norte-americana em “missões de paz”, aqui o leste europeu, e o avanço cibernético nas lutas, com o uso da tecnologia no desenvolvimento armentista seja no uso de drone para ataques teleguiado, no uso de robôs para as frentes de batalha ou na criação de supersoldados. Uma grande mistura de várias coisas que já vimos antes.

Dirigido pelo sueco Mikael Håfström, que tem um histórico de filmes de horror mas ultimamente tem se dedicado à ação com títulos como Rota de Fuga, filme que uniu Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger, a produção da Netflix tem uma intenção crítica, mas não consegue se desvencilhar do ufanismo e muito menos dos clichês. O fio que puxa a trama é conduzido pelo capitão Harp, vivido por Damson Idris. Frio e calculista, ele o responsável pelo disparo de mísseis e após desobedecer uma ordem direta é enviado à zona de combate do título, onde conhece aquele que o acompanhará em seu “treinamento”, Leo, personagem de Anthony Mackie (Vingadores).

Zona de Combate

Embora saiba equilibrar-se bem na ação, com cenas de luta eficientes, ótimas coreografias, boas perseguições e um manejo de efeitos especiais elaborado, o longa se perde no meio de tudo que resolve trabalhar. O fato de transportar a narrativa para um futuro distópico é positivo, pois demonstra a manutenção do status quo, mas quando mantém os mesmo vilões, cai na vala comum de todos os filmes irmãos que padronizam o discurso e pasteurizam a produção. É aquela coisa: estou tão contaminado pelo discurso que não consigo nem mesmo perceber que o meu discurso contra ele é igual, mesmo que pense que seja a ele contrário.

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A confusão com a boa intenção está por todo o roteiro, e por vezes chega a causar alguns constrangimentos. Que tipo de referência os roteiristas Rowan Athale e Rob Yescombe queriam suscitar quando usaram a palavra “robocismo” para se referir a preconceito contra robôs? e porque a cor da pele de alguém transmitiria neutralidade? Há também a confusão que se cria com a personalização da culpa e da frieza. A ideia de Zona de Combate é criar uma ideia de vilanização das ações de guerra, da interferência bélica, que não está errada, mas nem o texto e nem a direção conseguem concretizar a intenção. A coisa vai se embaralhando a medida que o filme se desenvolve. Assim como na vida, interesses e indivíduos não se confundem.

Zona de Combate

Cenas como a visita de Harp ao orfanato da resistência é muito característica da salada de contradições em que o próprio filme se perdeu. Como em um retorno forçado, abre caminho para reforçar a culpa de seu protagonista, demarcar a presença dos Estados Unidos, criar um novo embate futuro e preparar o terreno para a qualquer deturpação asimoviana que se queira fazer dali pra frente. É assim que se percebe que um filme não tem um roteiro forte de partida e que na verdade partiu de uma ideia e quer validá-la de qualquer maneira, mesmo que não tenha pontos suficientes para isso.

Mas o cinema de ação também é cheio disso, de histórias que não estão nem aí para o fato de se provarem ou não. Zona de Combate parecia ter boas intenções, assim como seu soldado robô, mas acabou morrendo na praia. Isso o invalida enquanto filme gênero? Não, pois está ali funcionando. Provoca tensão e ansiedade com seus dedos nos disparadores e contadores regressivos, com suas cenas de luta e negociações. Mas no final das contas é isso, só mais um filme de ação estadunidense com música ufanista no final.

Um grande momento
A última refém.

Fotos: Jonathan Prime / Netflix

Ver “Zona de Combate” na Netflix

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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